Com a inflação a moderar para 2,4% e as yields acima de 4,5% no segmento de investment grade, o especialista salienta que estamos perante níveis de rentabilidade não vistos na última década.
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Numa recente visita a Espanha, o responsável de Obrigações da Invesco e gestor do Invesco Euro Corporate Bond Fund, com Rating FundsPeople em 2024, Julien Eberhardt, destacou que as obrigações europeias oferecem um sweet spot de entrada com a normalização da inflação, em torno de 2,4%, uma expetativa de sucessos cortes de taxas por parte do BCE e um retorno que ultrapassa os 4,5% no segmento de investment grade. Além disso, considera que “estamos perante níveis de rentabilidade não vistos na última década”, criando uma oportunidade para os investidores em obrigações europeias.
Valorização ajustada à perfeição
Desta forma, descreveu a situação atual dos mercados de obrigações como uma operação “ajustada à perfeição”, com ativos que refletem uma forte expetativa de bons resultados. Esta perceção, segundo o responsável, levanta desafios significativos para os investidores em obrigações, que têm de enfrentar um contexto em que os preços estão marcados por uma elevada procura, deixando menos margem de erro e aumentando a necessidade de cautela. Nas suas palavras, “tudo se encontra num ponto de perfeição que, embora seja ideal, não foi atingido e pode trazer consigo riscos significativos”.

Julien Eberhardt destacou que, em mercados como o de obrigações corporativas europeias, a margem entre o retorno e o risco comprimiu, especialmente no caso de obrigações de elevada qualidade ou investment grade, em que os spreads chegaram a níveis muito ajustados, de cerca de 100 pontos base. Esta situação faz lembrar a anterior crise financeira de 2008, quando os spreads atingiram um mínimo histórico de 80 pontos base. “É um contexto no qual, enquanto investidores, não temos muito controlo sobre as condições de compra. O mercado dita os termos”, explicou.
Procura inesgotável e o dilema da aterragem suave
Julien Eberhardt observa que grande parte desta dinâmica responde a dois fatores-chave. Em primeiro lugar, a narrativa macroeconómica atual que projeta uma aterragem suave apoiada pelos bancos centrais, um fenómeno que os mercados dão por garantido, embora com um historial limitado de sucesso. Em segundo lugar, a procura massiva por ativos de obrigações, o que, em alguns casos, leva a relação oferta-procura a extremos sem precedentes. “Desde o início do ano que temos tido emissões de obrigações com uma procura até dez vezes superior à oferta”, assinalou.

Apesar da fé numa aterragem suave, Julien Eberhardt alertou sobre riscos latentes, particularmente na Europa, onde o crescimento económico é mais débil do que os EUA. “A indústria fabril na Alemanha e o setor automóvel enfrentam pressões consideráveis, derivadas da desaceleração na China e da concorrência crescente dos veículos elétricos”, comentou, sublinhando a necessidade de se avaliar se as valorizações atuais refletem adequadamente estes riscos.
Prudência e qualidade num mercado saturado
Perante a complexidade do contexto atual, a Invesco optou por uma estratégia conservadora que se foca na qualidade dos ativos e evita assumir riscos adicionais. Na sua opinião, a elevada procura e as expetativas de taxas baixas têm gerado uma pressão que empurra alguns gestores a ampliarem as suas posições para ativos de menor qualidade, mas Julien Eberhardt prefere manter-se numa posição defensiva. “Estamos centrados em ativos de qualidade e preferimos evitar as obrigações com classificação baixa, que só nos ofereciam retornos marginais”, sublinhou.
A duração das obrigações também é um aspeto-chave na estratégia, com uma duração média na sua carteira de 5,1 anos, levemente superior à do índice, o que permite aproveitar oportunidades a longo prazo no caso de as taxas aumentarem. Para o gestor, o segredo é manter flexibilidade, mas sem se desviar da sua filosofia principal de risco moderado.
Quanto aos setores, a Invesco reduziu a sua exposição a automóveis, mantendo uma pequena posição apenas em emitentes de elevada liquidez e vencimentos curtos. “O setor automóvel tem uma liquidez robusta, mas a sua exposição a problemas estruturais, como a concorrência chinesa, torna-o uma aposta incerta”, indicou.
O refúgio de obrigações para climas voláteis
O Invesco Euro Corporate Bond Fund representa a abordagem de elevada qualidade que Julien Eberhardt e a sua equipa aplicam neste contexto de incerteza. Esta estratégia está orientada para o investimento em obrigações corporativas europeias investment grade, com uma seleção cautelosa de emitentes bem estabelecidos e de setores defensivos. “O objetivo é criar uma carteira consistente sem se assumir riscos desnecessários em busca de retornos marginais e evitar problemas de liquidez em momentos de tensão do mercado”, explicou.
A estratégia atual do fundo é manter uma duração média de 5,1 anos, em linha com as oportunidades do mercado. Além disso, Julien Eberhardt sublinhou que este fundo é o “refúgio seguro” em obrigações para os investidores que procuram estabilidade. A Invesco assumiu posições sólidas em setores como o das telecomunicações, farmacêutico e de serviços públicos, priorizando obrigações de classificação A e BBB e evitando as obrigações de qualidade inferior, que, neste clima, representam um risco desproporcional.
O fundo reflete uma mentalidade de preservação de capital: são priorizados setores com crescimento estável e exposição mínima a volatilidades cíclicas. Assim, Julien Eberhardt garante que o Euro Corporate Bond Fund oferece “uma alternativa sólida para clientes que procuram um fluxo de receitas constante sem se verem expostos a flutuações excessivas”.
O que mantém o gestor acordado à noite?
Julien Eberhardt preocupa-se principalmente com a possibilidade de os mercados financeiros experienciarem uma correção inesperada, especialmente num contexto em que “tudo está ajustado à perfeição”. Embora o contexto atual de elevada procura e spreads ajustados tenha favorecido os ativos de obrigações, Julien Eberhardt teme que uma mudança brusca nas condições macroeconómicas - como uma viragem na política monetária dos bancos centrais ou uma desaceleração mais acentuada na Europa - possa pôr em risco as valorizações.
Além disso, mencionou que a situação geopolítica global, especialmente os eventos como as eleições nos EUA ou possíveis conflitos internacionais, representam riscos significativos que poderão alterar a dinâmica do mercado. A nível setorial, o gestor também observa com cautela o setor automóvel europeu e o imobiliário comercial, ambos sob pressão devido a mudanças estruturais e extrema concorrência, o que poderá afetar negativamente alguns ativos na sua carteira. Para Julien Eberhardt, o segredo está em manter uma abordagem defensiva e em ativos de elevada qualidade, minimizando o risco num contexto em que a “perfeição” do mercado pode romper-se a qualquer momento.