Perspetivas para o investimento em obrigações

pequeno almoco lazard
Eléonore Bunel, Luís Sancho, Carlos Pinto e Rita González. Créditos: Vítor Duarte.

Num pequeno-almoço organizado pela FundsPeople em parceria com a Lazard Fund Managers, quatro gestores de carteiras e especialistas expressaram as suas opiniões sobre as melhores oportunidades para 2023 e sobre a nova ferramenta de desfragmentação implementada pelo BCE. O cenário é claramente diferente e existem oportunidades dentro de diversos segmentos do mercado obrigacionista.

“Durante praticamente todo o ano de 2022 estivemos negativos em duração, nos nossos portefólios a média rondou os menos quatro anos. Começamos 2023 quase neutros, mantendo alguma exposição curta no mercado de dívida americana, mas fechando as posições na Europa”, assim começou Eléonore Bunel, responsável de Fixed Income da Lazard Fund Managers. A responsável tem agora uma visão muito mais positiva para este fator de risco. Para a entidade gestora francesa, “o carry é agora suficiente para suportar os níveis de volatilidade que nos esperam”. Esta dá ainda um exemplo: “Se ocorrer um alargamento dos spreads e posteriormente uma contração, o resultado é praticamente neutro, porém agora somos bem remunerados por manter o título em carteira”.

A opinião é consensual, no entanto, a aposta dos especialistas não é uniforme. No segmento de High Yield, Eléonore Bunel destaca oportunidades em “dívida BB forte, nas rising stars e, sobretudo, em dívida subordinada de entidades financeiras”.

Carlos Pinto, gestor de carteiras sénior na Optimize Investment Partners, concorda e revela que, para ele, é “mais vantajoso estar exposto a este tipo de dívida do que propriamente à componente acionista do setor financeiro“. O gestor baseia a análise na limitação dos bancos em distribuir dividendos enquanto continuam a pagar yields elevadas por este tipo de dívida. Não obstante, Carlos Pinto, acautela para “um possível alargamento dos spreads na componente de high yield resultante duma má época de resultados”.

Para Luís Sancho, gestor de carteiras na BBVA AM, o ponto ótimo está na dívida corporativa, num intervalo entre os dois e os quatro anos. O gestor está confiante que esta componente apresenta “o melhor perfil retorno/risco” e afirma ainda: “O segmento obrigacionista está de volta”. Rita González, responsável de Investimentos na Baluarte Wealth Advisors, vai ainda mais longe e aponta para uma duration superior a cinco anos. Para a responsável “uma época de resultados negativa pode originar um movimento de sell off, mas numa parte mais curta da curva”. “Entre os cinco e os 10 anos o efeito não deve ser tão acentuado”, antevê Rita González.

O impacto da nova ferramenta de desfragmentação do BCE

A responsável da Lazard revelou que, na sua maioria, os fundos da Lazard tendem a investir em países da periferia europeia: “Na sua generalidade, gostamos de dívida de países da periferia, como é o caso de Portugal, Itália e Grécia. Atualmente temos uma posição tática em dívida italiana”

Esta reflexão deu o mote para o impacto da ferramenta de desfragmentação recentemente implementada pelo BCE. Carlos Pinto avança: “A nova ferramenta de desfragmentação implementada pelo Banco Central Europeu visa controlar os spreads nos países periféricos. Isto é fundamental para impedir a subida descontrolada dos spreads em países com menor qualidade creditícia. É fundamental para a União Europeia preservar a coesão e a estabilidade dos países que cumprem os critérios financeiros exigidos”.

Luís Sancho concorda com a visão mencionada e acrescenta ainda uma opinião. O gestor acredita que a aceitação de alguma mutualização de dívida de países como a Alemanha e França para financiar projetos com impacto no longo prazo, como projetos de energia renovável ou defesa, podem também funcionar como uma importante ferramenta na mitigação da fragmentação financeira. Em suma, o gestor acredita que a ferramenta cumprirá o seu objetivo e que as dinâmicas em curso poderão mesmo contribuir para uma diminuição da fragmentação financeira.

Por fim, Eléonere Bunel afirma que a chave está no processo de decisão político e pensa que “se um país não cumprir com os requisitos financeiros, o BCE vai intervir”.

Altura de ser ativo

Finalmente, falou-se do quanto 2023 poderá mostrar a importância da gestão ativa: “O ano de 2022 foi um ano de beta, 2023 vai ser um ano para a gestão ativa”. Segundo Eléonore Bunel: “No ano anterior, a diferença de rentabilidade entre o melhor emitente e o pior era negligenciável, a queda foi generalizada. Para 2023 não será este o cenário, é particularmente importante escolher os emitentes e manter um controlo apertado sobre os mesmos”. Esta opinião foi, de seguida, subscrita por todos os intervenientes.