A reabertura da China e do resto da Ásia é um presságio de um aumento do consumo de muitos millennials.
A reabertura da Ásia após a pandemia está a contribuir para reativar o consumo de bens e serviços de forma global e os millennials voltaram a contribuir para esta tendência, dentro dos seus próprios padrões.
Alexis Deladerrière, sócio responsável internacional de Ações de Mercados Desenvolvidos da Goldman Sachs AM e Jennifer Sullivan, cogestora do GS Global Millennials Equity, visitaram a Península Ibérica para analisar a evolução dos mercados de ações e as perspetivas demográficas e de consumo.
Análise e perspetivas para 2023
Para Alexis Deladerrière, o ano de 2023 nas bolsas parece-se muito com 2022, mas como o reverso do espelho. “Volta-se a repetir a disparidade entre growth e value, mas ao contrário. Este ano o que vemos é uma subida do consumo e da tecnologia em relação à energia”, afirma. Enquanto nos EUA os movimentos têm estado bastante concentrados num grupo de nomes, na Europa e no Japão esta tendência não tem sido tão pronunciada, uma vez que “os resultados empresariais têm sido melhores do que o esperado”, explica. Na sua opinião, o próximo fim do ciclo de subidas das taxas de juro após um ano de subidas recorde num período tão curto, significa que é expetável o regresso a um ambiente um pouco mais estável, embora a forte recuperação do mercado no último mês possa trazer maior volatilidade a curto prazo.
Para navegar neste cenário melhor do que o esperado, mas mais volátil, Alexis Deladerrière propõe centrar-se na qualidade dos negócios e das equipas de gestão. “Ter drivers de crescimento nas carteiras será fundamental para superar a inflação, algo que pode ser encontrado em tecnologia, na saúde e na transição energética”, afirma.
O consumo millennial
Entre esses drivers de crescimento encontram-se os setores e as indústrias que beneficiam da força dos consumidores millennial e GenZ. Essa força reside tanto no seu número como no seu comportamento, que é diferente do de outros grupos. “Tudo é mais digital, o que abre as portas a outro tipo de empresas”, afirma Jennifer Sullivan. Essas empresas pertencem ao setor do luxo, às indústrias de viagens, à saúde, à beleza e a tudo o que tenha um elemento de consciência ecológica.
Jennifer Sullivan aponta quatro grandes tendências onde encontrar ideias: os serviços digitais, devido à importância da relação entre as redes sociais e o comércio eletrónico; os facilitadores digitais que permitem e apoiam o crescimento exponencial dos dados ou dos pagamentos eletrónicos; o consumo de bens de luxo; e, por último, tudo o que está relacionado como o estilo de vida como ginásios (80% dos que pagam uma inscrição nos EUA são millennial), concertos, viagens…
O crescimento não tem de vir apenas dos mercados desenvolvidos. “85% dos millennials estão fora dos EUA e a reabertura da China anuncia um potencial de recuperação do turismo para níveis pré-pandémicos”, afirma Jennifer Sullivan. Além disso, na Ásia ainda há excesso de poupança acumulada durante os encerramentos devido à COVID, o que, associado a um aumento da preferência pelo consumo de serviços em detrimento de bens, é um bom presságio para o setor das viagens e para as despesas em experiências.
O fundo vai-se adaptando à evolução dos padrões de consumo e dos consumidores. Os millennials também fazem anos e, à medida que o fazem, “podem surgir novas oportunidades”, comenta a gestora. Por enquanto, parece que, como toda a gente nesta altura do ano, estão ansiosos por fazer as malas.