A vitória do partido de Alexis Tsipras provoca o afundamento da bolsa de Atenas, a depreciação do euro e o aumento do prémio de risco grego. O que deve o investidor esperar a partir de agora? Os especialistas respondem.
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A vitória do Syriza nas eleições gregas agitou o cenário político na Europa e ameaça fazer aparecer uma forte dissidência nas políticas de austeridade levadas a cabo no continente até agora. Com 36,3% dos votos e 149 deputados, o partido da esquerda radical de Alexis Tsipras ganhou as eleições, ficando apenas a 2 lugares da maioria absoluta, pelo que a coligação terá que concordar em formar um governo.
O parceiro eleito por Tsipras foram os Gregos independentes, a direita nacionalista grega. A resposta dos mercados ao resultado das eleições não se fez esperar. A Bolsa de Atenas afundou 9% na primeira hora (as suas perdas limitam-se agora a cerca de 15%), o euro perde terreno no câmbio com o dólar (marcou um mínimo de 11 anos ao cair abaixo de 1,11 dólares) e o prémio de risco grego subiu até ao contexto dos 830 pontos base (os spreads das obrigações gregas a 5 anos ampliaram-se esta manhã 74 pontos base).
As primeiras reações das entidades internacionais não se fizeram esperar. Sobre se existe de facto um risco de contágio, segundo a J.P. Morgan AM, neste momento a Grécia representa um baixo risco para a Zona Euro, e essa é de facto a forma como os mercados estão a entender a situação. Tal como explicam da entidade, não existe quase correlação entre as TIR das obrigações do tesouro a 10 anos e outras economias periféricas. “De ativos com uma correlação de um no final de 2012 e princípios de 2013, passou-se para uma correlação de zero, o que evidencia que as obrigações do tesouro gregas a 10 anos e o resto dos títulos de dívida periférica com o mesmo vencimento se movimentaram de uma maneira diferente. Isto sugere que os mercados não estão preocupados com o impacto que as eleições gregas podem ter sobre os restantes países da Zona Euro”, dizem da gestora.
Paras Anand, diretor de ações europeias da Fidelity Worldwide Investment, acredita que o resultado das eleições não irá minar o progresso dos avanços conseguidos na Europa durante os últimos quatro anos. “Vale a pena olhar para trás e comprovar que o sector financeiro em toda a Europa está numa posição muito mais sólida do que estava no passado durante a crise da dívida soberana em 2011. A capacidade do sector para agora absorver os choques é muito maior”, afirma. “Isto não quer dizer que os ‘tail risks’ na Zona Euro tenham desaparecido totalmente, serve apenas para enfatizar que o grau em que as questões de caráter local têm a capacidade de alterar de forma material e imediata o prémio de risco em toda a região, se reduziu substancialmente. Isso sugere que de agora em adiante as rentabilidades têm mais possibilidades de ser impulsionadas pelos fundamentais do que foram em diversos momentos (por vezes muito longos) nos últimos anos “, indica.
O especialista assegura que, perante as sérias perspetivas da sua vitória, o Syriza já manifestou repetidamente o seu desejo de permanecer na moeda única. “Embora isto não se encontre garantido, o que pode ter potencial de atração para outros estados membros da União será a determinação de fazer face aos interesses criados e às medidas drásticas tomadas contra a corrupção e a economia oculta. Com o objectivo de estabelecer uma base mais sólida, a economia grega deve ampliar a sua base de receitas fiscais. Isto apenas vai ocorrer se se instaurar uma cultura profundamente enraizada de evasão fiscal. O principal ênfase dos credores da Zona Euro já passou da austeridade à reforma, e o Syriza pode encontrar maior suporte dos principais partidos europeus, do que aquele que a sua etiqueta de radical poderia sugerir”.
O que pode acontecer? Quatro cenários possíveis
A Schroders considera por seu lado que o futuro da Grécia depende se o Syriza consegue ou não governar de uma forma responsável, reconhecendo que a maioria das reformas estruturais ainda são necessárias para melhorar a competitividade do país. Azad Zangana, Economista sénior europeu e estratega da entidade, considera que a situação no país irá acabar por ser um dos quatro seguintes cenários. Em primeiro lugar fala do que apelida de “resultado benigno”. Neste caso explica que “o Syriza ganha algumas concessões da Troika, em troca de permanecerem com o processo de reforma. A economia grega apresentará um ligeiro abrandamento, mas será evitada a recessão”. No segundo cenário fala de um rompimento das negociações com a Troika, ficando as finanças gregas incapazes de “entregar os aumentos de receitas esperados e os cortes das taxas prometidos”. Assim “o Syriza ficaria fragmentado, a coligação acabaria, e seria precipitada uma nova eleição. A economia grega abrandava, mas as implicações generalizadas seriam insignificantes”.
Em terceiro lugar vem o que denomina de “Grexit”. Neste cenário “o Syriza rompe os laços com a Troika, não conseguindo chegar a um compromisso; recusa-se posteriormente a pagar os juros da dívida da Troika. No final, provavelmente, a Grécia é forçada a deixar a União Europeia, e começará a imprimir a própria moeda”. A última hipótese apontada pelo economista da gestora fala de “Troika fora, mas sem ‘Grexit’”, ou seja, “as negociações terminam em impasse com a Troika, o que se traduz em mais nenhuma provisão de crédito. A Grécia continua a servir os seus empréstimos, mas é forçada a ter um excedente para fazer face a essas obrigações. Como não existe um default, o BCE ver-se-á forçado a suportar os bancos gregos, o que mantém a Grécia na União Monetária Europeia”.
Pouca margem de manobra
Na opinião da UBS Global AM atualmente a posição da Grécia não é de grandes exigências. Joshua McCallum e Gianluca Moretti, Economistas da entidade e responsáveis pelo documento “Economist Insights” entendem que “embora a Grécia tenha conseguido um excedente primário, quando se inclui o pagamento de juros o país continua com um défice.Há empréstimos para pagar ao FMI, títulos do tesouro com vencimentos próximos”, indicam. “Se a Grécia continuar com o programa de resgate nada do que foi enumerado constitui um desafio, graças aos empréstimos que o resto da Zona Euro prometeu para 2016”, concluem.