No ano passado, a correlação positiva fez-se sentir nas carteiras dos investidores. O que é? Como se calcula? Porque é tão importante tê-la em conta na hora de diversificar a carteira de investimento? Explicamos tudono Glossário da FundsPeople.
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Na hora de realizar a alocação de ativos de uma carteira de investimentos, é importante, dependendo do nível de risco do investidor, efetuar uma análise da volatilidade que estamos dispostos a assumir e os retornos que esperamos obter do investimento. É nesta altura que o termo correlação surge. A correlação não é mais do que uma medida estatística que proporciona informação sobre a extensão em que duas variáveis (por exemplo, os preços das ações, os preços das obrigações, fundos, etc.) se movimentam uma em relação à outra num determinado período. Por que é tão importante ter em conta esta medida na hora de realizar a alocação de ativos da carteira de investimento? Explicamos o conceito neste artigo.
Como se calcula a correlação?
O coeficiente de correlação de Pearson é uma fórmula estatística que mede a relação entre duas variáveis, neste caso, entre dois ativos. Indica quão associadas as variáveis se encontram entre si. Oscila entre 1 e -1.
Tipos de correlação
- Um coeficiente de correlação negativo indica que duas series temporais estão negativamente correlacionadas entre si durante um período considerado. Se uma variável sobe, a outra desce e vice-versa.
- Um coeficiente de correlação positivo indica que as variáveis temporais estão correlacionadas positivamente entre si. Movem-se em uníssono. Se uma sobe, a outra também.
- Um coeficiente de correlação 0 indica que as duas variáveis temporais estudadas não têm nenhuma relação entre si num período determinado.
É importante assinalar que o coeficiente de correlação apenas faz uma afirmação sobre a relação histórica (estatística) entre duas series temporais. Não se pode fazer nenhuma afirmação causal sobre a relação entre duas series temporais com base no coeficiente de correlação.
Como mencionado em cima, os coeficientes de correlação entre classes de ativos são importantes na hora de estruturar uma carteira de investimentos. Uma vez que “se conseguir diversificar entre classes de ativos que não estejam altamente correlacionadas, poderá reduzir a volatilidade da sua carteira”, explica o SelfBank no seu blog.
As correlações não são perpétuas
Tentar controlar a volatilidade dos investimentos para a maioria dos investidores significa um menor risco. Embora desta forma nem todos os ativos da carteira subam ao mesmo tempo, provavelmente assegurará que também não caiam ao mesmo tempo. Em suma, irá diversificar os investimentos. Não obstante, também “se deve ter presente que as correlações mudam com o tempo, sendo necessário monitorizar a sua evolução e como afetam o seu perfil de risco”, salienta o banco.
Sem ir mais longe, 2022 não foi um ano positivo para nenhuma classe de ativos. As tradicionais correlações não funcionaram. Jaime Raga, CRM sénior da UBS AM Iberia, analisa o comportamento das ações e obrigações durante grande parte dos últimos 25 anos. Ambos os ativos tiveram uma correlação negativa, com os investidores a beneficiar da mesma.
No entanto, a elevada inflação e as agressivas políticas de endurecimentos dos bancos centrais submeteram os mercados financeiros a uma significativa pressão em 2022. Os investidores não têm tido onde se refugiar. A correlação entre estas duas classes de ativos tornou-se positiva. Explica que numa carteira modelo 60/40 “houve apenas cinco anos civis em que a rentabilidade anual desta estrutura de carteira tradicional foi pior e, além da crise financeira mundial de 2008, todos foram há mais de 80 anos”. (Ver gráfico)
Outros exemplos de correlações negativas tradicionais
Além das ações e obrigações, também há outras classes de ativos que, tradicionalmente, têm sido negativas. A ING assinalam a dupla ouro e dólar. O metal precioso é considerado um ativo refúgio e é frequentemente utilizado para diversificar fundos com uma elevada percentagem de ações. Quando o dinheiro foge da bolsa, este padrão é um dos primeiros ativos a recebê-lo e, por isso, a sua correlação é negativa. Por esta razão, salientam no seu blog que “uma das correlações mais conhecidas nos mercados financeiros têm o ouro e o dólar como protagonistas, uma vez que quando a cotação desta divisa sobe, a do ouro baixa”. Também mencionam o petróleo e o dólar, embora isto esteja a acontecer cada vez com menos frequência.
Também existem correlações positivas que foram tradicionalmente observadas entre a bolsa norte-americana e os principais mercados europeus. Quando o mercado norte-americano sobe ou baixa, arrasta os restantes mercados mundiais, especialmente os do velho continente.
Volatilidade vs. rentabilidade
No fim, tudo é uma questão de quanto risco se está disposto a assumir. Uma carteira com ativos pouco correlacionados irá ajudar a amortizar épocas turbulentas nos mercados. Visto que enquanto alguns ativos podem estar a cair, outros podem estar a ajudar a manter o valor do investimento.
No entanto, essa carteira não terá retornos muito elevados, uma vez que nem todos os ativos que a compõem irão ver o seu valor aumentar ao mesmo tempo.