Quem preparar a sua carteira no final de outubro em relação ao último trimestre do ano, já vem tarde? Não necessariamente, segundo o ponto de vista de Richard Turnill, estratega-chefe global de investimento da BlackRock. A gestora identificou três temas relacionados entre si que vão influenciar a economia e os mercados nos próximos três meses. São eles a expansão económica global sustentada e a necessidade de repensar os retornos e o risco. Com base nestes três grandes temas, Turnill sugere até seis ideias de investimento que os investidores deveriam considerar.
#1 Mais ações e menos obrigações
“Uma expansão económica firme e o forte crescimento dos lucros encaixam bem com as ações”, afirma o estratega-chefe. Aponta alguns dados adicionais, como por exemplo que, pela primeira vez desde 2005, “os lucros estão a crescer a um ritmo superior a 10% em todas as grandes regiões, excluindo o impulso pós crise”. A BlackRock está a favorecer os mercados fora dos Estados Unidos – incluindo Europa e Japão – e declara-se otimista em relação às ações de mercado emergentes, “inclusive depois do forte rally deste ano”.
#2 Procure ideias em tecnologia e bancos norte-americanos
“O setor tecnológico registou um crescimento dos lucros extraordinário e acumula em redor da metade dos retornos gerados por ações dos EUA e Ásia emergente”, explica Turnill. Dito isto, a gestora vê “um amplo potencial”.
O outro setor onde vê valor é a banca dos Estados Unidos, sendo que uma curva mais inclinada irá impulsionar as margens de concessão de crédito. Também valorizam positivamente “as perspetivas de desregulação e o incremento dos pay outs”.
#3 Não se esqueça dos fatores
A BlackRock tem vindo a insistir nos benefícios do investimento fatorial. Em particular, Turnill indica a preferência em particular pelos fatores de momentum e valor: “Acreditamos que o momentum dos países desenvolvidos tem mais potencial de subida, pois tende a fazê-lo bem em períodos de expansão. E o valor poderá beneficiar do sólido contexto macroeconómico e a melhoria do sentimento do investidor”. A última observação é importante pois Turnill constata que “a preocupação manteve os investidores longe dos segmentos do mercado com desconto.
#4 O crédito como fonte de income
Ainda que o estratega esteja consciente de que os spreads de crédito poucas vezes estiveram mais estreitos, continua a acreditar que “o crédito é uma fonte atrativa de income” e que continua a atrair “uma procura persistente, no contexto de um universo de obrigações com taxas baixas”.
Turnill adverte que as valorizações atuais implicam que “os retornos futuros venham do cupão (carry) em vez de estreitamento do spread”. Por essa razão, conclui que o crédito “oferece menos potencial de subida que as ações em termos ajustados ao risco se o cenário de expansão global sustentada se cumprir”. No entanto, também chama à atenção que no contexto atual de baixa volatilidade “espera-se que os defaults corporativos sejam limitados”. Por essa razão, o crédito que tem vindo a ser escolhido nos EUA é de alta qualidade, enquanto que na Europa preferem apostar no spread através do investimento na dívida financeira subordinada, títulos cobertos e dívida supranacional.
#5 Procure oportunidades na dívida emergente
Turnill acredita que há oportunidades em obrigações emergentes para obter rentabilidades e uma potencial apreciação do preço se se for seletivo, aproveitando o contexto de baixa inflação e baixa volatilidade das divisas num mundo emergente. Para além disso, considera que a classe de ativo beneficia assim da expansão sincronizada do crescimento, em conjunto com a melhoria dos preços das matérias-primas e a inesgotável busca por rendimentos da parte dos investidores.
Outro factor a favor é o facto dos bancos centrais dos países emergentes disporem de bastante margem para aplicar políticas monetárias ortodoxas, principalmente através do corte de taxas de juro. “Isto deverá levar a um estreitamento maior dos spreads face ao resto do mundo, à medida que a Fed lidera os seus equivalente desenvolvidos na normalização monetária”, afirma Turnill. Em conclusão, espera “um comportamento de preços relativamente superior na dívida emergente”.
Relativamente às divisas, a expectativa da BlackRock é que o dólar se aprecie de forma modesta e gradual, pelo que não prejudicará no caso do investimento em mercados emergentes. Por outro lado, vê como principais riscos “a paralisação do momentum para o crescimento global, uma subida das yields em resultado da retirada de estímulos monetários, ou uma subida rápida do dólar”.
#6 Pense na dívida soberana como uma “almofada”
Aqui importa referir algumas coisas. Em primeiro lugar, a expectativa da gestora é de que subam as taxas de juro, à medida que se vão normalizando as políticas monetárias nos EUA e na Zona Euro de forma gradual. Não obstante, preveem que “os factores estruturais e uma maior divergência entre bancos centrais travem as taxas de juro”.
Ou seja, a sua previsão de uma subida de taxas de juros poderá levar os investidores a esperar “retornos baixos ou negativos para a dívida soberana a nível global no médio prazo”. No entanto, advertem que as obrigações soberanas de longo prazo continuam a ser “bons diversificadores perante a volatilidade e as correções nas ações provocadas pelos riscos políticos”, e daí Turnill recomenda aos investidores que mantenham uma alocação estratégica a obrigações soberanas na carteira.