Conclusões sobre os dados do débil crescimento europeu registado no segundo trimestre

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supersteen, Flickr, Creative Commons

Os dados de crescimento da zona euro publicados na semana passada deixam claras duas questões: que as economias da união monetária estão a crescer, sim, mas fazem-no a um ritmo mais lento do que seria esperado, tendo em conta os diversos factores de impulso que apoiam a economia europeia, como as baixas taxas de juro, a abundante liquidez gerada pelo programa de expansão quantitativa do BCE, a depreciação do euro e os menores custos da energia.

Face à expansão de 0,3% registada no segundo trimestre, esta ficou abaixo dos dados do primeiro trimestre (0,4%) e das previsões do consenso (0,4%). Azad Zangana, economista sénior europeu da Schroders considera que “dadas as preocupações sobre a Grécia durante o período, estas últimas informações mostram uma recuperação sólida e constante”. Na verdade, da entidade inglesa antecipam “uma aceleração no segundo semestre do ano, porque a debilidade do preço do petróleo aumenta o poder de compra das famílias”.

Relativamente à desaceleração do universo emergente, e em concreto da China, o especialista reconhece que “poderá ter impacto no investimento na Alemanha, Holanda e Áustria, três países cujo crescimento tem decepcionado no segundo trimestre”. Mas acredita que a debilidade dos mercados emergentes será compensada por um crescimento mais robusto nos Estados Unidos.

Philippe Waetcher economista chefe da Natixis AM (filial da Natixis Global AM), vê uma clara relação entre as políticas de austeridade – fiscal e monetária – aplicadas na Zona Euro e o débil crescimento registado nos últimos anos. “A recuperação observada desde a recessão de 2011-2012 não foi explosiva. O crescimento médio anual desde o final do primeiro trimestre de 2011 tem sido de apenas 0,2%, e a recuperação apresenta uma tendência de 1% desde o primeiro trimestre de  2013 (ver gráfico).

Ainda assim Waetcher vê como possível que a região alcance uma taxa de crescimento de 1,5% em 2015, que em qualquer caso não terá porque afectar a política monetária do BCE. “O perfil do PIB manterá a débil tendência observada desde o início de 2013”, explica o especialista. “O preço mais baixo do petróleo apoiará o gasto do consumo, o que limitará o risco de um aumento da inflação. Por isso, o BCE modificará a sua estratégia de curto prazo”.

Perigo de uma nova recessão

No entanto, até um apoio do BCE resultaria insuficiente perante uma nova recessão. Para além disso a debilidade do crescimento na Zona Euro gera dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida acumulada pelos Estados membros, sobretudo pelos países periféricos. “No seu estado atual e sem reformas, Portugal e Itália poderão não sobreviver a outra crise como a da quebra do banco de investimentos Lehman”, avisa Patrick Zweifel, economista chefe da Pictet Asset Management. “Espanha – um dos países da Zona Euro que mais cresceu no segundo trimestre – está numa melhor posição, mas não pode considerar de forma ligeira a melhoria na dinâmica da sua dívida. Estes países encontram-se na parte superior do nosso índice de vulnerabilidade soberana global, com pelo menos um ponto débil evidente nos seus balanços”.

Segundo os cálculos da gestora suíça, “Itália tem que crescer nominalmente 1,4% por ano nos próximos cinco anos para estabilizar a sua dívida em 136%, enquanto que Espanha e Portugal devem crescer 1,3% e 3,4% respetivamente. A cinco anos este cenário parece realista embora possa exigir mais austeridade e reformas estruturais. “O problema, como assinala Zweifel, é que este cenário assume que nos próximos cinco anos não haverá crise financeira. “Em média as recessões acontecem a cada seis anos na Europa e, se se repetirem na Zona Euro, as "partes" mais débeis não terão suficiente munição fiscal, pois a sua dívida já é demasiado alta para aumentar o gasto público.

Na opinião do especialista, a solução radicaria em aprofundar as relações fiscais entre Estados Membros mediante a “combinação das obrigações dos países em eurobonds, a  transferência de fundos públicos de países com superávit para aqueles com défice, e o estabelecimento de um seguro de emprego para toda a Zona Euro”.