Petróleo e mercados emergentes: uma faca de dois gumes

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London Commodity Markets, Flickr, Creative Commons

O preço do petróleo caiu este ano como resultado do aumento da volatilidade na maioria dos mercados e devido a um desequilíbrio temporário entre a oferta e a procura”. Assim começa Mark Mobius, o guru da Franklin Templeton Investments, o seu último post, que analisa a interação entre a queda do preço de petróleo e os mercados emergentes.

Tendo em vista a continuação do crescimento mundial a longo prazo, principalmente nos mercados emergentes e nos fronteira, o gestor acredita que “o preço do petróleo não vai continuar esta tendência. Acreditamos que a procura por matérias-primas, incluindo o petróleo, minérios, cobre, níquel ou produtos agrícolas, está ainda susceptível de aumentar, com o crescimento global”.  O especialista aponta o dedo à “especulação e à negociação de curto prazo” para a recente queda dos preços. De notar que nos últimos dois meses, o petróleo sofreu a sua maior queda desde da crise financeira global que ocorreu em 2007-2009.

Para Mark Mobius, “se a oferta continuar como até agora, vai ter impacto sobre os preços. No entanto, se olharmos para os padrões de consumo a longo prazo, vemos que a tendência geral é para subir e não para descer, sendo que as economias emergentes têm vindo a impulsionar esse crescimento”.

O gestor compara mesmo os estados-membros com os mercados emergentes no que toca ao consumo de petróleo. “O gráfico abaixo mostra que os países que não pertencem à OCDE já ultrapassaram os estados membros em termos de consumo de petróleo e está previsto um aumento nos próximos anos”, explica Mobius.

China: crescimento ou desaceleração?

O especialista afirma, também, que “o crescimento mais lento na China tem sido citado como uma razão para a queda dos preços do petróleo, mas se observarmos com mais atenção encontramos uma situação diferente.  Claro que o seu crescimento (PIB) já não é de dois dígitos, sobretudo porque a linha de base é, neste momento, superior”.

Ainda assim, o gestor acredita que o crescimento não é um problema. “Em 2010, quando a China crescia cerca de 10%, 844 mil milhões de dólares foram adicionados à economia. Em 2012 o crescimento foi de 8% mas mais de 900 mil milhões de euros entraram na economia. Por isso, o crescimento do PIB foi menor em termos percentuais, embora o impacto na economia tenha sido muito superior”, explica.

Impacto da queda do preço do petróleo para as economias emergentes

Sobre o impacto que a queda do preço do petróleo pode ter nas economias emergentes, Mobius é mais acertivo. “A maioria dos consumidores prefere, de forma natural, que os preços da energia sejam baixos, mas olhando para o seu impacto económico, os preços baixos do petróleo podem comparar-se a uma faca de dois gumes. Nos países que dependem fortemente das exportações de petróleo, uma queda prolongada do preço pode ser prejudicial”.

O gestor destaca países como a Nigéria ou a Rússia. Sobre o primeiro, Mobius relata que o “governo da Nigéria depende fortemente do petróleo para o seu orçamento; o sector do petróleo e do gás corresponde a cerca de 35% do PIB e as receitas da venda do petróleo correspondem a cerca de 90% do total das exportações. Se essas receitas derrapam, os líderes do país teriam de tentar reavivar a economia através de algumas reformas”.

Sobre a Rússia, Mobius afirma que o “país continua fortemente dependente das receitas de energia e se o preço não recuperar rapidamente poderá sofrer um grande impacto. Combinado com as sanções relacionadas com a Ucrânia, os líderes russos acreditam numa recessão em 2015”.

Assim, afirma que “a maior preocupação, do ponto de vista do investimento, é a volatilidade, não só do preço do petróleo mas também das ações relacionadas com o sector”.