Descida da taxa de juro pelo BCE sem impacto significativo na economia

DaveLevy
DaveLevy, Flickr, Creative Commons

O corte da taxa de juro de referência anunciado ontem pelo Banco Central Europeu, (BCE) para 0,5%, já era aguardada pelo mercado e, de acordo com intervenientes neste, mostra preocupação face aos últimos dados macro conhecidos para a região, mas não terá grande impacto na economia.
A decisão tomada relativamente às taxas de juro directoras mostra “uma preocupação significativa do banco central relativamente aos mais recentes dados de actividade económica da Zona Euro”, no entanto, com uma taxa de inflação “confortavelmente abaixo do limite máximo de 2%, estas medidas são, no entanto, mais simbólicas que outra coisa”, referiu Diogo Serras Lopes, director de investimentos do Banco Best, à Funds People Portugal.
Também Azad Zangana, economista da Schroders para a Europa, considera que o corte do BCE para 0,50% “não terá um impacto significativo na economia”, porque, apesar de os bancos que dependem do BCE "irem beneficiar de uma redução dos custos de financiamento" é "improvável que fiquem em posição de aumentar os empréstimos e desse modo não irão passar o corte da taxa para as famílias e empresas".
Zangana diz ainda que a descida nas taxas de juro directoras “é uma ajuda marginal, mas incapaz de resolver os problemas fundamentais da Europa, que estão a pesar sobre a economia”. E lembra que os indicadores avançados da actividade económica dos últimos dois meses sugeriram que a recessão na Zona Euro poderá acentuar-se nos segundo e terceiro trimestres deste ano.
Em destaque da conferência de imprensa após a reunião do banco central surge a admissão da possibilidade de taxas de juro negativas nos depósitos do sistema financeiro no BCE (actualmente com uma taxa de 0%), refere Diogo Serras Lopes. É "uma novidade e mostra que existe uma preocupação real por parte do banco central relativamente à baixa velocidade de circulação de moeda", ou seja, de crédito concedido. "Começa a ser claro que, a fraca vontade do sistema financeiro em conceder crédito, resulta de perspectivas económicas negativas por parte dos diversos actores envolvidos, o que também é visível na fraca procura por crédito por parte destes". Neste sentido, sublinha, a política monetária convencional "não se afigura particularmente eficaz, num contexto em que a continuação de medidas orçamentais restritivas não ajuda à recuperação da actividade económica".
 O economista da Schroders destaca também o sinal dado pelo BCE, referindo que o facto de este considerar taxas de juro negativas nos depósitos "é útil em incitar os bancos a realocar o capital a áreas mais produtivas da economia", e refere ainda como um dos comentários mais significativos feitos o sinal que a principal taxa "poderá ainda ser mais reduzida".

Impacto nos periféricos

Quanto ao impacto em países como Portugal do corte em 25 pontos base, Diogo Serras Lopes refere que, "bem mais importante" que essa medida é o tema da fragmentação dos mercados de dívida.  "Os 'spreads entre a dívida governamental e dívida de empresas dos países denominados 'core' e a dos países periféricos mantém-se em níveis insustentavelmente altos e esse facto é bastante mais relevante para a evolução das economias destes dois blocos da Zona Euro".
Ainda assim, "qualquer efeito positivo - pot menor que seja - que este corte de taxas de juro possa vir a ter sobre a economia dos diversos países da Zona Euro é uma boa notícia para Portugal", refere o director de investimentos do Best.