É um dos principais impulsionadores da economia global, mas, apesar das atrativas oportunidades, o setor tecnológico apresenta riscos. Mesmo assim, a tecnologia pode ser vista como a aliada necessária da sustentabilidade e da mudança que se impõe.
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O setor tecnológico tem sido um dos motores fundamentais da economia global nos últimos anos, se não mesmo décadas. No entanto, por detrás desse crescimento e das oportunidades e tendências já evidenciadas anteriormente, existem riscos e desafios significativos que os investidores e gestores de ativos enfrentam, e que, portanto, devem considerar ao investir em ações deste setor tão dinâmico. Num evento organizado pela FundsPeople em colaboração com a DNB AM, os participantes Mikko Ripatti, Carlos Pinto, Luís Marinho e André Almeida apontam o risco regulatório, o risco de inovação disruptiva ou o risco de sustentabilidade como alguns dos mais prementes. Focando precisamente na sustentabilidade, os profissionais acreditam que a tecnologia pode ser vista como uma aliada e não um entrave, particularmente na busca por processos de maior eficiência energética, produtividade e inovação. Concretamente no mercado laboral, naturalmente que os avanços tecnológicos impactarão diretamente a sua dinâmica, mas podem também abrir espaço para um vasto leque de oportunidades.
The winner risks it all?
“É um setor onde, tipicamente, as mudanças acontecem muito rápido”, começa por dizer Mikko Ripatti, responsável de Negócio para a Península Ibérica da DNB AM. O profissional remete para o fenómeno the winner takes it all, onde uma empresa com uma tecnologia dominante ganha o mercado, deixando pouco espaço para as concorrentes. “O problema”, diz, “é que é muito difícil saber, com muita antecedência, quais serão as tecnologias que vão conquistar o mercado”. A imprevisibilidade é um dos riscos que o profissional aponta, exemplificando com caso da Nokia. “Era líder incontestável na tecnologia móvel a nível global, detendo uma quota de mercado de 40%. Era a quinta marca mais valiosa do mundo, com uma produção de 15 telemóveis por segundo. Contudo, quando a indústria transitou do foco em hardware para software, a Nokia perdeu a sua posição de destaque”.
Luis Marinho, gestor de produto da Fidelidade, afirma mesmo que é “inevitável” pensar em riscos do setor tecnológico e não pensar imediatamente no risco regulatório. “Temos vindo a assistir ao longo destes anos a um crescimento de regulação contra os incumbentes e a favor dos consumidores e dos players mais pequenos. Isto é uma tendência genérica que vejo a acontecer principalmente na Europa”, refere. “E vê-se sobretudo em grandes processos de aquisição, fusões ou que levantem suspeitas de monopólio”, acrescenta. Dá o exemplo da Meta, afirmando mesmo que um dos maiores risco que a detentora do Facebook enfrenta é o regulatório.
Também André Almeida, especialista em Soluções de Investimento da Santander AM, entende que o principal risco neste setor é precisamente o regulatório. “Com a nova regulação da União Europeia, todas as empresas sediadas na Europa que queriam trabalhar em inteligência artificial ficaram completamente de mãos atadas comparativamente com as americanas”, remetendo para as limitações evidentes nesse âmbito no continente europeu. Um outro risco que o especialista apresenta é o de sustentabilidade. Para André Almeida, a digitalização das empresas - pese as vantagens que daí advêm - implica um grande esforço, como o custo de infraestruturas e a exigência energética, que, por sua vez, “criam um problema adicional, que é a pegada de carbono gigantesca desse tipo de tecnologia”.
Um outro risco apontado pelo gestor da Fidelidade é o risco “de aparecer um player disruptivo”, remetendo para algumas das grandes empresas tecnológicas que já foram elas próprias disruptivas quando iniciaram a sua atividade, aniquilando de alguma forma a concorrência, como a IBM ou a Microsoft. Nas palavras de Luís Marinho, o player até nem precisa de estar relacionado diretamente com o negócio e refere o caso da Booking. “Na indústria hoteleira, por exemplo, os grandes players, as grandes cadeias, estavam confortáveis, e de repente apareceu a Booking que nem tem hotéis, mas que descobriu um modelo de negócio disruptivo e que mudou a dinâmica do setor”, explica. Esta ideia é respaldada pelo gestor de Investimentos sénior da Optimize IP, Carlos Pinto, que reforça a possibilidade de que “empresas que surgem com ideias disruptivas e inovadoras podem não ter capacidade suficiente para as aplicar, tornando essas ideias suscetíveis de serem replicadas por grandes provedores”.
Susten-tech
“Um grande entrave à sustentabilidade, neste momento, é o custo”, declara Luís Marinho. É certo que a sustentabilidade implica custos, seja em termos financeiros, seja em qualidade de vida e, portanto, o papel da tecnologia é aqui determinante “porque vai sempre buscar soluções que tornem as coisas mais eficientes, do ponto de vista de recursos e custo”. Um exemplo disso são os chips que existem hoje em dia. “Nós temos chips nos nossos telemóveis alimentados por uma bateria que antigamente existia em máquinas que tinham quase o tamanho de uma sala e consumiam muita energia”, explica.
As inovações tecnológicas podem até ser um impulsionador de desenvolvimento económico para os países emergentes, permitindo democratizar o empowerment, facilitando o seu acesso também às economias mais desfavorecidas, refere Carlos Pinto, e Mikko Ripatti não tem dúvidas de que “a tecnologia é o principal driver de inovação, possibilitando aumentos de eficiência e produtividade, ao longo de toda uma cadeia de valor”. Tanto na produção de energia eólica, solar, na internet das coisas, nos sensores inteligentes, na tecnologia de reciclagem e até na tecnologia de edifícios inteligentes”, enumera.
Tecnologia e mercado laboral
Com os avanços tecnológicos, principalmente na parte da inteligência artificial, uma das questões mais levantadas tem a ver com a adaptação do mercado laboral. A substituição em massa de postos de trabalhos pode ser uma realidade? “Tudo o que seja possível automatizar, será automatizado”, começa por dizer André Almeida, mas reitera: “Perder-se-ão empregos, sim, mas provavelmente criar-se-á outro tipo de posições, nomeadamente na parte da relação com clientes e empresas, por exemplo”. Algo que, naturalmente, nenhuma máquina poderá substituir.
Luis Marinho também acredita na adaptação do mercado a uma nova realidade. “No início pode haver algum desequilíbrio, já que existirão pessoas com capacidades desajustadas da realidade. As máquinas passam a fazer coisas que as pessoas costumavam fazer, mas com o tempo isso ajusta-se”. Já o profissional da Optimize IP, Carlos Pinto, acha até que os avanços tecnológicos deste ponto de vista concreto poderão ser bastante úteis, uma vez que “permitirão que trabalhos mais pesados ou mais rotineiros possam ser atribuídos a máquinas”, libertando os trabalhadores para tarefas mais criativas e desafiadoras.