Uma década de crescimento para os ativos geridos

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Thomas Tilley. Créditos: Cedida (EFAMA)

TRIBUNA de Thomas Tilley, economista sénior da EFAMA.

Ao longo dos últimos dez anos, a indústria de gestão de ativos europeia tem mostrado um crescimento impressionante. O total de ativos geridos na Europa (fundos e mandatos de investimento) aumentaram de 13,6 biliões de euros em 2011 para 32,5 biliões no final de 2021, uma taxa de crescimento de 138%.

Centrando-se apenas em fundos, o crescimento de UCITS e fundos de investimento alternativo (AIF) na Europa foi ainda mais notório, os ativos líquidos aumentaram de 8,4 biliões em 2011 para 21,9 biliões de euros no final de 2021, um aumento de 161%. As vendas líquidas foram positivas ao longo de toda a década, com fluxos líquidos notavelmente elevados em 2017 e 2021. As vendas líquidas de fundos acumuladas de 5,9 mil milhões de euros ao longo dos últimos 10 anos representaram cerca de 44% do total do crescimento dos fundos de ativos, com a valorização do mercado a representar a restante percentagem.

Fonte: EFAMA

Este ano provou ser, até agora, mais desafiante. A combinação da guerra na Ucrânia, o aumento da inflação e uma política monetária mais restritiva abalaram os mercados financeiros. Até agora, em 2022 (de janeiro a agosto), os investidores retiraram cerca de 200 mil milhões de euros de fundos UCITS. Isto irá muito provavelmente resultar nas primeiras saídas líquidas anuais dos UCITS em 2022 desde a crise do euro em 2011.

No entanto, a atual volatilidade do mercado financeiro apenas irá, no máximo, dificultar temporariamente os drivers de crescimento a longo prazo da indústria de fundos. Três dos principais drivers de crescimento tornaram-se cada vez mais evidentes nos últimos anos. 

  • ESG
  • Fundos passivo e custos decrescentes
  • Fundos transfronteiriços

O investimento ESG tornou-se uma tendência poderosa e inevitável. Isto deve-se parcialmente ao impulso dado pelos decisores políticos, mas é também consequência da procura crescente por este tipo de produtos por parte dos investidores. Ativos líquidos de fundos UCITS sustentáveis chegaram aos 3,1 biliões de euros no final de 2021, cerca de 24% do total UCITS. Parece que os investidores em fundos ESG são um tipo diferente de investidor, mais resiliente em tempos de volatilidade do que os outros investidores. Até agora, em 2022, os fundos Artigo 9.º SFDR, fundos verde-escuro com um objetivo explícito de sustentabilidade, atraíram 25 mil milhões de euros em fluxos líquidos. Fundos Artigo 8.º SFDR, fundos com critérios de sustentabilidade menos rigorosos, e os fundos sem qualquer critério ESG (os chamados fundos Artigo 6.º) têm registado grandes saídas líquidas. 

Fonte: EFAMA

Os ETF e fundos de índice estão a crescer em popularidade de forma estável. Devido aos seus atributos de liquidez e baixos custos, a popularidade dos ETF tem aumentado de forma estável nos últimos anos. Os ativos líquidos dos UCITS ETF aumentaram de 7,2% de ativos líquidos UCITS de longo prazo em 2017 para 10,7% no final de 2021. A percentagem de fundos de índice também cresceu gradualmente durante o mesmo período, de 6% para 8%. Até agora em 2022, os ETF continuam a atrair fluxos líquidos, ao passo que é principalmente nos fundos ativamente geridos onde se concentram as saídas.

Fonte: EFAMA

Os fundos passivos têm vindo a baixar continuamente as suas comissões e custos nos últimos anos, impulsionados pelo aumento da concorrência, avanços tecnológicos, mais transparência e economias de escala. O crescimento dos fundos passivos também coloca pressão no sentido da diminuição das comissões dos custos dos fundos ativos. Durante o período de 2017-2021, o custo médio dos fundos de ações e obrigações geridos ativamente diminuiu 9% e 11%, respetivamente.

A percentagem de ativos de fundos transfronteiriços tem aumentado de forma estável ao longo da última década, atingindo os 50% no final de 2021, em comparação com os 39% em 2010. Nos últimos anos, o crescimento dos fundos transfronteiriços foi em grande medida impulsionado por fortes vendas líquidas destes fundos fora da Europa. Isto ilustra o sucesso dos UCITS como uma marca global e confirma a sua popularidade na Ásia e na América do Sul. Estas fortes vendas fora da Europa revelam como temos desenvolvido, na Europa, um enquadramento robusto que se tornou um padrão de ouro para a distribuição internacional de fundos transfronteiras.

Fonte: EFAMA