Depois de termos abordado as oportunidades que ainda existem no setor tecnológico e percebido como as taxas de juro podem afetar - ou não - as ações deste setor, num encontro promovido pela empresa nórdica DNB AM em parceria com a FundsPeople, houve ainda tempo para olhar para exemplos concretos de investimento, dentro deste mundo tão vasto. Três profissionais nacionais e o representante da gestora nórdica, analisaram ainda quais os ventos a favor do investimento em ações - e em particular as tecnológicas.
Da Microsoft à Apple: uma volta ao futuro na tecnologia
Para o responsável da DNB Asset Management, o investimento no longo prazo é o que deve prevalecer quando se investe, e a tecnologia é um exemplo de longo prazo por excelência. “O setor tem muitas empresas boas que são maus investimentos se se pagar demasiado caro. O setor de tecnologia cresce mais rápido do que a economia de uma maneira geral”, começou por referir Mikko Ripatti, lembrando que, por isso, o setor em causa é precisamente o ideal para quem tem esse mindset de longo prazo.
Embora 10 anos seja um prazo ambicioso para olhar para a tecnologia, a cinco anos o especialista consegue apontar o nome de uma empresa que lhe faz muito sentido continuar a apostar no futuro. “Estamos muito positivos na Microsoft, dentro dos grandes nomes deste setor. Acho que é um bom candidato para beneficiar da Inteligência Artificial, integrando o tema nas várias áreas de negócio. Pode beneficiar muito, mesmo, desta área. É uma empresa que tem demonstrado durante décadas que consegue mudar e aproveitar os negócios”, atesta. Contudo, avisa: “Cinco anos continua a ser muito tempo para se prever algo sobre tecnologia”.
1/4Na mesma linha de pensamento de Mikko Ripatti, Raul Afonso acredita que o investimento em ações tem de ser pensado, sempre, a mais longo prazo. Contudo, no que diz respeito ao impacto das taxas de juro no comportamento do setor, recorda que em 2022 tudo aconteceu fora do que seria esperado. “O consenso estimava que no final de 2022 a Fed acabasse com a fed funds rate em 0,8%, e acabou em 4,5%. Várias questões fizeram com que o ano fosse difícil de navegar, fazendo com que muito do ajuste tivesse sido feito ao longo do ano, e os mercados estão agora mais apetecíveis, devido a toda a estabilidade que se foi conseguindo. Já pouco interessa se a taxa de juro é de 4,5% ou 5%, pois já se sabe mais ou menos os efeitos e qual o valor a incorporar”, começou por relatar o profissional do MFO Multi Family Office.
Explicando que a descida de volatilidade e uma inflação mais controlada trouxeram mais estabilidade ao sistema, o profissional acredita, por conseguinte, que as ações têm reunidas as condições para se saírem bem. Partilhando o positivismo com o anterior colega de mesa, Raul Afonso encara a Microsoft como um bom investimento no futuro próximo, mas também a Apple, “que continua a ter um grande poder de mercado”, e que sobreviveu ao conflito entre China e EUA, saindo até rejuvenescida com o ganho de quota de mercado face à rival Huawei.
2/4Para o profissional da Sixty Degrees, o investimento em ações faz sentido, muito embora o “ponto ideal não tenha sido ainda alcançado”. “Ainda não existe uma verdadeira recuperação across the board nas ações”, diz mesmo. Nuno Sousa Pereira acredita que tanto o difícil contexto geopolítico, como a adaptação à subida de taxas de juro, pode “ainda ter muitos efeitos na parte do consumo”. Assim que houver uma conversão desses fatores negativos para fatores positivos, acredita, aí, sim, haverá um trigger para entrar verdadeiramente em ações. Fator que pode acontecer, por exemplo, “com um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia”, ou “um desagravamento da guerra entre a China e EUA”.
Concretamente sobre a tecnologia, tal como os antecessores colegas, acredita que “numa lógica de comprar e manter a ação durante muito tempo”, uma das duas empresas mencionadas faz sentido seguir. Contudo, setorialmente, adiciona outras ideias, que na sua perspetiva irão crescer num futuro próximo. A cibersegurança é um desses exemplos. “Os dados vão começar a ser protegidos pelas pessoas e pelos países, porque do outro lado da fação estão a ser testados vários modelos de IA que bebem desses dados”, suporta. Aponta ainda a questão da robótica. “Conjugando a robótica com a inteligência artificial generativa e o speech IA, vai começar a haver uma mais fácil adaptação da robótica e mais eficiência no processo industrial, no mundo ocidental”, concluiu.
3/4Para Vítor Ribeiro, a alocação a ações é um sim ou sim e, por isso, não há, na sua perspetiva, um “regresso ao tema das ações”. O reforço do investimento em ações, por outro lado, é sim uma questão que já depende de mais nuances. O profissional da Future Proof acredita que há três ou quatro fatores, também já mencionados, muito relevantes nesse reforço: “A questão geopolítica; a volatilidade macro - que acho que teremos muita no futuro - ou a integração do setor tecnológico com as outras indústrias”, refere. Na sua perspetiva, “as empresas que conseguirão sobreviver e viver nestes ambientes, também serão vencedoras”.
Aludindo mais uma vez a nomes já mencionados no setor tecnológico, o profissional reforçou o histórico da Microsoft. “Tem praticamente 50 anos e já passou por tantas crises geopolíticas, muitas falhas, etc., e continua aqui, e a entregar resultados. É uma empresa que vejo com muito futuro e muito integrada noutros setores”, prevê. Em termos de contributo para o processo de globalização, Vítor Ribeiro acredita que as empresas do setor também podem ter um papel interessante, e a Microsoft é uma delas.
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