Os investidores não conseguirão dormir tranquilamente, pelo menos por enquanto. Os mercados continuam voláteis, com uma série de fatores que continuam a ser protagonistas. A inflação persistente, os bancos centrais agressivos e a perspetiva de uma recessão profunda. Mas algo se destaca: o regresso das obrigações como instrumento rentável para os investidores. Os especialistas da PIMCO, que recentemente apresentaram o seu Cyclical Outlook à imprensa especializada, estão convencidos disso.
Incerteza em ambos os lados do Atlântico
Incerteza, como já mencionamos, é a palavra-chave para interpretar este último trimestre de 2022. Tanto na Europa como nos EUA. Konstantin Veit, gestor de Carteiras Europeias da PIMCO, explica que no seu cenário base esperam recessões pouco profundas nos mercados desenvolvidos. Especialmente na zona euro e no Reino Unido, que estão a lidar com a agitação após a guerra da Ucrânia. Também consideram provável que o PIB real dos Estados Unidos diminua modestamente.
No entanto, segundo os especialistas da PIMCO, há ainda dois dados que devem ser vigiados: o aumento do desemprego e a inflação persistentemente superior ao objetivo. “Esta tem sido uma combinação que tem colocado os bancos centrais numa posição difícil. Contudo, em geral, as suas ações até agora indicam que as instituições centrais estão plenamente focadas na luta contra a inflação. Nos EUA, por exemplo, esperamos que a Reserva Federal suba as taxas de juro de referência até um intervalo de 4,5% a 5% antes de fazer uma pausa para avaliar os efeitos do endurecimento da economia”, afirma Tiffany Wilding, economista para a América do Norte na PIMCO.
O regresso das obrigações
Como foi mencionado no início, este pode ser um período bom para os investimentos em obrigações. “Acreditamos que hoje podemos esperar que os mercados de obrigações de alta qualidade ofereçam rendimentos muito mais em linha com as médias a longo prazo. Também somos da opinião de que a parte curta das curvas de yields, na maioria dos mercados, já desconta suficientemente o endurecimento monetário”, comenta Andrew Balls, diretor de Investimentos Globais de Obrigações na PIMCO.
Entre as oportunidades de investimento que os especialistas da PIMCO recomendam, encontra-se a combinação da exposição aos rendimentos de alta qualidade do índice de referência - que cresceu significativamente durante o último ano - com a exposição seletiva a setores de alta qualidade de spread, com a adição do alfa potencial da gestão ativa. “Acreditamos que o potencial de rentabilidade é convincente à luz das perspetivas cíclicas e que muitos investidores possam ser recompensados por voltar a investir em obrigações”, explicam
Não só isso, durante a sua análise os especialistas reiteram que as correlações negativas mais normais entre as obrigações de alta qualidade e as ações podem reaparecer, reforçando as características de cobertura das obrigações básicas de qualidade, que geralmente se espera que valorizem quando as ações caiem. Além disso, as maiores yields oferecidas nos mercados de obrigações na atualidade podem ajudar a recompensar aqueles que decidam esperar por este período de incerteza e potencialmente de maior volatilidade.
A paciência recompensará o investidor
No entanto, os especialistas da PIMCO coincidem num fator: é necessário cautela. “Se a inflação é mais rígida do que esperamos, os bancos centrais podem ser obrigados a aumentar as taxas mais do que os mercados estão atualmente a descontar. E se as recessões forem tão pouco profundas como esperamos, irão demorar a fazer cortes em taxas que estimulem o crescimento, dada a elevada inflação base”, comentam.
Portanto, Balls reitera que nas carteiras de obrigações básicas este é um contexto em que estamos preparados para tomar a decisão ativa e deliberada de reduzir o risco numa série de fatores de risco e conservar munições (isto é, manter liquidez). A gestão da liquidez é sempre importante, mas é especialmente importante num contexto de mercado difícil e de grande incerteza. “De acordo com as nossas perspetivas a longo prazo, pretendemos manter carteiras que sejam resistentes a uma série de resultados económicos, geopolíticos e de mercado”, conta.
Em conclusão, segundo os especialistas, as melhores oportunidades vão chegar para os investidores que conseguem manter posições pacientes e que têm liquidez. “O fosso entre os mercados públicos e privados quanto às avaliações dos ativos continua a ser extremo, mas à medida que os mercados privados se ajustam e as dificuldades no espaço do crédito corporativo e imobiliário se tornam evidentes, devem surgir oportunidades para potencialmente gerar yields elevadas. Esta é uma das nossas opiniões mais fortes”, concluem.