O “descanso do guerreiro” para os mercados depois do “não” escocês

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zoobit1, Flickr, Creative Commons

Em massa, os escoceses foram às urnas dizer de sua justiça no que diz respeito à sua independência do Reino Unido. 55% dos eleitores responderam com um “não”, enquanto o “sim” reuniu 44,7% dos votos. As reações políticas, obviamente, foram díspares. David Cameron classifica o resultado como “claro”, e vê no referendo uma “oportunidade de mudar a forma com o país é governado”. Já Alex Salmond, ministro principal do governo autónomo da Escócia, apesar da derrota, apelidou o referendo de um “triunfo para o processo democrático”.

Mas será este “não” sinónimo de um ponto final?

Da Fidelity Worldwide Investment, Paras Anand, head of european equities, acredita que “apesar da votação levada a cabo significar um ponto fulcral, na verdade representa essencialmente um ponto ao longo de uma jornada na qual o rumo da viagem já foi estabelecido”.

Da gestora consideram que para avaliar o impacto do referendo no mercado há que ter em conta dois factores. “O primeiro é entender a jornada que já referimos. O segundo é olhar para o referendo num contexto alargado do ambiente político do Reino Unido. "Neste sentido, entendemos que o ambiente que se vive à volta do resultado das votações pode ser de curta-duração, à medida que o foco se vai voltando rapidamente para os potenciais detalhes e consequências da “devo max” (transferência para o governo escocês de todos os poderes exceto diplomacia externa e a política de defesa)", indicam.

Alívio para os mercados...

Na opinião do economista europeu da Schroders, Azad Zangana, as notícias sobre a rejeição de independência da Escócia aparecem como “um alívio para os investidores e para os mercados financeiros, que se refletiu num “salto matinal” da libra face ao euro e ao dólar”. Nas últimas semanas, na confiança dos investidores estavam a fazer “mossa”, “as perspetivas de vários meses de negociações confusas, a incerteza sobre a divisão dos ativos nacionais e da dívida, bem como os ajustes relativos à moeda”.

... e para as empresas

Da Fidelity não são esquecidos também os benefícios que o tecido empresarial inglês conserva com este “não”. “Acreditamos que estes são desenvolvimentos bem vistos pela generalidade do sector empresarial do Reino Unido, dada a grande percentagem de receitas e lucros que são obtidos no exterior e que por isso são favoráveis para os mercados globais”, entende Paras Anand. Fazendo mais uma vez referência ao “rescaldo” dos acontecimentos, o especialista entende que “embora este clima de instabilidade política seja dominante, é difícil ver como se vai experienciar mais do que modestos crescimentos nas taxas de curto prazo durante os próximos anos, o que pode ser, marginalmente, benéfico para a economia doméstica em geral”.

Calibrar o foco

As consequências para a política monetária do Reino Unido são lembradas por Azad Zangana. Na opinião do economista “a continuação da união também significa que o risco do Reino Unido sair da União Europeia se reduziu substancialmente, apesar de continuar a ser significativo”. Com o sanar desta disrupção, o foco pode agora continuar a ser “a construção de uma forte recuperação da economia”. Portanto, o Banco de Inglaterra pode agora avançar com “o aumento das taxas de juro no início do próximo ano, na ausência de incertezas políticas”.