Carlos Almeida, diretor de investimentos do Banco Best, perspetiva sobre a atual conjuntura financeira e sobre a atuação da Fed e do BCE.
A máxima “Sell in May and go away” é bem conhecida entre os investidores. Esta ideia parte da análise histórica da variação do mercado em dois períodos: o período de Maio a Outubro, e o período de Novembro a Abril, sendo que o segundo apresenta uma performance, em média, bastante superior à do primeiro. A razão pela qual, historicamente, isto acontece não é totalmente clara, mas muitos atribuem a menor liquidez nos meses de verão, como sendo uma das causas mais evidentes.
No entanto, importa reforçar que existe outra máxima também conhecida pelos investidores: “rendibilidades passadas não são garantia de rendibilidades futuras”. Assim, independentemente da média dos resultados no passado, em grande parte atribuídos, neste caso, a factores sazonais, importa analisar sempre a conjuntura actual em que vivemos, de forma a definirmos a estratégia mais apropriada.
Neste sentido, a atual conjuntura, leva-nos a considerar as seguintes abordagens:
Conflito na Ucrânia
A instabilidade na Ucrânia não deve ser descurada. O cenário do aumento da escalada de violência nessa zona geográfica pode afectar a confiança dos investidores num mercado cada vez mais global. Ainda neste capítulo, importa considerar que o sector financeiro europeu tem uma exposição superior a $180 mil milhões à Rússia, de acordo com dados de Junho 2013 do BIS; tendo os bancos franceses uma exposição próxima de $ 50 mil milhões; Itália com $ 27mil milhões e Alemanha com $ 26 mil milhões.
A FED e o BCE
O facto da Reserva Federal ter iniciado recentemente um processo, que se espera relativamente rápido, de diminuição do pacote de ajudas à economia norte-americana, presume que esta já não esteja tão dependente dele. Adicionalmente, verifica-se que os níveis de inflação ainda permanecem baixos, apesar dos indicadores mensais mais recentes sobre o desemprego divulgados no início deste mês de Maio terem surpreendido pela positiva. No entanto, a FED irá considerar a qualidade dos números do mercado de trabalho assim como a sustentabilidade do mesmo, não se ficando na taxa de referência dos 6,5% de taxa de desemprego. Nesse sentido, é válido pensarmos que os níveis reduzidos de taxas de juro possam manter-se durante mais algum tempo, o que seria uma boa notícia para os mercados. Para já, no atual contexto, ganha reforço o cenário de início de subida das taxas de juros no EUA na 1ª metade de 2015.
Relativamente ao BCE, o atual contexto de baixa inflação está a obrigar o BCE a considerar medidas não convencionais, surgindo como pano de fundo, o cenário de Quantitative Easing, tendo este cenário sido já abordado nas reuniões do órgão de decisão do BCE. Assim, um papel mais activo por parte do BCE, será um elemento catalisador para um aumento da confiança dos investidores, decorrente do cenário do aumento da liquidez no sistema financeiro.
Assim, o sentimento positivo que tem sido visível nos mercados, parece estar suportado na expectativa de uma melhoria dos resultados das empresas para os próximos trimestres, e por uma economia norte-americana em crescimento gradual e o cenário de uma maior atividade por parte do BCE. No entanto, a atual situação da Ucrânia assim como a as notícias sobre a atividade económica na China, poderão inverter o atual sentimento dos investidores.