Previsões macro (II): O que esperar da economia em 2019?

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RoySmiths, Flickr, Creative Commons

Chega ao fim mais um ano complicado para o investidor em que a economia e a geopolítica recuperaram a sua influência nos mercados. Com os bancos centrais a iniciar a sua retirada de estímulos, o estado do crescimento mundial e, consequentemente os lucros empresariais, assumem maior relevância. Por isso, neste segundo artigo, as gestoras internacionais continuam a partilhar as suas previsões macroeconómicas para 2019.

J.P. Morgan Asset Management​

Karen Ward, Diretora Geral, Estratégista de Mercado Chefe da EMEA

Karen_Ward_ JPMorgan O crescimento superior da economia dos EUA é pouco provável que persista ao longo de 2019, à medida que os efeitos dos estímulos fiscais diminuem. O crescimento nas principais economias desenvolvidas deve voltar a convergir ao longo de 2019 para um ritmo mais lento, em comparação com os padrões mais recentes, graças em grande medida à abordagem mais hostil ao comércio por parte de Washington. Globalmente as empresas estão a adiar o investimento e mostram-se mais hesitantes em relação à contratação.

O crescimento dos lucros das empresas também deve convergir para uma taxa de crescimento mais lenta, mas ainda assim positiva. Os investidores podem procurar portfolios mais diversificados a nível regional e reduzir o risco ao concentrarem-se em ações de qualidade e maior valor em setores historicamente defensivos.

A Reserva Federal norte-americana (Fed) pode tornar-se mais dependente de dados e é pouco provável que as taxas subam muito depois do primeiro semestre. Um crescimento mais lento pode dificultar as tentativas do Banco Central Europeu (BCE) de normalizar a sua política de regulação. As condições monetárias globais permanecerão relativamente folgadas, proporcionando algum consolo para os investidores que estavam preocupados com o fato de a Fed travar o ímpeto.

Os investidores do Reino Unido enfrentam o maior dilema. Uma resolução para o impasse atual do Brexit será boa para a economia, mas provavelmente desafiará as Gilts e as ações do Reino Unido com foco internacional em 2019.

Legg Mason Global Asset Managment

Ken Leech, gestor do fundo Legg Mason Western Asset Mecro Opportunities Bond:

8c033d8c42686d24As nossas perspetivas atuais para 2019 apontam, de um modo geral, para uma redução ligeira do crescimento e da inflação à escala mundial. Acreditamos que é provável que a recuperação que temos vindo a observar desde a crise financeira global de 2008 abrande e que continue a requerer apoio no plano monetário. O desenlace das tensões comerciais entre os EUA e a China e as medidas dos bancos centrais constituem os elementos chave que determinarão os acontecimentos futuros.

Acreditamos que o otimismo a respeito do crescimento dos Estados Unidos é um pouco exagerado, tal como o pessimismo sobre a letárgica taxa de crescimento global. Assim, esperamos uma ligeira desaceleração nos EUA e um aumento da expansão económica no resto do mundo. Os mercados emergentes, embora mostrem um elevado nível de volatilidade, poderão ter retornos superiores. Nos EUA, apostamos numa taxa de inflação mais reduzida, à medida que o endurecimento da política monetária da Fed começar a dar frutos e que a excessiva taxa de crescimento registada recentemente se modere. De um modo geral, esperamos que a recuperação mundial siga o seu curso, se bem que a um ritmo mais reduzido que não estará isento de dificuldades.

M&G Investments

Jim Leaviss, chefe de obrigações de retalho da M&G:

cdb52a11b66a7fc3Embora a Fed não esteja a vender ações de forma ativa, a sua ausência nos mercados como comprador é muito relevante, especialmente num momento em que a oferta só pode aumentar. Espera-se que as reservas de obrigações do Tesouro dos Estados Unidos, obrigações de hipotecas titularizadas e outros ativos da Fed diminuam cerca de 3 mil milhões de dólares em dois anos.

O BCE também está a começar a retirar o seu programa de flexibilização quantitativa apesar das turbulências nos mercados de obrigações italianos e de uma persistente taxa de inflação subjacente centrada num nível próximo de 1%, muito abaixo do objetivo do banco central, de 2%.

Se procuramos crescimento, os mercados emergentes parecem estar a registar melhores níveis do que o universo desenvolvido, e prevê-se que esta tendência se mantenha. Para alívio destes mercados, o fortalecimento do dólar poderá ser contido por um défice orçamental crescente nos EUA e por uma possível desaceleração do crescimento do país.

O único aspeto que parece seguro é que a volatilidade chegou para ficar, mas trás consigo oportunidades.

DWS

Stefan Kreuzkamp, Chief Investment Officer:

807b6e12c09de429Os principais indicadores económicos mantêm-se firmes e, por isso, é possível prever, para 2019, um crescimento de 3,6% para a economia mundial, de 1,6% para a zona Euro, de 2,4% para os EUA e de 6% para a economia chinesa.

Em contrapartida, na DWS não esperamos que em 2019 se finalize o ciclo de crescimento que está em curso há dez anos. Contudo, existe uma série de riscos que ameaçam a capacidade do mercado de se manter em alta como, por exemplo, o conflito comercial entre os EUA e a China: as recentes quedas na bolsa demonstram o quão desesperados estão os mercados por uma resolução desta disputa comercial. Além disso, outro acontecimento a ter em conta em 2019 é a incerteza que o Brexit causa, pois terão de ser renegociados um total de 759 tratados entre a União Europeia e o Reino Unido.

Nordea Asset Managment

Witold Bahrke, responsável sénior da estratégia macroeconómica:

b2df20cc3e20af26A economia dos Estados Unidos avança a todo o vapor enquanto a da China continua a diminuir apesar dos renovados estímulos fiscais e monetários.

As condições monetárias, impulsionadas por uma economia sólida nos Estados Unidos, estão a tornar-se demasiado restritivas para o conjunto da economia global. Portanto, prevemos que a desaceleração mundial siga o seu curso. Neste contexto as ações não estarão longe de tocar em máximos.

Os ativos de risco deverão continuar a sofrer pressões no primeiro semestre de 2019, enquanto que a segunda metade do ano pode trazer consigo uma trégua para os investidores, já que as notícias más passaram a ser boas: os fatores favoráveis para a economia dos Estados Unidos deverão desaparecer devido à intensificação dos riscos externos, o que permitirá à Fed suspender as suas medidas de ajuste monetário.

Schroders

Keith Wade, economista chefe:

df13ba02edbcf3d0A economia mundial continua a expandir-se, mas não existem indícios de que o crescimento tenha alcançado o seu auge tendo em conta a desaceleração das economias dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia. Acreditamos que as tensões comerciais entre os EUA e a China se mantenham até a meio do próximo ano e o crescimento das taxas criará um ambiente mais “estagflacionista” caracterizado por um menor crescimento e uma maior inflação. De acordo com as nossas previsões, o crescimento económico global vai abrandar e situar-se-á nos 2,9% em 2019.

Apesar da desaceleração do crescimento económico e da queda dos preços do petróleo, temos aumentado as nossas previsões de inflação global até 2,9% para 2019. Em contrapartida, nas economias desenvolvidas, baixámos as nossas previsões de inflação como resultado das revisões em baixa do Japão e do Reino Unido.

Em relação às decisões de política monetária por parte dos bancos centrais, na nossa opinião, a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) levará a cabo três subidas de taxas de juro adicionais, o que levará todas as taxas dos fundos federais ao nível máximo de 3% em junho de 2019. Entretanto, espera-se que o Banco Central Europeu (BCE) ponha fim ao seu programa de compra de ativos em janeiro de 2019 e suba as taxas de juro em setembro.

No que diz respeito às moedas, acreditamos que a combinação de máximos de taxas dos Estados Unidos com o início de um endurecimento das políticas monetárias no resto das regiões se traduzirá numa depreciação do dólar em 2019. Para os mercados emergentes, um dólar mais débil podera ser positivo para as suas perspetivas.

UBS Asset Management

Álvaro Cabeza, responsável de desenvolvimento de negócio em Ibéria:

8ba66d62db071cffNa opinião da UBS AM, a sobreponderação de ações em conjunto com as posições de valor relativo e de cobertura nas carteiras, é o posicionamento mais adequado para começar 2019.

Esperamos que a volatilidade continue. Tanto a desaceleração do crescimento global como o começo de políticas monetárias restritivas e os riscos geopolíticos, implicam desafios para o novo ano, sendo aconselhável fazer cobertura das carteiras.

Porém, os indicadores habituais de consumo, investimento e emprego, não alertam sobre uma possível recessão, pelo que permanecer investido será fundamental. Os níveis de inflação permanecerão suficientemente reduzidos para que o ajuste monetário seja gradual e o preço de muitos ativos já se tenha ajustado para atribuir um valor a uma perspetiva mais incerta.

Por último, consideramos que os fatores de sustentabilidade continuarão a dar valor às carteiras.