Esta semana vou estar de olho... na evolução dos spreads da dívida pública da periferia face à Europa Core

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(O contributo desta semana é da autoria de João Zorro, gestor de obrigações da GNB - Gestão de Ativos.)

Os acontecimentos ocorridos no final de 2009 no qual os países do sul da Europa e a Irlanda não conseguiram refinanciar a sua dívida despoletou uma crise de confiança sobre o projeto europeu que deu origem à denominada Crise da Dívida Europeia. Nessa altura as yields dos instrumentos de financiamento daqueles países atingiram valores impensáveis serem possíveis num contexto de uma União. Demorou bastante tempo para que o problema da falta de credibilidade fosse enfrentado de forma eficaz e pelo caminho ficou sempre a suspeita que o projeto europeu teria problemas de conceção difíceis de resolver.

Chegados a 2020 e quando tudo parecia estar a correr bem – empresas e Estados a financiarem-se a taxas de juro historicamente baixas e até negativas – a crise provocada pela pandemia do COVID-19 veio mais uma vez a revelar as dificuldades estruturais na zona euro. Os diferentes ritmos de crescimento, de competitividade e peso da dívida em percentagem da riqueza gerada alimentam o espírito dos mais céticos do Projeto, especialmente quando a Europa é confrontada com um gigantesco esforço financeiro exigido como resposta às consequências de uma grave crise económica e social. Os montantes exigidos são de tal ordem que para alguns países que já têm enormes dificuldades em tornarem as suas finanças públicas sustentáveis vêm todo esse esforço a irem pelo cano … (desculpem o meu francês)

Num recente documento de research da JPMorgan, é apresentado um quadro bastante elucidativo. Veja-se abaixo.

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Entretanto, os investidores já mostram sinais de preocupação pois mesmo com o Banco Central Europeu a comprar dívida pública, as yields de Itália e da Grécia mas também de Espanha e de Portugal já transacionam a níveis que podem-se tornar mais uma vez preocupantes, especialmente para os dois primeiros já que taxas de juro superiores ao crescimento nominal do PIB só agrava a situação destes países.

Receio que voltaremos a assistir a um debate sobre o futuro da Zona Euro.