Os selecionadores de ETF exigem rigor na hora de classificar os produtos como artigo 9º

Natalia Salcedo (BBVA AM), Pablo García (CaixaBank AM), Carlos Pinto (Optimize Investment Partners) y María Folqué (FundsPeople). Créditos: FundsPeople

O mundo dos ETF não é alheio a todo o turbilhão do investimento sustentável. O Green MiFID, em vigor desde agosto, que afirma que o teste de idoneidade realizado aos clientes deve incluir também perguntas sobre as suas preferências de sustentabilidade, mostra a clara preferência dos clientes por este ramo de investimento. É, por isso, urgente fornecer um produto para este mercado e os ETF têm vantagem. Porquê? Pablo García, diretor de Arquitetura Aberta & Seleção de ETF da CaixaBank AM, explica que, perante esta situação em que são exigidos produtos sustentáveis, “os ETF são mais rápidos e eficientes na hora de estabelecer uma oferta para estas necessidades de forma mais avançada”. No entanto, ressalta a necessidade de rigor nos produtos classificados como artigo 9º e de evitar um processo de derating.

Uma opinião partilhada por Natalia Salcedo, gestora sénior de Carteiras da BBVA AM, e Carlos Pinto, gestor sénior de Investimentos da Optimize Investment Partners, os três oradores que participaram na segunda mesa redonda do evento Tendências e oportunidades de investimento na indústria de ETF organizado pela FundsPeople. O objetivo deste debate era partilhar ideias sobre as tendências do mercado e oportunidades de investimento dentro da indústria de gestão indexada a partir do ponto de vista dos gestores e selecionadores de ETF. E foi possível graças à colaboração da DWS Xtrackers, Fidelity International, Invesco, iShares by BlackRock, J.P. Morgan Asset Management e StateStreet Global Advisors SPDR.

Assim, neste contexto onde a tendência principal foi o auge do investimento sustentável, Natalia Salcedo também destacou que “todas as mudanças na regulamentação significaram uma adaptação das gestoras e para os selecionadores foi difícil identificar que tipo de proposta tem cada produto que se oferece”. Devido, sobretudo, à “importante heterogeneidade que há nesta área”.

Uso dos ETF

O facto é que os ETF são cada vez mais utilizados pelas equipas de alocação de ativos e não apenas como parte satélite da carteira. Estão a ser utilizados estruturalmente como investimento core, sobretudo nos mercados mais eficientes, onde é difícil gerar alfa.

Pablo García salienta que é na gestão discricionária das carteiras que se observa uma maior procura por ETF em Espanha. Embora explique que “não de forma direta, mas de forma indireta através de fundos índice alimentados por ETF”, o que também “permite ter uma diversidade de fornecedores em cada carteira”. A razão, neste caso, é a regulação espanhola, que não confere aos ETF o mesmo estatuto que ao fundo de investimento, pelo que não tem a mesma vantagem fiscal.

Simultaneamente, a complementaridade entre os ETF e a gestão ativa também foi comentada, como já tem sido argumentado pelos fornecedores de ETF. De facto, Pablo García explicou que os gestores de gestão ativa estão a incorporar ETF para conseguir essa liquidez extra em carteiras de obrigações. Embora ainda de forma incipiente, argumentou que “faz sentido, uma vez que em períodos de stress permite manter a estrutura”.

Processo de seleção de ETF

O processo de análise do produto também foi debatido, uma vez que se torna uma das fases cruciais para o seu trabalho. Na hora de selecionar ETF, Pinto destaca como critérios-chave a diversificação e a exposição a mercados emergentes, bem como a mercados com poucas alternativas de arbitragem. Além disso, considera o tracking error e a liquidez como principais características para a seleção de ETF.

Por sua vez, Salcedo também assinala a importância do tracking difference. Explica a importância de analisar outros aspetos além do TER e da comissão de gestão, tais como outros custos: swap, vantagem fiscal, o swing price. No caso da liquidez é também fundamental para a seleção de ETF. A eleição desta qualidade entre as mais importantes está de acordo com os resultados do inquérito sobre o uso de ETF realizada pela FundsPeople, no qual, ao serem questionados sobre o aspeto mais importante na hora de selecionar um ETF, 70% dos investidores indicaram a liquidez.

Preferência pela réplica física

Outro ponto de debate foi sobre o tipo de réplica. Embora tenha havido pouco debate, uma vez que os três oradores favoreceram claramente a física como primeira opção, deixando a réplica sintética para momentos específicos. Como explicava Pinto, “os ETF sintéticos em termos de custos de transação são muito elevados”.

Salcedo sublinhou a importância de medir a réplica através do tracking error, não só em relação ao benchmark, mas também em relação ao índice que é replicado. Neste sentido, explicava que, por exemplo, no universo de obrigações, a heterogeneidade dos benchmark é impressionante, como no caso da sustentabilidade. Daí o valor de analisar não só o benchmark, mas também o benchmark core. No caso da CaixaBank, o processo de due dilligence é duplo na hora de analisar qualquer tipo de réplica.

Falta classe de produto?

Pinto apontou os ETF em nichos de investimento como os ETF temáticos, e, em concreto, mencionou a cibersegurança. García, por sua vez, salientou que, embora o universo de ETF esteja “quase completo”, poderia ser complementado com estratégias de gestão alternativa através da réplica sintética. Indicou também que os ETF de obrigações com vencimento previamente estabelecido em que se pode entrar ao longo da vida do produto pode ser outra alternativa de produto. Por último, Salcedo assinalou a necessidade de incorporar commodities nas carteiras através dos ETF, mas realizando uma análise profunda das alternativas.