Divisão de opiniões das gestoras internacionais sobre os factores que têm provocado a nova correção do mercado de ações chinês.
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Na semana passada a bolsa chinesa voltou a viver outra jornada agitada marcada pela promessa de mais liquidez por parte das autoridades chinesas para tranquilizar os investidores – especialmente os de retalho – bem como por uma forte volatilidade.
Segundo o que constata Monica Defend da Pioneer Investments, estes altos e baixos não foram fruto de uma queda exorbitante dos volumes de negociação, tendo em conta que parte das medidas adotadas pelas autoridades chinesas para controlar o financiamento das margens dos investidores de retalho chineses contribuíram para travar a atividade das últimas semanas: “Apesar de ter caído mais de um terço a partir dos seus níveis mais altos, a participação nos mercados de ações domésticos continua a ser alta. No entanto, os investidores estão em apuros para manter as suas posições se o governo chinês não puder conter a volatilidade do mercado”, constata.
Defend, responsável global de alocação de ativos da Pioneer, interpreta esta última correção como a reação à publicação na quinta-feira da semana passada de um PMI mais débil do que o esperado em julho (48,2 pontos face aos 49,7 previstos). No entanto, a especialista afirma que “de uma perspetiva macro, não deveríamos prestar muita atenção às notícias dos fluxos negativos”, porque, segundo indica, “o questionário de mercado para a China tem várias limitações: cobre uma amostra pequena de empresas industriais (420 face a 5.000 para calcular o PMI da Zona Euro) e é tendenciosa em relação às empresas pequenas, o que não pode ser muito representativo do sector industrial chinês, que inclui mais de 360.000 empresas de manufactura”. “Este sector encontra-se sobre pressão por causa da queda das exportações, mas acreditamos que poderá ter tocado no nível mais baixo, já que esperamos que a economia global recupere no segundo semestre de 2015. Para além disso, o sector da manufactura representa um terço da economia chinesa; a propriedade, a infraestrutura e os sectores dos serviços contribuem para o resto”, conclui Defend.
Assim, depois de exposta esta análise, a especialista indica que na Pioneer continuam positivos em relação ao país, embora esperem que a volatilidade se mantenha nos próximos meses. “A oportunidade continua no mercado de ações offshore de Hong Kong (ações classe H), onde as empresas com qualidade estão a negociar com 50% de desconto comparativamente com o mercado doméstico (onshore, ações classe A)”, concretiza a diretora de alocação de ativos. Esta indica que a empresa mantém ainda assim uma visão positiva sobre os lucros empresariais de alguns sectores do universo classe H, tendo em vista 2016, como por exemplo os bancos, as telecomunicações e a tecnologia. Para além disso, continuam a monitorizar tanto as iniciativas de reforma do governo como a inclusão do renmimbi chinês no conjunto de moedas com direitos especiais de saque do FMI, acontecimento que antecipam para o final do ano.
Uma correção necessária?
A postura de David Lafferty, estratega chefe de mercados da Natixis Global AM é diametralmente distinta da da Pioneer, ao afirmar que “a recente volatilidade no mercado bolsista da China está maioritariamente desvinculada do contexto económico atual do país”. O estratega assegura que “embora as expectativas para o PIB chinês tenham caído até aos 6% (a partir de cerca de 7%), a bolsa de Xangai tinha subido cerca de 150% na sua recente escalada do ano passado”, pelo que considera que “a queda de mais de 30% em Xangai durante três semanas constituiu um ajuste necessário para um mercado onde as expectativas – e as valorizações – já se tinham tornado claramente elevadas”.
Assim, para Lafferty as grandes quedas a que se assistiram desde meados de julho no mercado de ações classe A “foram simplesmente um reflexo do panorama de mercados beta, extremamente elevados, que são impulsionados pelos investidores individuais muito marginalizados na China”. Acrescenta que “o mercado de Hong Kong, onde operam a maioria dos investidores globais, refletiu a dita atividade de maneira direcional, mas tanto as perdas como os ganhos representaram apenas uma fração dos mercados de Xangai e Shenzhen”. Por isso, o especialista conclui que os “temores do mercado se contiveram principalmente dentro da China, pelo que o drama representou pouco mais do que o ruído a curto prazo para os investidores globais”.
Para o estratega, embora tenha sido o aumento da volatilidade que inundou as notícias, “encobre um problema maior a dívida”. Lafferty comenta que “a condição da economia chinesa, planificada de forma centralizada, implica que o capital pode ser limitado e divergente”. “As taxas de crescimento podem conservar-se simplesmente ao dirigir o capital mais em direção a infraestruturas e projetos para investimento de capital... pelo menos durante algum tempo. No entanto, o rally de gastos da China tem sido apoiado por um aumento massivo dos níveis gerais da dívida: nos bancos, nas instituições de crédito não bancárias (conhecidas como shadow banking) e na dívida das províncias”, aprofunda o especialista. Este compara a evolução do endividamento público na China com a situação que está a ser vivida na Grécia: “Como temos visto recentemente no caso da Grécia, e em inúmeros casos anteriores, a hora de um ajuste de contas chega inevitavelmente para todos aqueles que tenham níveis de dívida insustentáveis. Os investidores com um horizonte maior devem estar preparados para uma maior volatilidade”, conclui.