J.P. Morgan AM: Efeitos do discurso do BCE sobre o investimento

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“Até agora o presidente do BCE tinha conseguido gerir com mestria as expectativas do mercado, alimentando as esperanças relativamente às ações de política monetária para depois conseguir superá-las. Mas estava visto que Mario Draghi acabaria por decepcionar, antes ou depois, e esse dia chegou. Os mercados tornaram-se frios perante as medidas adoptadas pelo conselho governativo do BCE, apesar de estas incluírem tanto uma nova queda da taxa de depósito como uma ampliação de seis meses do programa de compras de obrigações soberanas (QE)”, assegura Michael Bell, estratega de mercado global da J.P. Morgan AM. No entanto, na entidade acreditam que, com o tempo, os investidores deixarão de falar de expectativas incumpridas para se passarem a centrar na situação em geral.

“É possível que Draghi não tenha feito o suficiente para surpreender positivamente o mercado e debilitar ainda mais o euro, mas, sendo realista, se o tivesse feito teria sido muito difícil. Na verdade, é muito pouco frequente que uma divisa se desvalorize mais como resposta ao tipo de medidas anunciadas, já que grande parte desse movimento costuma acontecer antes do anúncio. É justo dizer que o corte de 0,1% na taxa de depósito é o mínimo que o mercado esperava. Outro motivo de decepção prendeu-se com o facto do volume mensal de compras de obrigações se ter mantido ao mesmo nível face ao que Draghi tinha dado a entender que poderia aumentar. No entanto convém recordar que a Fed também não aumentou o volume de compras mensais dos ativos dos seus próprios programas do QE”, assegura. “A realidade é que as medidas adoptadas implicam uma importante flexibilização da política monetária que superam em muito o que os investidores poderiam ter imaginado no início de 2015 e que supunham um moderado apoio para os ativos de risco da zona euro nos próximos meses”.

Implicações para o investimento

Face à deceção inicial, na gestora acreditam que  as ações na zona euro continuarão a ser suportadas pelo QE e pela melhoria dos lucros. “Tendo em conta que é provável que a Fed aumente as taxas de juro na sua reunião deste mês, a acentuada divergência entre as políticas monetárias dos EUA e a Europa poderão contribuir também para a desvalorização do euro, relativamente ao rally inicial”. Por outro lado, na entidade acreditam que o programa de compras de ativos e a progressiva recuperação económica vão gerar um contexto positivo para  crédito high yield da zona euro. No que diz respeito ao euro, na entidade consideram que a apreciação vivida inicialmente pela moeda única não marcará o início de um prolongado movimento de subida face ao dólar. “Se o BCE não tivesse atuado, a moeda teria valorizado muito mais, já que as expectativas de novas medidas de estímulo eram muito altas”.