“Depois de três anos de expansão dos múltiplos, o crescimento do Lucro por Ação (LPA) deveria ser um motor para as ações”, afirma Monica Defend. Na gestora sobreponderam ações e esperam um crescimento de 13% do LPA da Zona Euro.
Este ano apresenta-se de forma complicada, como poucos: a queda dos preços das matérias-primas, os conflitos geopolíticos, a ameaça de deflação na Europa e a debilidade de alguns dos principais mercados emergentes são apenas alguns dos problemas com que os investidores vão ter de lidar. Monica Defend, diretora de alocação de activos da Pioneer Investments, explica os elementos que articulam a visão estratégica da entidade para 2015 e as posições que estão a tomar para gerar alfa.
O primeiro dos pontos que a entidade vai prestar atenção este ano é a evolução do petróleo, tanto a partir de uma visão macro como bottom up, dado que Monica Defend afirma que a queda dos preços se vai traduzir numa importante revisão dos lucros. Com o período de resultados quase a começar, a especialista alerta que os lucros por ação (LPA) vão ser a chave. “Depois de três anos de expansão de múltiplos, o crescimento do LPA deverá ser o motor para as ações”, afirma. Na entidade também vão estar pendentes da revisão do LPA das entidades do sector petrolífero, pelo seu possível impacto em dívida high yield e nos spreads, que consideram ser “um sinal de alerta”.
A diretora de alocação de ativos resume o segundo ponto de interesse como o domínio do ciclo por parte dos bancos centrais, que considera essencial para entender as dinâmicas que podem detetar-se nas obrigações. A especialista defende que a Zona Euro não se está a mover para uma japonização e para sustentar esta afirmação aponta quatro diferenças significativas. A primeira, a diferente composição dos sectores que apoiam o crescimento de cada economia. A segunda têm a ver com as políticas monetárias: “O BCE foi muito reativo”, sublinha. A terceira diferença têm a ver com os ajustes salariais, que no Japão foram mais profundo do que se viu (em termos médios) na Zona Euro, pelo que da entidade não detetam o adiamento de decisões de compras em território europeu. Finalmente, a última diferença têm a ver com o processo de desalavancagem.
Posicionamento da Pionner
Monica Defend explica que, com base nestas e noutras observações, a entidade optou por sobreponderar ações europeias, japonesas, chinesas e indianas, mas com cobertura para limitar os riscos de queda. Tendo em conta que confiam que os LPA guiem os mercados este ano, calculam que os lucros possam crescer até 13% na Zona Euro, 8% nos EUA e 6% nos países emergentes. Também estimam uma subida de dois dígitos (cerca de 10%) para os para as bolsas europeias e entre 7% a 9% no caso norte-americano.
Em relação às obrigações, ao considerar que as dinâmicas de oferta e procura vão estar dominadas pelos bancos centrais, estão a trabalhar com a tese de que nos próximos meses haverá excesso de procura nesta classe de ativos, o que arrasta duas derivadas: a primeira, que vai ser muito difícil jogar com estratégias de curta duração; a segunda, que se vá produzir uma compressão na parte mais larga da curva, pelo que optaram por estar neutrais com as curvas europeias e jogar com o achatamento da curva norte-americana.
A especialista explica que há uma preferência, embora relativa, de dívida investment grade europeia contra a dos EUA devido ao ciclo de desalavancagem que se inicia na Europa. A partir da entidade consideram que ao longo deste ano vai ser mais difícil investir em obrigações com estratégias mais tradicionais, pelo que vão dar mais enfâse às estratégias de valor relativo, desenvolvendo pares e estando longos a partir da periferia e curtos na Alemanha ou cíclicos.
Em moedas, estão longos em dólares contra euros e ienes e estão a explorar as probabilidades do mercado de moeda nórdico. A falta de recalibrar o impacto do EAPP (Expanded Asset Purchase Program, nome oficial do QE do BCE), na gestora estão a trabalhar com o cálculo preliminar de que o euro vai ficar a valer 1,18 dólares e descartam que o Euro se deprecia tanto a ponto de ficar em paridade com o dólar, já que a FED poderá intervir se considerar essa situação uma ameaça para o PIB dos EUA.