Como as gestoras internacionais estão a adaptar o seu modelo de negócio ao novo contexto de concorrência no mercado?

viktor-kern-68940-unsplash
Photo by Viktor Kern on Unsplash

A expressão “renovar ou morrer” pode ser um cliché, mas continua a ser correta quando aplicada, atualmente, à indústria de gestão de ativos. A entrada em vigor do MiFID II acelerou esse processo de renovação, ao forçar as gestoras a repensar os seus modelos de negócio e de distribuição e determinar em que se podem diferenciar da concorrência. A última novidade vem da Allianz Global Investors, que está a apresentar a sua nova marca e identidade visual, sob o slogan “Active is”.

Andreas Utermann, diretor executivo da Allianz Global Investors, explica que o novo posicionamento deverá ajudar a diferenciar a gestora da sua concorrência no terreno da gestão ativa: “Enquanto algumas empresas se posicionam como líderes na tecnologia e outras estão focadas na distribuição, a Allianz Global Investors sabe que é uma empresa de investimento, centrada na performance e na geração de valor”, acrescenta Utermann.

A empresa está, atualmente, a realizar um roadshow interno entre os seus mais de 2.000 funcionários em 14 cidades de todo o mundo. “O ser ativo impregna tudo o que fazemos: a escuta ativa, a consultoria ativa, a participação ativa, a gestão ativa, o investimento ativo e a partilha ativa”, acrescenta Thorsten Heymann, diretor global de estratégia da Allianz Global Investors. A empresa tomou a decisão de explicar esta mudança aos seus funcionários – embora já tenha começado a utilizar a nova imagem de marca em diversas ocasiões de marketing – para poder envolver todo o pessoal no novo posicionamento. “Estamos a investir para que os nossos funcionários sejam os nossos melhores embaixadores de marca”, explica Heymann.

“Enquanto a promessa da maioria das empresas se reduz a “confiem em nós, somos muito grandes e muito bons naquilo que fazemos” ou “confiem em nós, se investir connosco pode ter uma boa vida”; a nossa proposta sublinha o nosso compromisso de assumir a responsabilidade conjunta ao abordar os desafios dos clientes”, acrescenta o diretor executivo.

A mudança de marca é o culminar de várias medidas que a empresa alemã tomou nos últimos meses, como, por exemplo, a integração da Allianz Capital Partners (ACP) para reforçar a oferta em alternativos, ou o desenvolvimento do Global Proxy Voting Overview, um website que pretende funcionar como uma ferramenta para o ativismo, ao reconhecer todas as ações de proxy voting e propostas ESG da empresa nas empresas em que investe. Não obstante, a decisão mais significativa que a Allianz Global Investors tomou nos últimos doze meses foi a introdução de um modelo de comissionamento revolucionário com o qual pretende premiar a gestão ativa. Estas comissões estão a ser aplicadas de momento, nos Estados Unidos e no Reino Unido (ler mais).

Contudo, a empresa alemã não está sozinha nesta frente. Outra empresa que dedicou grandes esforços para comunicar o seu novo sistema de comissionamento é a Fidelity, ao apresentar à sociedade o seu modelo de Comissão de Gestão Variável (ler mais). A Fidelity acompanhou esta decisão com uma remodelação do seu pessoal: nos últimos meses anunciou nomeações importantes nos altos escalões da sua estrutura, como a saída de Dominic Rossi (antigo diretor de investimentos de ações) ao expirar o seu mandato, sendo substituído por Romain Boscher; a contratação de Hugh Prendergast para um cargo recentemente criado, o de Responsável Global de Produto; a recente nomeação de Antonio Salido como novo Responsável de Supervisão de Marca.

Duas apostas diferentes

Outros dois exemplos significativos de como as empresas vão, pouco a pouco, transformando os seus modelos de negócio foram os que a BlackRock e a Natixis IM registaram, que representam duas formas distintas de compreensão do negócio de gestão de ativos.

No caso da BlackRock, a transformação já está em prática há três anos, e afetou vários dos pontos chave da sua estrutura colossal, que gere 6,3 biliões de dólares de investidores de todo o mundo. Essencialmente, a transformação baseou-se em três pilares: o uso da tecnologia (com um investimento ambicioso na sua plataforma, Aladdin), a procura de colaborações entre a divisão de gestão ativa e a divisão de gestão passiva (guiada pela filosofia de ser ativo com os passivos) e entre a gestão baseada em fundamentais e a gestão quantitativa (ler mais), e a defesa de uma nova forma de perceber a diversificação em carteira.

Tal como contava recentemente à Funds People Daniel Gamba, responsável da divisão de ações ativas da BlackRock, a entidade reorganizou esta área para poder desenhar uma gama de estratégias com graus de convicção diferentes e comissões ad hoc para oferecer valor acrescentado aos clientes: fundos indexados, fundos sistemáticos, fundos fundamentais de alta convicção e alternativos. "A nossa abordagem é combinar o talento com a tecnologia de ponta e muita disciplina na gestão de riscos. Essa é a nossa proposta de valor”, indicava Gamba.

No caso da Natixis IM – que mudou a sua marca, uma vez que, até ao final do ano passado se chamava Natixis Global AM –, a aposta foi decidida e a favor da gestão ativa como o centro de tudo. Isto explica as últimas aquisições da empresa, ao incorporar ao seu modelo multiboutique nos últimos três anos, empresas conhecidas por um estilo de gestão muito ativo e orientado para o retorno absoluto, como a H2O ou a DNCA, ou empresas que lhes permitam reforçar a sua divisão de gestão alternativa, como a recém integrada MV Credit, especialista em dívida privada.

Também foi importante nesta sequência, a mudança total de marca e estratégia da antiga NAM – a primeira gestora de fundos do grupo -, que a partir deste ano passou a chamar-se de Ostrum AM. O seu diretor executivo, Matt Duncan, contava recentemente à Funds People que a estratégia da empresa se vai focar naquelas áreas de mercado onde possa gerar maior valor acrescentado com a sua experiência – especialmente nas obrigações -, embora também estejam a realizar investimentos ambiciosos em tecnologia, mais concretamente na aplicação de blockchain à alocação de fundos, onde foram pioneiros ao efetuar a primeira transação de um fundo real com dinheiro real de clientes do mundo, que celebra agora um ano.

Bem-vindos à gestão passiva

Existe uma terceira categoria de gestoras em função dos seus esforços para se adaptarem à passagem dos tempos: as gestoras ativas que começaram a incorporar produtos de gestão passiva para a sua gama. A última a incorporar-se à tendência foi a Goldman Sachs AM, que recentemente anunciou que irá construir uma plataforma de ETFs na Europa.

Outras duas entradas famosas no mundo da gestão indexada foram as protagonizadas no último ano e meio pela Fidelity (que também se lançou na guerra de comissões neste âmbito) e a J.P. Morgan AM. Na sua primeira apresentação de ETFs em Espanha, Javier Dorado, diretor geral para a Península Ibérica, afirmava que um dos objetivos da empresa é desmistificar a perceção de que “os ETFs são iguais à gestão passiva”.

A última empresa na lista é a Invesco, que nos últimos dois anos embarcou numa ambiciosa remodelação da sua divisão de gestão passiva: adquiriu os fornecedores Source e Guggenheim, e recentemente prescindiu da sua marca PowerShares para unificar todo o negócio sob a marca Invesco.