Carlo Fassinotti (Nordea AM): “O investimento sustentável vai continuar a ser relevante para os clientes”

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Carlo Fassinotti. Créditos: Máximo García

O ano de 2022 tem sido muito difícil para os mercados e o investimento sustentável não escapou às complicações. Revemos com Carlo Fassinotti, especialista de ESG da Nordea AM, a evolução do investimento sustentável e as perspetivas a médio e longo prazo.

“Estamos muito conscientes de que para o investidor a prioridade tem sido preservar o seu capital e entendemos isso, especialmente nestes mercados. Há três problemas que temos de enfrentar: a elevada inflação, o baixo crescimento e, obviamente, a crise energética”, assinala. Apesar destes obstáculos, acredita que “o investimento sustentável vai continuar a ser relevante para os clientes, especialmente a longo prazo, devido ao papel que as empresas com quem trabalhamos e investimos vão desempenhar. Acreditamos serem as vencedoras de amanhã”.

Fassinotti afirma que foi precisamente a crise energética que levou muitos clientes a pedirem-lhes soluções. Neste sentido, destaca duas estratégias. Por um lado, a baseada no engagement com empresas que precisam de ajuda para fazer a transição para a energia limpa. As que o querem fazer, mas não sabem como. “Procuramos ajudá-las, acompanhá-las e manter um diálogo. É uma ideia a longo prazo porque podemos não vamos ver os resultados amanhã, mas sim daqui a dois ou três anos. Ajudamos com os passos que têm de dar para ser uma empresa que está a ter um impacto real no mundo”, explica. E por outro, destaca os ativos reais relacionados com a sustentabilidade, que além de oferecerem soluções para as alterações climáticas, “podem ser fontes de rendimento muito estáveis que protegem em momentos de elevada inflação”.

Regulação

A adaptação à onda regulatória também representou um esforço este ano, embora Fassinotti sublinhe que estavam preparados. “Para nós, a regulação não mudou muito a nossa forma de trabalhar. O nosso fundo Global Climate foi lançado em 2008 e, na altura, obviamente que a Nordea AM não pensava em Paris 2015 ou no Plano de Ação da UE 2018, mas estávamos convencidos da ideia de que os nossos clientes a queriam, tal como quando começámos a lançar a gama Stars em 2011”, afirma.

Para o especialista, a legislação significa, em essência, ser transparente. “Nós já tínhamos uma equipa de análise de sustentabilidade, lista de exclusões, já éramos signatários dos UNPRI, tudo isto estava já integrado e os gestores tinham essa informação dentro dos seus sistemas”, afirma. Por tudo isso, a regulação implicou “formalizar o que tínhamos, ou renomear e identificar as coisas que designávamos de forma diferente como, por exemplo, os principais impactos adversos. Já os mediamos e tínhamos em conta os GEE ou as questões de diversidade”, destaca.

Na sua opinião, podem existir casos de greenwashing por falta de conhecimento ou porque a legislação não está completamente clara, mas o que é essencial é “poder transmitir aos clientes que podem ter acesso a tudo o que vamos fazendo, é informação pública”. Além disso, este ano fizeram um esforço especial para a introdução de MiFID Verde: “a minha equipa ministrou cursos para bancos na Espanha, Alemanha e Itália. Trata-se de ajudar os assessores a entender o que é a regulação e como nos vai afetar”. 

Engagement eficaz

A Nordea AM teve mais de mil diálogos com empresas em 2021. Sobre a sua eficácia, Fassinotti sugere o caso de Vung Ang, um projeto de uma central térmica a carvão no Vietname. “Contactámos as empresas financiadoras, as proprietárias e as contratantes. Lamentavelmente, este projeto em concreto não foi desativado, mas essas empresas comprometeram-se a, no futuro, não participar em projetos deste género”, assinala. “O sucesso deste diálogo levou-nos a ser convocados pelo Congresso da Coreia do Sul para explicar esta iniciativa”, acrescenta. Também destaca o caso da Excel Energy, empresa energética americana, que em colaboração com outras gestoras, foi convencida a adotar o objetivo de zero emissões para 2030.

“Estamos muito conscientes que depois de uma reunião não vamos ter um sucesso imediato. Mas acreditamos que muitas destas empresas querem mudar. Queremos dar também resposta aos clientes que estão a procurar a próxima frente de investimento dentro das alterações climáticas através do diálogo, porque o mercado acabará por os recompensar, desde que faça sentido do ponto de vista económico”, conclui.