O mercado de ações europeias depois de anos de crise e domínio macroeconómico voltou a negociar ao nível dos fundamentais. Na verdade a política monetária do BCE proporciona um contexto relativamente estável e muitas empresas europeias beneficiam da debilidade do euro. Trata-se de um terreno fértil para que as empresas se financiem a taxas muito baixas, o que favorece a restruturação empresarial, fusões e aquisições, e outras decisões empresariais estratégicas, que é possível antecipar, com pouca ou nenhuma direccionalidade dos mercados.
Efetivamente, as perspetivas de lucros são muito mais claras nas ações europeias, de tal forma que nas operações de aquisição empresarial a diferença entre o preço de venda e da oferta reduziu-se, aumentando a possibilidade de que se extinga. Para além disso estas operações são favorecidas por um rácio líquido de dívida médio de 50%, face aos 70% dos anos 90. A isto acrescenta-se que, à medida que os investidores recuperam a confiança, podem aumentar os fluxos de capital que se dirigem aos mercados europeus, em particular a partir dos EUA. Desta forma a atividade de fusões e aquisições de empresas europeias aumentou substancialmente, embora continue atrás dos EUA.
Identificação de catalisadores
O Pictet Total Return Agora trata-se de um fundo UCITS long/short constituído por títulos de alta convicção, com baixa direccionalidade relativamente às ações europeias. O ponto chave é o conhecimento das empresas. A equipa gestora é formada por Elif Aktüg, que se juntou à Pictet AM em 2011 vindo da Goldman Sachs Principal Strategies. Os seus co-gestores, Benoit Capio e Vincent Ijaouane também veem da banca de investimento. A equipa tem um volume diário de contratação de 300 empresas, com mais de 25 milhões de euros, e 200 com mais de dez milhões. O fundo investiga 50 ideias de maneira regular e assume entre 90 e 100 posições. A seleção por valorização é caraterística, embora o aspeto mais caraterístico seja a identificação de catalisadores. A equipa define pares para os momentos de subida e de queda, tipicamente no mesmo sector ou num similar – com a condição de que a sensibilidade do mercado seja parecida. Cada posição tem uma cobertura individual e dinâmica para isolar riscos idiossincráticos e extrair alfa. Esta análise é feita de baixo para cima, embora se supervisione a exposição por país e sector.
Ao contrário de outros gestores, que têm parte da carteira alocada às subidas e a outra parte às quedas, aqui trata-se de um conjunto de ideias. Para cada ideia estimam-se cenários e probabilidades de risco/rentabilidade, o que determina o tamanho de cada posição. Assim uma ideia de alta convicção com alto potencial de subida e reduzido potencial de queda, pode receber maior alocação. O período de investimento costuma ser de três a doze meses, dependendo do catalisador e período necessário para que a divergência de preço se corrija.
Na carteira a exposição líquida relativamente ao mercado pode ser de 10% a 20%. Para além disso a exposição bruta emprega-se como ferramenta de gestão do risco sistemático, já que pode ser limitada com rapidez, até ao ponto em que 50% da carteira pode ser liquidada num dia e 95% em quatro ou cinco dias. Nenhuma posição longa ou curta pode ser superior a 10% da carteira – geralmente não superam os 5% da exposição líquida ao fundo – e quando a volatilidade está barata, emprega-se opções de spread calls/put, mas não posições cobertas. Uma equipa independente da Pictet AM supervisona riscos e operações diárias.
É chave investir antes do anúncio de um evento estratégico empresarial
Atualmente uma componente importante das ideias de investimento do Pictet Total Return Agora refere-se a eventos estratégicos empresariais, o que inclui fusões e aquisições, consolidações, restruturações e mudanças no management, venda de ativos, saneamento de balanços, ampliações de capital, re-alavancagem ou recompra de ações ou dividendos excecionais. Uma consideração chave é investir antes que o evento seja anunciado. Na verdade, inclusive em transações não completas é possível contribuir para melhorar o perfil risco-retorno relativamente à arbitragem tradicional, mais agitada, ao contrário dos fundos tradicionais merger arbitrage, que apenas operam quando o evento é anunciado. Por sectores destacam-se as possibilidades dentro do sector da cerveja, onde pode existir consolidação, assim como no de cimentos, o consumo básico e a tecnologia médica.
Investimentos oportunísticos e vencedores/ perdedores e estruturais
Para além disso convém antecipar investimentos oportunísticos a mais curto prazo, mudanças de grupos industriais, de gestão ou acionista principal ou divergências temporais relativamente a previsões de lucros e, a mais longo prazo, estimativas relativamente a vencedores/perdedores estruturais em indústrias em transformação devido a crescimento/decadência estrutural, desequilíbrio entre oferta/procura, poder de imposição de preços ou mudanças positivas/negativas na regulação. Por exemplo, o fundo esteve negativo no sector da alimentação do Reino Unido perante os agressivos descontos da alemã Aldi e Lidl. Por outro lado mantivemos uma ideia bullish nas empresas aéreas de baixo custo, como a Ryanair ou a Easy Jet, pois a penetração na Europa é ainda baixa relativamente aos EUA e estas empresas, que geram um elevado free cash flow e pagam dividendos, e prestam cada vez mais atenção aos passageiros de negócios.