Michael Krautzberger analisa alguns dos factores que podem ter influenciado os resultados das obrigações do tesouro alemãs.
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Estando cada vez mais próxima a eminência da subida das taxas de juro nos EUA e no Reino Unido, tal como a promessa de um alívio quantitativo na Europa pela mão do BCE, começa a surgir um cenário muito distinto para os investidores de obrigações europeias. Neste contexto, torna-se muito evidente o facto da rentabilidade das obrigações alemãs a dez anos estarem a cair abaixo de 1% pela primeira vez na história, o que constitui algo notável. “É importante recordar que os baixos rendimentos na Europa não são um fenómeno novo. Os fluxos para ativos refúgio durante a crise da dívida soberana, as medidas de liquidez de emergência do banco central e mais recentemente a taxa negativa de depósitos do BCE, ocorreram durante anos, e desencorajam os rendimentos de curta duração na Alemanha (e noutros países do núcleo da Europa), avisa Michael Krautzberger, responsável de obrigações europeias da BlackRock.
Na sua análise o especialista questiona-se se o facto das obrigações terem caído de 1,9% no princípio do ano, até aos atuais 1%, reflete um indicador de deflação. “Quase dois terços da queda da rentabilidade desde janeiro responde às expectativas de crescimento mais medíocres, enquanto que um terço se refere à queda das expectativas de inflação”, clarifica. Recorda que até mesmo a Alemanha registou uma desaceleração de crescimento durante o segundo trimestre; Krautzberger entende que “esta recessão cíclica, agravada pelos riscos geopolíticos e pelo impacto das sanções à Rússia, criou riscos de perdas ainda maiores para o crescimento europeu na segunda metade do ano. No entanto, esta é uma proposição diferente da recessão total, na nossa opinião”.
Krautzberger vai mais longe e desenvolve esta última afirmação: “Apesar da Zona Euro permanecer suscetível a riscos desinflacionistas, uma deflação ao estilo do Japão não é o nosso cenário base. A acumulação de desequilíbrios externos e a diminuição da competitividade foram factores importantes durante a crise da dívida soberana. Parte do processo de cura implica ajustes relativos de preços dentro da Zona Euro”. O responsável acredita que este processo já aconteceu e está refletido na queda dos preços e dos salários dentro dos países periféricos, ainda que indique que “não é necessário ir tão longe no processo”.
Para o representante da BlackRock, a debilidade do IPC da Zona Euro explica-se, em parte, por causa desta desvalorização. Outra das razões pela quais descarta uma “japonização” da Europa é porque no caso nipónico se oferecia uma resposta monetária muito lenta, contrariamente à vontade que o BCE tem demonstrado na sua ação. “De facto, os fracos dados do PIB e a inflação, deveriam aumentar a pressão sobre o BCE para se dar uma resposta mais contundente e ajudar a restaurar o reequilíbrio”.
A estratégia da BlackRock
Então, como interpretar corretamente os mínimos históricos das bunds? Para o responsável de obrigações europeias, a baixa rentabilidade das obrigações alemãs, “sublinha a importância a dar aos gestores flexíveis na hora de alocar capital nos mercados de obrigações atuais”. Krautzberger constata que os mandatos que ignoram os índices tradicionais permitem uma alocação mais ativa, e os gestores ativos com estratégias flexíveis podem servir-se da duração e das dinâmicas dos diferenciais, de forma a gerarem retornos. O especialista explica outra das chaves de abordagem da BlackRock às obrigações: utilizar um enfoque de valor relativo, tanto nos títulos de dívida soberana, como nos de dívida governamental face à corporativa, alocando também uma importância crescente ao “papel” dos EUA e do Reino Unido.