Abenomics versus Draghinomics

Mario_Draghi_-_World_Economic_Forum_Annual_Meeting_2012
Wikicommons/World Economic Forum

Os investidores têm, nesta altura, um conhecimento médio sobre a chamada Abenomics ou a política de três flechas, com a qual o ainda primeiro-ministro Shinzo Abe pretende gerar crescimento através de três ferramentas poderosas: uma política monetária muito agressiva, que deprecia o iene e gera inflação, a estimulação da economia que é equivalente a 2% do PIB nipónico e as reformas estruturais que afetam o mercado laboral, o sistema fiscal e as relações comerciais do Japão com outros países.

Agora a tese que mantém Ibra Wane, estratega sénior da Amundi, é que esta política tem mais pontos em comum do que divergentes com os planos que tem Mario Draghi para cimentar a frágil recuperação económica. A visão deste especialista é de uma Europa com cerca de 30% de probabilidade de “japonizar” a sua economia em 2015. Wane fala mesmo de uma política de quatro pilares, que alguns especialistas apelidaram de “Draghinomics” desde da famosa reunião do BCE no mês de junho quando anunciou o primeiro pacote de medidas de estímulo quantitativo.

Estes pilares sobre os quais se sustenta a ação (directa e indirecta) do BCE são: a política monetária, com a qual se pretende reduzir os custos de financiamento das pequenas e médias empresas – motor essencial para as economias da Zona Euro; a política financeira, com a qual se pretende fortalecer o sistema bancário; a política fiscal que vai contribuir para a redução do défice da Zona Euro; e as reformas estruturais que podem ajudar a desencadear um maior potencial de crescimento.

Na opinião do estratega sénior da Amundi, juntos formam “uma estratégia coerente” onde tudo se encaixa. A política monetária têm como finalidade a estabilização dos preços. A financeira, construir uma união bancária e unificar os mercados de capitais. As politicas fiscais perseguem a reativação dos gastos públicos e tentam fortalecer o Pacto de Estabilidade e Crescimento sendo esta a primeira pedra para a estabilidade económica europeia. Finalmente, a pressão que está a ser exercida sobre os governos da zona euro para que executem reformas estruturais com duplo objetivo: por um lado alcançar planos concretos e credíveis no âmbito nacional e por outro completar o Mercado Único.

Por agora, à espera que se comecem a notar os efeitos do programa de compra ABS (asset-backed securities), as titularizações hipotecárias e ainda o LTRO, uma coisa foi conseguida com êxito, a depreciação do euro. A moeda comunitária recuou na sua cotação com o dólar para níveis de 2012. Segundo os cálculos do estratega, “se o euro cair mais 10%, deverá traduzir-se num empurrão de 12,5% para os lucros das empresas”. Para Wane, esta ajuda extra “deveria mudar as regras do jogo, já que a melhoria da recuperação económica viria pela moeda e pelo EPS em vez de vir pela valorização, uma vez que já se tinha produzido esse ajuste”.