Brasil, Rússia, Índia e China são os 4 mercados de maior peso no mundo emergente. No entanto, não é um universo homogéneo. Alejandro Arévalo, gestor da Pioneer Investiments, analisada cada um dos BRIC identificando oportunidades e riscos.
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Brasil, Rússia, Índia e China, são, atualmente os quatro mercados de maior peso no mundo emergente. No entanto, não de trata de um universo homogéneo. Existem importantes diferenças entre eles que obrigam a fazer uma análise pormenorizada de cada um. Alejandro Arévalo (na foto) é, há 14 anos, especialista de crédito na Pioneer Investments. A sua especialidade é o mercado de obrigações emergentes. Embora a sua responsabilidade se limite ao Pioneer Funds – Emerging Markets Corporate Bond, produto que gere, a visão macroeconómica manifestada pelo especialista não só afeta a sua estratégia, como também a de outros produtos da casa, como o Pioneer Funds – Emerging Markets Bond (fundo flexível que investe em obrigações corporate e soberanas) ou o Pioneer Funds – Emerging Markets Corporate High Yield.
Numa entrevista concedida à Funds People, Arévalo reconhece que 2014 foi um ano marcado pela desaceleração económica, a qual se explica – em primeiro lugar – pelas eleições presidenciais que ocorreram em muitos países e – em segundo lugar – pela queda nos preços das matérias-primas. “2015 será diferente. Uma vez deixada para trás a incerteza eleitoral, as reformas estruturais começam a fazer efeito na economia e a descida dos preços das matérias-primas pode ter impacto positivo nalguns países. Embora não afete todos os países por igual, a maior parte da inflação vem da agricultura e da energia. Se os preços das commodities baixarem, também a inflação irá descer, o que deixará os bancos centrais com maior espaço para cortar as taxas de juro e, assim, impulsionar a atividade".
Construção na China: o crescimento não será menor do que 7% em 2015
Entre as grandes economias emergentes, Arévalo tem as suas preferências. Em primeiro lugar centra a sua análise na China, onde o gestor tem uma visão positiva. É um dos países que pode ser beneficiado com a queda do petróleo. De facto, está a aproveitar esta circunstância para aumentar as suas reservas. Na sua opinião, o país vai continuar a crescer a um ritmo entre 7% e 7,5%, tanto este ano como no próximo, graças às reformas realizadas por Pequim (exigência de reservas dos bancos, privatização de companhias estatais, menos restrições na compra de imóveis, aumento da concessão de crédito, recuperação do sector da construção,...). “Além disso, o governo está mais disposto a que taxa de câmbio flutue segundo as condições do mercado, no qual será positivo”.
Positivos na Índia: clima político favorável e impacto positivo na queda do preço do petróleo
O segundo país sobre o qual Arévalo se debruça é a Índia. “Gostamos do mercado de obrigações na Índia, sobretudo depois da chegada de Narendra Modi ao poder. É a primeira vez em 30 anos que o partido do governo conta com uma maioria clara no parlamento”. Na sua opinião, a Índia será um dos grandes beneficiados da queda do preço das matérias-primas, sobretudo do petróleo. “A descida da cotação do crude irá ajudar a economia indiana, uma das que mais barris importa em todo o mundo”. O gestor também espera um importante investimento em infraestruturas no país e um crescimento económico que irá acelerar no próximo ano (de 5% em 2014 para 6% em 2015). “A médio prazo, a Índia irá superar o crescimento da China”.
Preocupação com o Brasil: o país necessita de fazer mudanças no imediato
Arévalo não se mostra muito confiante sobre o Brasil. “Não foram apenas as eleições. Também a elevada inflação e a possível recessão económica. O real poderá continuar a cair. É evidente que o país necessita de fazer mudanças. Chegou o momento. No Brasil estão muito preocupados com uma possível descida da classificação da dívida por parte das agência de rating. Perante um downgrade, os custos de financiamento vão subir. Entendemos que a subida da taxa em 25 pontos base aplicada pelo Banco Central do Brasil é um sinal da preferência por inflação a crescimento. O Governo de Dilma Rousseff necessita de tempo para que os investidores lhe deem um voto de confiança”.
Rússia: o país enfrenta muitos desafios
O outro membro dos BRIC com o qual o gestor demonstra ter algumas dúvidas é a Rússia. “O país enfrenta muitos desafios, entre eles, a alta inflação e a possível recessão económica. A isto tem de se adicionar a sua forte dependência em relação ao petróleo (onde existe um excesso de oferta no mercado que necessita de tempo para ser absorvido) e o conflito que mantém na Ucrânia. Parece que as sanções estão a ter o seu efeito sobre a economia. Têm uma margem de dois anos para chegar a um acordo, senão vão ter sérios problemas já que necessitam de tecnologia para continuarem as suas explorações. Vladimir Putin não poderá apresentar-se nas eleições com uma economia em queda livre”. Do lado positivo Arévalo destaca as abundantes reservas (450 mil milhões de dólares) e um rácio de dívida/PIB muito baixo.
A alocação de ativos
Com esta visão dos principais mercados emergentes...onde estão as oportunidades? Arévalo afirma que, em termos gerais, prefere a dívida corporativa à soberana. “É um segmento do mercado que é cotado com prémio, embora com risco semelhante”. A equipa tem um claro enviesamento à América Latina. México é uma das grandes apostas. “As reformas estruturais implementadas pelo governo de Peña Nieto criaram oportunidades no sector energético, serviços de petróleo, operadoras de telecomunicações pequenas, entidades financeiras privadas e no sector da construção, onde houve algumas paragens e agora volta a reativar-se”, explica.
Outro país onde se podem encontrar oportunidades é o Brasil, sobretudo nos sectores vinculados à exportação, mais concretamente na carne (as sanções à Rússia impulsionaram a procura), infraestruturas (o país precisa de avançar neste campo) e as empresas de serviços (Petrobras precisa de explorar o mar e não tem a tecnologia necessária). Na Ásia, Arévalo espera um impulso nos lucros das empresas, o que irá melhorar a capacidade de pagar as suas dívidas. “A China é a nossa principal sobreponderação. Encontramos oportunidades no sector da construção (apenas em empresas com bom track record e diversificadas), industriais (cimenteiras) e maquinaria. Não gostamos das empresas estatais, já que apresentam um elevado nível de endividamento e apenas emitem com garantia governamental. Na Índia apreciamos o sector das telecomunicações e do petróleo. As gasolineiras irão beneficiar da eliminação dos subsídios”.
África: estão a chegar novos emissores ao mercado
A terceira grande região mencionada por Arévalo é África, onde – segundo explica – apareceram novos emitentes. “África é um mercado novo. Temos visto novos emitentes na Nigéria (que se sentem atraídos por emissões de algumas entidades financeiras, que contam com grande liquidez e um core capital de 20%), em Marrocos e na África do Sul. Neste último país, o especialista também aprecia o sector bancário, dado o carácter internacional do seu negócio. E afasta-se do sector mineiro. “Vendemos todas as nossas posições por causa do efeito que poderia provocar um ataque no sector”.
“A estratégia com durações curtas é a correta a longo prazo”
De acordo com Arévalo, o comportamento registado este ano pelas treasuries foi uma surpresa. “Ninguém esperava que a rendibilidade das obrigações ia passar de 2,3% para 1,8%. No entanto, continuamos a acreditar que a estratégia de mantermos as durações curtas é a decisão mais correta a longo prazo. Com a subida esperada das taxas de juro nos EUA, a parte curta da curva irá comportar-se melhor. Esperamos uma correção na parte mais larga da curva”. Sobre a qualidade creditícia dos ativos, movem-se em torno de BBB- e BB+. “Não é necessário baixar a qualidade de crédito para gerar alfa”, conclui o gestor.
A seu ver, existem dados conjunturais que irão beneficiar os emergentes. Em primeiro lugar surge o crescimento norte-americano. “Se o país subir as taxas de juro é porque é sólido, o que irá beneficiar os emergentes”. Em segundo, a nova política do governo do Japão que afirma que 100 mil milhões de dólares vão ser investidos nos mercados emergentes.