Foi uma maratona de negociações pouco ortodoxa. Mais de 17 horas foi o balanço da cimeira levada a cabo no domingo, em Bruxelas, que culminou com um acordo entre a Grécia e os parceiros europeus já perto das seis da manhã de segunda-feira. Em linhas gerais o acordo alcançado fala de uma transferência de ativos patrimoniais no valor de 50 mil milhões de euros para um novo fundo que servirá para garantir o novo empréstimo feito. Para além disso, a Grécia terá de reembolsar o BCE em mais de sete mil milhões de euros em julho e agosto. Agora é tempo do primeiro ministro grego rumar a casa e apresentar o acordo ao parlamento para ser votado. A grande questão que se coloca é perceber como é que o parlamento irá reagir às propostas europeias, mas também o próprio povo helénico.
É a esse nível que a M&G Investments opta por ser cuidadosa nos primeiros comentários que efetua. “Não devemos dar como certo que o povo grego vai aceitar o novo acordo: depois de todas as negociações este acordo vai contra muitos dos princípios do partido de Tsipras e daquilo que a população grega demonstrou de forma evidente no referendo”, indica Jim Leaviss, diretor da área de obrigações de retalho da M&G Investments.
Resolução, pelo menos de curto prazo
No curto prazo, contudo, o acordo deste domingo dá uma proteção à Grécia que quanto mais não seja é momentânea. Léon Cornelissen, economista chefe da Robeco, acredita que pelo menos no curto prazo a situação fica resolvida. “O pacote de emergência acordado este fim-de-semana é provável que mantenha a Grécia no euro, pelo menos no curto prazo, o que diminuiu o risco eminente de ‘Gréxit’ em 70%”, refere o especialista.
Ainda nesta análise de um contexto instantâneo, a M&G comenta que “o acordo ajuda na liquidez imediata, mas é demasiado insignificante para reduzir o peso da dívida grega”. Soluções mais abrangentes e radicais serão necessárias a longo prazo, dizem, até porque existe uma problemática que apelidam de “risco moral”. “Se o resgate parecer demasiado generoso outros países como Portugal, Espanha ou Irlanda, poderão ser encorajados a forçar importantes medidas de alívio da dívida pública de economias muito mais importantes”, lembram a M&G.
A autonomia grega e a aprovação do parlamento helénico
Uma das medidas de que mais se tem falado é a que contempla a colocação de aproximadamente 50 mil milhões de euros num fundo que servirá de garantia para um novo empréstimo. “As joias da coroa vão ser colocadas num fundo e outros membros da Zona Euro poderão ser capazes de as comprar. Isto irá reduzir a autonomia de crescimento da Grécia, pelo que não existe razões para que estas atividades não sejam mantidas na Grécia depois da privatização”, assegura Philippe Waechter, Economista chefe da Natixis AM (filial da Natixis Global AM).
Apesar da principal questão agora passar pela aprovação das medidas no parlamento grego, na próxima quarta-feira, Cornelissen acredita que esse não deverá ser um problema significativo “depois de se terem debilitado os apoios do governo de esquerda do Syriza liderado pelo primeiro ministro Alexis Tsipras”. O economista chefe da entidade acredita que o “governo grego já tinha perdido a sua maioria antes de Tsipras chegar a Bruxelas, e os partidos ‘amigos’ do euro apoiarão o primeiro ministro. No entanto isto poderá levantar o risco de novas eleições na Grécia”.
Reação dos mercados
A reação dos mercados à notícia de um acordo foi naturalmente de aprovação. “Os mercados responderam positivamente, com as ações a subirem e o euro a fortalecer-se ligeiramente face ao dólar norte-americano”, constatam da Robeco.
Também os ativos de maior risco - principalmente o crédito da periferia e as ações europeias, que na semana passada começaram a descontar uma saída da Grécia do euro, reagiram de forma positiva ao acordo, segundo o que relatam do Credit Suisse. Da entidade suíça preveem que “as yields das obrigações possam continuar a crescer à medida que os mercados vão considerando os riscos, mas também à medida que se vão posicionando para uma subida das taxas de juro pela Fed, no terceiro trimestre de 2015”. Nas ações, a entidade adopta uma postura neutral, “considerando os riscos prevalecentes”. A preferência da casa neste âmbito recai sobre as ações europeias, japonesas, e suíças.