Monitorizar de perto a complacência dos mercados e estar focado nas distorções que as medidas de estímulo monetário podem introduzir, são factores chave a olhar em 2015.
Cautela é a palavra de ordem para a Crédito Agrícola Gest durante o ano de 2015. Nas previsões em termos de alocação que a gestora traça para o novo ano, começam por referir que na classe de obrigações continuam “construtivos relativamente à periferia europeia (Espanha e Itália)”, embora exista “a percepção que não existe muito do potencial de compressão de “spreads” aos actuais níveis”.
Nas ações a preferência recai nas europeias, ainda que estejam “de uma forma geral apreensivos com os múltiplos a que transacionam alguns dos principais mercados desenvolvidos (EUA)”, e explicam porquê. “As medidas de estímulo monetário têm introduzido profundas distorções nos mercados financeiros e mais do que nunca a gestão activa, o “stock picking” e a gestão do risco, terão um papel crucial ao longo do ano de 2015”.
Apreciação do dólar pode limitar desempenho dos EUA
O novo ano, segundo a visão da casa, “promete” a manutenção dos “ciclos de política monetária diferenciados a nível global, com consequência directa na evolução das diferentes moedas”. No caso dos EUA, onde se espera a primeira subida das taxas de juro desde o pós-crise financeira, a eventual apreciação do dólar “poderá limitar o actual bom desempenho da economia norte-americana”. Na outra face da moeda, “novos cortes de taxas de juro na China, desenvolvimentos em torno do programa de estímulo monetário no Japão e o possível lançamento do “quantitative easing” na Zona Euro, poderão introduzir um efeito positivo nas exportações destas regiões”, perspetivam.
No entanto, ainda sobre a Zona Euro, a CA Gest recorda que as condições acomodatícias que se têm vindo a registar e, mais concretamente, as taxas de juro próximas de zero, não tiveram “um impacto palpável em termos da atividade económica” muito por causa da “recapitalização da banca e a crise dos estados soberanos”.
QE: ajuda ativos financeiros mas não economias
Da entidade relembram que apesar das “políticas monetárias de cariz expansionista tenderem, em teoria, a beneficiar as economias de capital mais intensivo (como algumas economias emergentes)”, nos últimos anos, contudo, “apesar da envolvente de taxas de juro próximas de zero, a economia global tem vindo a desacelerar obrigando os bancos centrais a avançarem para medidas não convencionais de política monetária (quantitative easing)”. Na opinião da casa, esta experimentação de novas medidas tem promovido a valorização dos activos financeiros mas não tem melhorado de sobremaneira as projecções de crescimento económico para os próximos anos”.
Voltando à máxima de que o cuidado será o fio condutor do próximo ano, da entidade reforçam que “com os principais bancos mundiais, a jogarem todas as cartas em termos de política monetária, o “tail risk” associado aos principais activos financeiros tem aumentado de forma material”. Desta forma, “o crescimento económico global tem permanecido débil e o risco geopolítico deverá continuar a marcar a evolução dos mercados financeiros em 2015”. Acresce ainda a “redução da volatilidade, embora positiva no curto prazo porque permite acomodar mais risco nos portfolios, mas que é um sinal de alguma complacência que deverá ser monitorizada de perto”.