As incertezas políticas da Europa, e o abrandamento eventual da China caso a guerra comercial se intensifique, são razões que justificam, para a equipa da BPI GA, uma sincronia em termos de desaceleração económica.
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(Perspetivas para 2019, traçadas por Eduardo Monteiro, Head of Discretionary Portfolio of HNWI, da BPI Gestão de Activos)
1 - O que esperam de cada uma das principais economias (EUA, Europa, China Japão) no ano de 2019?
Apesar da menor pujança económica decorrente da perda de impacto do estimulo fiscal de Donald Trump, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que a economia norte-americana cresça em torno dos 2.5%, destacando-se das demais regiões desenvolvidas. Esta perspetiva tem em linha de conta que a Reserva Federal norte-americana não irá realizar um erro de política monetária, apenas subindo taxas em 2019 caso a economia a incentive a isso. A este respeito, vale a pena destacar que, apesar dos membros da FED descontarem duas subidas de taxas em 2019, o mercado atribui uma probabilidade baixa à existência de alguma subida em 2019.
Apesar de um calendário político pouco exigente, 2019 continuará a ser um ano em que a política deverá influenciar os ativos financeiros europeus. Em maio, irão existir importantes eleições para o parlamento europeu, em que a expectativa é de que a representação populista venha a aumentar. Embora o momento em que esta fação possa liderar na Europa ainda esteja longe, naturalmente será um parlamento mais cético à necessária transferência de soberania para Bruxelas. Adicionalmente, o processo de saída do Reino Unido da UE deverá afetar a atratividade dos ativos europeus, sendo mais provável a não concretização do cenário mais pessimista de uma saída sem acordo. Em termos de crescimento económico, deverá ser um ano similar aos anteriores, com o FMI a antecipar um crescimento em torno de 1.5%.
O Japão irá continuar a deparar-se com desafios estruturais, nomeadamente os relacionados com a sua demografia. O país sofre de um processo de envelhecimento populacional forte e as empresas mantêm uma atitude menos capitalista que os demais países desenvolvidos, o que dificulta o processo de reflação da economia. Adicionalmente, será importante monitorizar se o governo japonês leva em frente o aumento do imposto sobre as vendas em outubro de 2019, uma vez que o último aumento, em 2014, teve impactos negativos na economia japonesa.
Quanto à China, um dos principais motivos de preocupação reside numa eventual desaceleração económica em 2019. O abrandamento registado nos últimos anos, tem sido promovido pelo governo com o objetivo de diminuir o peso do crédito no total da economia, tentando que a economia seja mais assente no consumo e menos na indústria, a qual consume muitos recursos financeiros. Uma das grandes incertezas para esta geografia prende-se com o desenrolar das tensões comerciais com os EUA, sendo que a melhor forma de medir o impacto desta possibilidade no resto do mundo é por via da monitorização da evolução da moeda chinesa.
2 - Quais as classes de ativos melhor posicionadas para enfrentar o novo ano e que perspetivas têm para cada uma delas (obrigações, ações, imobiliário...).
Em 2018, existia um consenso que o mercado acionista deveria ser a melhor relação risco/retorno, não só porque se encontrava relativamente atrativo relativamente às demais classes de ativos, mas também porque existia uma sincronia em termos de crescimento económico nas várias geografias, nomeadamente ao nível das emergentes, que se encontravam com perspetivas de recuperação do forte underperformance que datava de 2015. Adicionalmente, no ano passado a comunidade de investidores apresentava uma forte convicção que os bancos centrais seriam capazes de habilmente comandar o ciclo económico mundial.
Passados apenas dozes meses deste cenário “cor de rosa”, parece que tudo mudou. Existe agora uma sincronia em termos de desaceleração económica, a Europa parece povoada de incertezas políticas (Itália, Brexit), e a China poderá abrandar numa intensificação da guerra comercial. Esta perceção da realidade é acompanhada de quedas de preço na ordem de -10%/-15% nos diversos índices acionistas em 2018 e uma subida dos resultados em tornos de 10%.
Se em 2018 as perspetivas económicas e para o mercado acionista eram demasiado otimistas à luz dos dados conhecidos atualmente, as perspetivas para 2019 parecem ser demasiado conservadoras, o que reforça a nossa confiança de que o mercado acionista deverá apresentar a melhor relação risco/retorno.
Uma eventual moderação do discurso da Reserva Federal, alguma tranquilidade nas relações comerciais entre os EUA/China, uma estabilização do nível do crescimento económico ou uma estabilização dos atuais spreads de crédito poderão ser os catalisadores para uma mudança da perceção sobre a realidade económica.
No que diz respeito à componente obrigacionista, deverão existir performances distintas nos dois lados do Atlântico. Nos EUA, o atual nível de taxas mais elevado e a consequente maior almofada para eventuais aumentos de taxas de juro, deverão permitir obter retornos mais atrativos. Na Zona Euro, pensamos que, inevitavelmente, a normalização da política monetária levará a retornos negativos que já se esperam desde há algum tempo.
3 - Que riscos monitorizam por esta altura com maior preocupação e porquê (mercado ou negócio)?
Continuamos a acreditar que um dos maiores riscos a esta perspetiva moderadamente otimista para os mercados acionistas, advém das possíveis repercussões da atual tensão entre a China e os EUA que possa ultrapassar o fórum das discussões políticas para a esfera económica e, por consequência, tenha impactos materiais no comércio global. Esta situação será tanto mais grave, caso alastre para um maior numero de intervenientes, nomeadamente caso exista um confronto entre os EUA e a Europa. Neste aspeto, a imposição de tarifas por parte dos EUA sobre a importação de automóveis fabricados na Europa afigura-se como o desfecho mais negativo, mas que não corresponde ao cenário central.
Outro aspeto de importante monitorização prende-se naturalmente com os aspetos políticos na Europa. A esse nível, destaca-se o desfecho do processo de saída do Reino Unido da UE e a eventual dimensão dos partidos populistas nas eleições europeias de maio.
Adicionalmente, a política monetária da FED poderá ter uma evolução demasiado contracionista face à evolução da atualidade económica. No entanto, pensamos que esse é um risco que se encontra mais dependente da racionalidade económica e, portanto, com menor probabilidade de se materializar.
4 - Qual o fundo de investimento (obrigações, ações, misto, alternativo) que recomendam para o ano de 2019 e porquê?
Mais do que um fundo, elegemos um segmento de fundos: os fundos Long/Short market neutral. Estes têm apresentado uma performance desapontante nos últimos anos, pelo que muitos têm desaparecido. Deste modo, acreditando que o mesmo alfa é perseguido por menos intervenientes e que estes fundos tendem a ser mean reverting, após o mau ano de 2018, 2019 poderá ser uma agradável surpresa.
5 - Quais os temas de investimento sobre os quais estão mais "sedentos" de informação por esta altura?
Existem dois temas que nos preocupam e a que devemos estar atentos. Por um lado, a gama de soluções nos produtos mais conservadores tem vindo a reduzir-se com a menor atratividade das obrigações, quer direcional, quer em termos de valor relativo. A ausência de retornos positivos por parte das demais classes de ativos, coloca desafios à gestão destes produtos, tornando-se deste modo cada vez mais uma opção racional usar a maior ou menor liquidez como uma decisão ativa de asset allocation.
Por outro lado, parece-nos que o futuro da indústria passará mais por uma aposta em temas estruturais da próxima década. Nesse sentido, pensamos que a robótica, a inteligência artificial, cloud computing, fintech e internet of things – temas normalmente apelidados como a 4ª Revolução Industrial – terão que ter um papel mais ativo nas carteiras dos investidores.