BCE sem surpresas com nova subida de 75 pontos base. As reações das gestoras internacionais

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Créditos: Cedida (EBC)

O BCE não surpreendeu com a nova subida das taxas de juro em 75 pontos. A taxa de juro sobre as principais operações de refinanciamento e as taxas de juro da facilidade de depósitos marginais e da facilidade de depósitos serão aumentadas para 2%, 2,25% e 1,50%, respetivamente, com efeitos a partir de 2 de novembro.

Esta subida foi ainda mais previsível do que a última, segundo Altaf Kassam, responsável de Estratégia de Investimento e Research para a EMEA na State Street Global Advisors. Isto porque os vários representantes do BCE forneceram uma foward guidance detalhada, pelo que este aumento tinha sido quase perfeitamente previsto pelos mercados.

No atual estado de incerteza, com a recessão a aproximar-se (e a probabilidade aumentou), o mantra de Lagarde, reiterado ao longo da conferência de imprensa, permanece: “Todos têm de fazer o seu trabalho. O nosso é a estabilidade dos preços”.

Entretanto, o BCE continua a responder às críticas de que ficou para trás da curva, especialmente face à Fed. E “também aos crescentes apelos para não deixar cair o euro, numa tentativa de manter sob controlo a inflação importada (especialmente os preços da energia) que a sua fraqueza em agir trouxe”, comenta Kassam.

Reunião a reunião

Olhando para o futuro próximo, segundo o especialista, o BCE vai abrandar o ritmo das subidas de taxas, aumentando apenas mais 50 pontos base em dezembro, atingindo uma taxa de depósito de 2% até ao final do ano.

Dado o consenso positivo de hoje, o principal interesse centrou-se na estratégia de saída do BCE: “O QT foi discutido nesta reunião, mas nenhuma decisão será tomada antes de dezembro e parece que as preocupações com a fragmentação e estabilidade do mercado podem ver uma implementação lenta, e só após as taxas terem atingido o seu ponto final”, continua Kassam.

A Eurotower conhece a viagem e o destino para 2023, segundo a presidente Christine Lagarde. No entanto, o número de subidas será decidido após a reunião. “Embora vejamos uma segunda subida de taxas de 75 pontos base e a recalibração dos planos do TLTRO, a retórica mais dovish e a flexibilidade nos reinvestimentos do APP e do PEPP foram uma surpresa expansionista”, segundo Michele Morra, gestor de carteiras da Moneyfarm. Como é sabido, acredita-se comummente que grande parte da inflação é atribuível ao aumento dos preços da energia. “Com esta escolha, o BCE continua a favorecer a prevenção da espiral inflacionista em detrimento do crescimento económico, mas um certo grau de flexibilidade é deixado para conter o risco de fragmentação”, continua Morra.

Anna Stupnytska, economista global da Fidelity International, concorda: “A principal notícia que surgiu hoje é que o Conselho do BCE baseará o desenvolvimento futuro das taxas de política na evolução das perspetivas para a inflação e para a economia, numa abordagem de reunião a reunião”.

No fundo, como já foi referido, continua a ser a crise energética global. “O movimento de hoje é provavelmente a última grande subida deste ciclo, seguido de subidas de taxas mais pequenas e uma pausa, ou mesmo o abandono do ajuste, mais cedo do que o esperado”, disse Stupnytska.

Alterações no TLTRO

Após o longo período de taxas negativas e as medidas adicionais de QE em vigor, de acordo com a análise de Kaspar Hense, gestor de carteiras sénior da BlueBay Asset Management, mudar de direção rapidamente não é uma tarefa fácil para o banco central. “As dificuldades técnicas relacionadas com a remuneração dos bancos nas reservas de hoje foram um ponto central. O facto de o BCE estar a alterar os termos dos programas TLTRO (targeted longer-term refinancing operations) e não se envolver em nivelar a taxa de facilidade de depósito, mas, ao mesmo tempo, apoiar as obrigações soberanas através da extensão dos reinvestimentos, parece-nos muito sensato”.