CMVM aponta ausência de conhecimento da indústria sobre finanças sustentáveis e greenwashing como riscos ESG para 2022

sustentabildade fundos sustentáveis esg artigo 8
Créditos: Anders M Jacobsen (Unsplash)

Coerente com o que já tinha mencionado e previsto para 2021, a CMVM voltou a dar uma grande importância aos riscos ESG para o ano que agora começou. No seu Risk Outlook 2022, são então três os principais riscos identificados para 2022: risco de mercado, os riscos associados à digitalização e os riscos ESG.

O risco ESG e o de digitalização, são classificados como crescentes em 2022, depois de no ano passado merecerem da CMVM a menção de risco elevado. Este ano, precisamente o risco ESG será um dos temas que recebe palavras fortes da CMVM, nomeadamente sobre pontos como o greenwashing ou até o conhecimento da indústria financeira sobre a temática.

Fonte: CMVM

Ações, inflação e taxas de juro

Os riscos de mercado parecem ser os mais óbvios de identificar. A CMVM releva por exemplo que "os preços relativos das ações encontram-se em níveis historicamente elevados, havendo segmentos deste mercado com indícios de alguma exuberância".

A inflação, claro, também é apontada. Para o regulador, "o aumento das expetativas inflacionistas poderá conduzir a uma atuação antecipada das autoridades monetárias, com as taxas de juro a subirem mais depressa do que o previsto". Consequentemente, dizem, "o eventual aumento da inflação e das taxas de juro poderá desacelerar o ritmo de ganhos no mercado acionista, e a excessiva alavancagem de alguns investidores poderá exacerbar possíveis correções dos preços das ações".

Digitalização: o risco dos criptoativos no sistema

O risco da digitalização que a CMVM também enumera, está na perspetiva do regulador muito ligado ao crescimento da atividade financeira online, despoletado pelo surgimento da COVID-19. "As novas tecnologias têm um enorme potencial na limitação de alguns riscos, mas existe o risco de os operadores não adaptarem os seus modelos de negócio à digitalização, o que pode colocar em causa a sua própria sobrevivência".

Também o período pandémico foi para a CMVM responsável por outra situação. Dizem que "intensificou a perceção coletiva de outros riscos que poderão afetar a solidez do setor financeiro no futuro, designadamente os riscos de intermediação financeira não autorizada, da oferta de instrumentos para investidores menos sofisticados e com poucos conhecimentos financeiros e de disseminação de informação inexata".

Por fim, as criptomoedas aparecem referidas como ligadas ao risco de digitalização. "Ativos alternativos como os criptoativos têm vindo a aumentar a sua relevância, o que poderá originar novas fontes de risco para o sistema financeiro", avisam. Embora sublinhem que os investidores institucionais ainda têm um montante reduzido alocado a estes ativos, existe uma tendência crescente. Para o regulador, isso poderá "aumentar as interligações com outros mercados e instituições financeiras sistémicas".

Risco ESG: efeitos nos mercados e na economia

Finalmente, aparecem as palavras da CMVM dedicadas ao riscos ESG. O regulador começa por vincar irreversibilidade que estes riscos podem acarretar. Por exemplo, se em 2020 se assistiu a uma "diminuição
das externalidades provocadas no ambiente", em 2021 os dados sugerem "a existência de um aumento dessas externalidades". Uma alteração que tem efeitos potencialmente irreversíveis no impacto negativo dos sistemas naturais, e que terá "efeitos negativos nos mercados financeiros, na economia real e na sociedade".

Simultaneamente, "os impactos da inação humana na transição para uma economia sustentável serão sentidos no preço da energia, mas também nos preços e na disponibilidade de matérias-primas e de bens de produção, limitando o crescimento económico e contribuindo para taxas de inflação superiores às registadas nas últimas duas décadas, o que terá impacto não despiciente no desempenho dos mercados financeiros e na economia real".

Greewashing difícil de eliminar

Tal como tinha feito um ano antes nas perspetivas de risco para 2021, o greenwashing voltou a ser apontado para 2022. Neste caso, como "um dos principais riscos ESG nos mercados financeiros". A CMVM é concreta: "Não é fácil eliminar completamente este risco". A esse nível, vai ao encontro do muito se ouve na própria indústria financeira sobre a indefinição da regulamentação. "Apesar de entidades de grande dimensão com valores mobiliários admitidos à negociação, bem como bancos e seguradoras de grande dimensão, já estarem obrigadas a divulgar informação não financeira, o modo de divulgação dessa informação não está ainda padronizado".

Admitem mesmo que embora tenha sido adiada para 1 de janeiro de 2023 a aplicação das normas técnicas da SFDR e do Regulamento da Taxonomia, tal adiamento "não permite uma mitigação dos riscos de greenwashing tão
célere quanto o desejável".

Contudo, este não é o último reparo sobre o tema. A CMVM entende que existe uma "ausência de conhecimento sobre finanças sustentáveis", e em várias frentes. "Quer sejam os consumidores de produtos e serviços financeiros, quer sejam as entidades financeiras que disponibilizam produtos e serviços financeiros sustentáveis, existe evidência de lacunas no conhecimento e na operacionalização dos elementos ESG nas decisões financeiras".