O que se pode esperar do diferencial entre as bunds e as treasuries?

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theriver, Flickr, Creative Commons

Qualquer investidor de obrigações que tenha acompanhado de forma atenta o mercado desde maio de 2013 – altura em que se deu o primeiro sinal de retirada de estímulos por parte de Ben Bernanke – nota que o diferencial  entre as obrigações do tesouro dos EUA e da Alemanha se ampliaram em todos os vencimentos desde então. “A divergência económica entre os EUA e a Alemanha implicava uma divergência de políticas monetárias e, por isso, uma divergência nas rentabilidades das obrigações”, resume Bastien Drut, estratega e analista da Amundi, no último relatório mensal de Cross Asset publicado pela gestora francesa. Com uma importante referência: “Tem muito impacto o facto dos spreads se alargarem mais nos vencimentos de maior duração, do que nos de curta duração”. Por isso é que a pergunta que está em cima da mesa é:  o que deverão esperar os investidores para os próximos meses dentro deste contexto?

Para encontrar uma resposta a esta pergunta, a primeira coisa que Drut faz, é analisar a série histórica. Em momentos anteriores às divergências entre as políticas monetárias de um e doutro país durante as últimas décadas, constatamos que a amplitude do diferencial sempre foi superior nos vencimentos mais curtos do que nos de maior duração: a série histórica desde 1994 reflete cinco pontos de inflexão entre as treasuries e as bunds (em termos absolutos), com uma amplitude média de 215 pontos base para os vencimentos a 2 anos, de 155 pontos para as obrigações a 5 anos e de 90 pontos, a 10 anos. “Ao existirem menos razões para o crescimento e inflação nos EUA face à Alemanha, é lógico que haja mais divergências no longo prazo face ao curto prazo”, afirma o especialista.

Estes dados levam o estratega a afirmar sem rodeios que “a situação atual é atípica”, já que o prémio de risco das obrigações a dois anos é muito baixo, e o das obrigações a cinco anos é inferior ao das obrigações a sete anos”. O especialista acredita que, sendo fiel à análise das médias históricas, os spreads das obrigações a 2 e 5 anos deverão estender-se nos próximos trimestres, enquanto o prémio exigido a obrigações a 10 e 30 anos já se encontram acima da sua amplitude média histórica. “Os spreads a 2 anos têm em particular um grande potencial para se ampliarem”, adverte Drut.

A explicação que o analista apresenta para justificar estas anomalias tem a ver com o facto do “atual ciclo estar a ser diferente dos outros, principalmente por causa da estratégia de forward guidance da Reserva Federal e do BCE”. “Ao fixarem as expectativas de que as taxas de juro permanecerão próximas de zero durante muito tempo, as taxas de juro de curto prazo irão rondar zero e, consequentemente, o diferencial a dois anos permanece baixo, enquanto os spreads a 10 e 30 anos aumentararam consideravelmente desde maio de 2013”, acrescenta.

O que se poderá passar no segundo semestre?

O especialista da Amundi considera que o prémio correspondente ao período de dois anos “está a começar a dar sinais de vida”, depois de terem sido confirmadas as expectativas do Comité de Mercado Aberto da Fed (FOMC), de que se iniciará uma subida das taxas em meados de 2015. Por isso, espera que a rentabilidade adicional exigida às treasuries face às bunds aumente ao longo dos próximos seis meses. O objectivo da equipa da Amundi é que as obrigações a 2 anos cheguem aos 0,8% no final de 2014. “Como o BCE manterá a sua política de taxas de juro próximas de zero durante vários anos, o spread a 2 anos alargar-se-á gradualmente e superará em alguns trimestres o spread de títulos com vencimentos maiores”, indica. Drut considera também que há algum potencial de crescimento dos prémios a 5 anos, ainda que inferior aos de 2 anos. “Parece demasiado tempo esperar por outro alargamento substancial dos spreads a 10 e 30 anos a partir dos níveis atuais”, conclui.