Gestoras internacionais comentam o tom mais ‘hawkish’ da Fed

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United States Government Work, Flickr, Creative Commons

Ficou tudo  na mesma no que toca às taxas de juro, esta quarta-feira, nos EUA. Janet Yellen, presidente da Fed, contudo, deixou sinais de que em dezembro será expectável que as taxas de juro subam.

Kenneth J. Taubes, Chief Investment Officer na Pioneer Investments, escreve mesmo que “em termos gerais o discurso foi ligeiramente mais ‘hawkish’ do que as pessoas estavam à espera”. Comparativamente com a comunicação do mês passado, foram algumas as mudanças no discurso da Fed e, para o profissional da gestora, há até diversos pontos interessantes a salientar. Por um lado o Comité de Política Monetária da Reserva Federal dos EUA (FOMC) “melhorou a sua visão relativamente às despesas das famílias, e do investimento empresarial. Ao mesmo tempo, eles parecem otimistas sobre o emprego”, escreve. Outro ponto interessante sublinhado pela gestora internacional é o facto da instituição ter “minimizado substancialmente as preocupações de que os desenvolvimentos da economia global e das finanças possam restringir a atividade norte-americana e colocar mais pressão descendente  sobre a inflação nos EUA”. 

Da BlackRock, Rick Rieder, chief investment officer da área de obrigações, considera igualmente que o discurso desta semana "deixa a porta aberta para um início de subida de taxas em dezembro". Entende que "a economia dos EUA tem sido preparada para essa transição e, ironicamente, o mercado de trabalho poderá tornar-se ainda melhor sob um contexto de normalização das taxas". Contudo, na opinião da gestora internacional, a probabilidade de que os dados do último trimestre do ano se mantenham ligeiramente "suaves" é grande. Por isso, atribuem "uma probabilidade de pouco mais de 50% a um aumento da taxa na reunião de dezembro da Fed". 

Em linhas gerais, Kenneth J. Taubes viu nas palavras da Fed mais confiança em relação futuro. “A Fed tem um pouco mais de confiança na economia do que o mercado tem por esta altura”, refere. Por isso, na ótica da gestora, à medida que as expectativas de subida das taxas de juro aumentem, “poderemos assistir a mais volatilidade de no curto prazo”.

Efeitos na curva das yields

O mercado de obrigações não tardou a reagir ao discurso desta quarta-feira, notando-se um “ligeiro achatamento da curva das yields”. Neste sentido, a casa mantém a postura cautelosa que assumiam já algum tempo relativamente às obrigações de curto prazo, bem como na duração, como um todo. Cenário contrário – e benéfico – é atribuído, por outro lado, às ações, que se veem sustentadas pelas perspetivas positivas para a economia.

Dívida emergente: já antecipou subida de taxas?

Com este passo dado pela Fed, que antecipa uma subida de taxas para dezembro, a Schroders debruça-se sobre uma consequência que provavelmente preocupa muitos dos atores de mercado. “O que é que uma Fed com um tom mais hawkish significa para a dívida de mercados emergentes?”, pergunta James Barrineau, co-head of Emerging Markets Debt Relative da casa britânica. “O dólar forte e moedas de mercados emergentes desvalorizadas passaram a estar em sintonia desde o “taper tantrum” de maio de 2013, quando a eventualidade de taxas mais elevadas começou a ter lugar”. Recordam que as divisas de mercados emergentes caíram quase 40% desde essa altura. Nesse sentido, consideram que se torna difícil “argumentar que uma modesta subida das taxas não tenha sido já antecipada da melhor forma por esta classe de ativos”.

Na dívida de mercados emergentes denominada em dólares a história é distinta. O especialista recorda que desde o início do ano tanto a dívida corporativa como a soberana têm subido cerca de 3%.

Enquanto a subida das taxas por parte da Fed for sendo tida em conta nos preços como sendo em dezembro, a Schroders vê como provável que temporariamente se crie “retorno com volatilidade”. Contudo, ao mesmo tempo que isto sucede, a pequena probabilidade de que a extensão do ciclo de subidas seja grande, juntamente com “a substancial liquidez dos outros bancos centrais, faz diminuir a probabilidade de um recaída nas preocupações sistémicas em relação aos mercados emergentes”.