A Natixis IM não está a tentar ser a maior, mas sim a mais relevante. O seu CEO explica como a pressão sobre as comissões e o aumento dos custos estão a redefinir a indústria da gestão de ativos.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
Colocar o cliente no centro e adotar uma abordagem extremamente ativa pode não parecer uma novidade relevante no mundo da gestão de ativos. No entanto, após numerosas mudanças no mercado, tanto a nível da indústria como da regulamentação, voltar aos fundamentais parece ser um excelente caminho a seguir. Isto ajuda a lidar com a volatilidade e as incertezas. Philippe Setbon, CEO da Natixis IM desde dezembro de 2023, está convencido disso. “Todos os nossos esforços visam satisfazer as necessidades dos clientes e tentar oferecer-lhes o que eles pedem e o que realmente precisam”. Estas palavras foram sublinhadas pelo profissional durante a Thought Leadership Summit, organizada recentemente pela empresa em Paris.
Outro dos pontos destacados pelo CEO foi a importância da consolidação da gestão ativa num contexto de normalização das taxas de juro. Salientou também a importância crescente dos ativos privados. Além disso, referiu o imperativo de alcançar economias de escala na indústria. Num ambiente caracterizado pelo fim da era das taxas de juro ultra-baixas e pela pressão sobre as comissões de gestão, Philippe Setbon sublinhou que o futuro do setor dependerá da sua capacidade de adaptação às novas exigências dos clientes. Dependerá também da sua adaptação a um ambiente cada vez mais competitivo.
O regresso da gestão ativa
O ADN da Natixis IM mantém-se inalterado: um player internacional com múltiplas afiliadas. Philippe Setbon reafirmou a sua posição de que “a gestão ativa está de volta”, recordando que a era das taxas de juro zero foi uma anomalia que afetou negativamente o papel dos gestores ativos. “Durante 30 anos, a gestão passiva ganhou quota de mercado, em parte porque muitas estratégias vendidas como ativas não o eram realmente”, afirma o CEO da Natixis, criticando o modelo de gestão com baixo tracking error em relação aos índices.
Em contrapartida, argumentou que a Natixis IM aposta numa filosofia de investimento baseada em elevada convicção, o que implica decisões que se afastam dos índices de referência e uma gestão verdadeiramente diferenciada.
Mercados privados, tratar com cautela
Como referido anteriormente, o CEO está consciente de que as soluções para os mercados privados atraem um número crescente de clientes. “O nosso trabalho deve consistir em transformar os dados em informações que permitam aos nossos investidores tomar as melhores decisões. É por isso que só investimos nestes mercados com base numa abordagem de high conviction. Isto também nos distingue nos mercados públicos”.
Um dado que diz tudo: 85% da economia mundial está fora dos mercados públicos. “Não podemos ignorar este facto”, explicou, sublinhando que os ativos privados oferecem um prémio de iliquidez interessante. Podem melhorar o perfil de rentabilidade das carteiras a longo prazo.
No entanto, Philippe Setbon destacou dois desafios principais para a democratização destes ativos:
- Educação dos investidores: “Não basta que os produtos estejam disponíveis numa plataforma digital. Os investidores devem ser instruídos sobre a forma de integrar os ativos privados na sua estratégia financeira”. Para o efeito, a Natixis IM estabeleceu acordos com instituições especializadas em educação financeira.
- Tokenização: a tecnologia blockchain pode facilitar a negociação secundária de ativos privados, oferecendo soluções de liquidez. “A tokenização é fundamental para o futuro do setor, uma vez que permitirá que mais investidores acedam a ativos ilíquidos com maior flexibilidade”, afirma.
Além disso, a Natixis IM deu passos nesta direção com o lançamento do seu fundo evergreen de ativos privados através da Flexstone Partners. O objetivo é oferecer estruturas mais acessíveis aos clientes individuais.
Principais tendências da indústria
Se fizermos uma comparação com os anos anteriores, verificamos que a segmentação dos clientes era mais rígida e definida. “Após a crise financeira, há uma maior convergência entre os proprietários de ativos e os gestores de ativos. Isto porque é necessário capital para gerar novos retornos para os clientes e novos recursos”, diz Philippe Setbon.
Há outras tendências que estão a afetar a indústria. Por um lado, a consolidação dos players globais. Mas, ao mesmo tempo, a criação de sucursais e centros locais para responder a algumas necessidades regionais. Um aumento estrutural dos custos de gestão, a compressão das comissões e um negócio cada vez mais intensivo em capital, especialmente devido ao crescimento dos ativos ilíquidos, fazem com que o verdadeiro desafio que Philippe Setbon tem em mente seja o de não conseguir passar estes custos para o cliente final.
Um ano de grandes conquistas
2024 foi um ano interessante para a Natixis IM. “Seguimos etapas bem definidas, como a adaptação do nosso modelo de distribuição (um exemplo é a Vega Investment Solution). Implementámos uma segmentação mais precisa dos nossos clientes. Além disso, compreendemos como melhorar a nossa eficiência e rentabilidade através do nosso serviço IT e operações. Isto para servir melhor todas as nossas afiliadas. Também tentámos manter-nos competitivos em termos de custos de produção, no mercado e para os nossos clientes”, sublinha o profissional.
Neste sentido, destacou alguns dos êxitos recentes da entidade:
- Loomis Sayles, com entradas líquidas de 60.000 milhões de dólares nos últimos dois anos.
- Ostrum Asset Management, que captou 16.000 milhões de euros num mandato institucional em Itália.
- Natixis IA, que atraiu quase 6.000 milhões de euros em 2024.
Além disso, em janeiro de 2024, a empresa anunciou um Memorando de Entendimento (MoU) com a Generali. As conversações entre as duas entidades estão em suspenso até à reunião de 24 de abril, que tem como ordem de trabalhos a eleição do novo conselho de administração da Generali, para explorar a integração das suas plataformas de gestão. Este movimento poderá reforçar a sua escala e capacidades globais. “A consolidação não é uma opção, mas uma necessidade. A pressão sobre as comissões continua a existir e as gestoras de ativos que não alcançarem economias de escala terão dificuldade em competir”, alertou Philippe Setbon.
Para concluir, num cenário de investimento em contínua evolução, a Natixis IM está empenhada numa gestão ativa de elevada convicção, na expansão dos ativos privados e no crescimento através da consolidação. A combinação destes três fatores será fundamental para se adaptar a um contexto em que os clientes procuram soluções cada vez mais sofisticadas e personalizadas. “O cliente deve estar no centro de todas as nossas decisões, e não apenas num slide de PowerPoint”, concluiu o CEO da Natixis.