Azad Zangana diz que "o BCE encontrou a arma, mas falta-lhe a munição". Este e outros profissionais do sector, Rui Broega, Paulo Guerreiro e Javier Flores comentam o esperado programa de compra de dívida pública, mas questionam as condições.
As medidas anunciadas pelo BCE, esta quinta-feira, aclaram e confirmam uma intervenção posta em dúvida a inícios de Agosto. Se em 26 de Julho Draghi deu a entender que o BCE poderia voltar a intervir no mercado de dívida pública, a 2 de Agosto ficou a conhecer-se a oposição dos representantes alemães e se aumenta a exigência no pedido de resgate prévio por parte dos países com problemas. Estas condições mantêm-se agora, apesar da luz verde dada ao programa de compra de dívida pública.
Rui Broega, director da gestão de activos do Banco BiG, considera não terem havido surpresas no discurso do Presidente do BCE, salientando que "a maior surpresa foi mesma a manutenção das taxas de juro nos 0,75%". Javier Flores, da 'Asinver Investment Group' considera que "Draghi cumpre o prometido mas não haverá mais detalhes sem o próximo passo, que cabe agora aos países com dificuldades. Haverá condições e espera-se que chegue (nomeadamente) o pedido de resgate de Espanha antes dos próximos avanços". Paulo Guerreiro, director executivo de acções europeias no BESI, considera que a reunião do BCE foi "melhor do que o esperado, como é amplamente demonstrado pela reacção dos mercados", destacando a confirmação do programa como "um passo importante para a Europa ultrapassar o seu problema com a emissão e o preço da dívida pública. Falta o relançamento do crescimento económico". Azad Zangana, economista para a Europa da Schroders que refere que "o BCE deu mais um passo na direcção certa, mas está ainda um pouco longe de remover totalmente os riscos que os investidores temem. Embora o BCE tenha encontrado a grande arma na compra de títulos, fica a faltar a munição para criar um impacto duradouro positivo nos mercados".
O BCE "intervirá no mercado comprando títulos de divida com maturidades até aos três anos, sem haver, para já, um montante limite definido", diz Rui Broega, ao que Paulo Guerreiro acrescenta que "o programa ser ilimitado, estava longe de ser um dado adquirido".
Com a referência aos colaterais, o BCE elimina a condição de ter um rating mínimo para comprar emissões de obrigações com garantia do Estado e aceita a dívida denominada em qualquer divisa. A ideia é esterilizar as compras, o que significa que irá retirar do sistema cada euro que se destine à compra de dívida, para evitar criar dinheiro novo e colocar em perigo os objectivos de inflação.
"Não é real e é simplesmente uma forma de mascarar as contas para evitar que os críticos falem de uma monetização do défice público. Desde 2010, o balanço do BCE inflacionou-se em mais de 35% devido principalmente às injecções de liquidez para os bancos", comenta a Asinver.
Outro ponto chave das declarações do BCE é a eliminação da senioridade ou preferência perante outros credores, que influenciam negativamente os mercados. Na opinião de Paulo Guerreiro, do Besi, esta decisão era esperada mas não tida como certa.
"Agora o BCE encontrou uma fórmula razoável entre a sua exposição a perdas e a eficiência das suas intervenções. A solução mais simples, ao renunciar a prioridade na cobrança, é centrar-se nas intervenções em prazos curtos, ou seja, os que podem ficar menos afectados no caso de problemas de não pagamento ou reestruturação de dívida por algum dos governos", comenta Javier Flores. Já o economista da Schroders refere, ainda, que "a decisão de vincular as compras aos países com programas de ajuda o bail-out reduz o risco moral, que os Estados membros que recebem ajuda, decidam abandonar as reformas fiscais e estruturais".