O que a compra da Amundi-Lyxor nos diz sobre o mercado de ETF na Europa

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Créditos: Christina (Unsplash)

A última grande operação na indústria de fundos foi no campo dos ETF. A operação de compra da Lyxor por parte da Amundi não muda muito no ranking por património. A Amundi reforça-se, mas não arrebata a liderança à BlackRock. Não obstante, o movimento revela mensagens importantes acerca da batalha que está a acontecer na indústria.

Falar de ETF, quando são de baixo custo e de réplica de índices, é falar de um negócio de escala. Para Steven Libby, AWM Leader na Europa da PwC, é praticamente a única vantagem com a qual uma gestora pode procurar competir no setor. Ao replicar um índice, a batalha da diferenciação trava-se nos preços. E com baixas comissões, de apenas 20 ou 30 pontos base, as margens sentem a pressão.

“A única forma de tornar rentável o jogo dos ETF passivos é com escala”, sentencia. E isto vemos tanto no mercado americano como o europeu. No ano passado, a Vanguard triplicou o número de abertura de novas contas no primeiro trimestre. A E-Toro quadruplicou-as. “São dois players que oferecem acessibilidade digital e produtos de baixo custo”, explica Libby. E para gerar escala, é inevitável a via inorgânica.

Mas a união Amundi-Lyxor é muito mais do que uma questão de somar forças. Primeiro, a nível geográfico, a Vanguard, a BlackRock, a State Street… Todos os grandes nomes no campo dos ETF são americanos. A união da Lyxor e a Amundi, duas casas francesas, reforça o principal player europeu. De facto, Libby ficaria surpreendido se tivessem escolhido outro comprador que não europeu. “É uma questão cultural.”

Também é uma operação de distribuição, realça o especialista. A Lyxor pertencia até ao momento ao grupo francês Société Générale. Isto abre a porta à Amundi a aceder ao potencial de distribuição do banco.

E terceiro, a gama de produtos que aporta a Lyxor e, sobretudo, o seu expertise. A Lyxor destaca-se pelos seus conhecimentos em engenharia, pelo seu trabalho na criação de produtos de réplica sintética (que agora voltam a ter o favor dos investidores), assim como sistemas proprietários de trading em derivados.

Ao património em ETF soma-se a plataforma de alternativos. Este ponto não deve ser subestimado, insiste o especialista da PwC, já que uma das histórias de grande crescimento do setor está no acesso do investidor retail aos alternativos. “É uma jogada defensiva e complementar”, resume Libby.

Perspetivas explosivas para os ETF na Europa

De 2015 a 2020, o mercado global de ETF cresceu a um ritmo de 18% anualizado, de acordo com dados da PwC. É um ritmo notório, mas sem intenção de desacelerar. As estimativas da consultora são de que o património mundial salte dos atuais sete biliões para 10-12 biliões em 2025. “É uma oportunidade significativa de crescimento”, insiste Libby.

Nos Estados Unidos, mas também na Europa. No velho continente a penetração destes produtos ainda é baixa. Segundo estimativas da PwC, havia 1,2 biliões em ETF na Europa em 2020. Mas para 2025 este número duplicará para dois biliões.

E o que conduz este crescimento? Para Libby, está tudo no preço. “Os gestores necessitam de encontrar como construir as suas carteiras da maneira mais eficiente nos custos. E os ETF consolidaram-se como uma ferramenta mais nap seu cabaz”, conta.

É uma necessidade impulsionada também pela regulação. Os investidores institucionais, por mandato MiFID II, têm a obrigação de usar o produto mais eficiente em custos. “Para muitos é muito difícil justificar não usar um ETF. Até em comparação com fundos de gestão ativa muito bons”, explica Libby.

E está a gerar-se um novo motor: a bomba das pensões públicas. A incapacidade do sistema público de financiar as pensões empurrará a população a procurar soluções privadas. E a previsão do especialista é que o custo será um elemento decisivo. “Os ETF serão um bloco de construção decisivo”, vaticina.