Mais um Dia D para a Grécia: o que devem os investidores ter em mente?

00flag
Freddie Boy, Flickr, (Creative Commons)

Na passada segunda-feira a Grécia chegou a um acordo com os parceiros europeus... mas não a uma resolução. Entre as várias medidas que Bruxelas exige que governo grego ponha em marcha estão pontos que envolvem temas fiscais, e reformas das pensões, bem como a aceitação de privatizações. Hoje impõe-se para a Grécia mais um Dia D: o parlamento helénico diz o ‘sim’ ou o ‘não’ às reformas exigidas pela Europa, bem como à criação de um fundo de 50 mil milhões de euros, com ativos gregos a privatizar, e com uma garantia de recapitalização do sistema bancário.

Da UBS Global AM, Joshua McCallum e Gianluca Moretti, economistas da entidade, veem como provável que “uma grande parte do governo do Syriza vote contra as reformas”. Contudo, “praticamente a maioria dos partidos da oposição já anunciaram a intenção de suportar o acordo”. No meio de tudo isto a questão que já muitos se colocam passa por perceber quanto tempo é que  “Tsipras continuará a manter um governo que confia na oposição para passar legislação contra a vontade do próprio Excutivo”. Da Pioneer Investments entendem igualmente que esta é uma altura derradeira em que importa entender se se “está a caminhar para uma mudança de regime na Grécia”. Para além disso, consideram que “embora as medidas possam ser aprovadas no parlamento, há que comprovar se estas são efetivamente executadas ou se a crise voltará a ser adiada”.

Algumas das questões a considerar

Da UBS Global AM apontam várias perguntas que consideram que os investidores devem ter em conta por esta altura. A primeira delas passa por perceber se a Grécia tem dinheiro suficiente para sobreviver até ao fim das negociações. “O governo grego não tem dinheiro suficiente para atender às obrigações de liquidez que se seguem”, dizem da entidade, de onde reforçam que também existem “atrasos significativos nos pagamentos de fornecedores do governo”.

“Estará para breve o fim das férias bancárias no país?”. Esta é outro dos pontos para onde os economistas creem que faz sentido olhar. Na perspetiva de ambos, “assim que o parlamento aprove o primeiro conjunto de medidas, o BCE tornar-se-á mais encorajador, aumentando a liquidez de emergência disponível para os bancos gregos”. Menos positivos estão acerca do controlo de capitais, que esperam que permaneça, pelo menos durante os próximos meses.

Um das bandeiras do governo grego foi o perdão da dívida. Mas será que a Grécia conseguiu de alguma forma um alívio dessa dívida? Joshua McCallum e Gianluca Moretti esclarecem que este não é um dos pontos constantes no acordo alcançado na segunda-feira. “O acordo não exclui o alívio da dívida, mas a falta de confiança em relação ao governo grego, fez com que esta possibilidade apenas seja considerada depois da primeira revisão do próximo resgate”, indicam.

Da J.P. Morgan AM também tecem algumas considerações sobre o assunto “perdão da dívida”. No Market Bulletin da entidade indicam que embora os credores tenham rejeitado à partida essa proposta grega, “todas as partes parecem estar cientes de que a dívida grega é insustentável, e que de alguma forma o alívio da dívida terá de ser implementado, provavelmente com uma extensão ainda maior das maturidades”. Da gestora só veem uma via para que os credores comecem a considerar este alívio da dívida: “A Grécia terá de convencê-los de que está agora comprometida a  implementar as reformas de forma a conseguir pelo menos um superávit primário”.

Implicações nos investimentos                                                        

As gestoras internacionais continuam convictas de que o impasse grego terá poucas repercussões nos mercados. Da Pioneer Investments assinalam mesmo que “continuar-se-á a assistir a ativação de volatilidade não só por causa do evento grego, mas também por causa de outros factores geopolíticos e económicos”. Da J.P. Morgan também relativizam o que se passa com o país helénico. “Temos vindo a referir nas últimas semanas que continuamos a encontrar valor nos ativos financeiros europeus”, porque “a economia europeia continua a ganhar força, e isso reflete-se nos bons ‘earning momentum’ das empresas europeias”.