Alessandro Pellegrino (Arcano Partners): “Quando o vento sopra contra, é quando é preciso saber onde investir”

Alessandro Pellegrino
Cedida

Tivemos a oportunidade de nos sentar com Alessandro Pellegrino, gestor do Low Volatility European Income Fund, para falar sobre o fundo que gere e perceber as suas perspetivas para o mercado de crédito europeu.

O fundo da Arcano Partners procura manter níveis de retorno estáveis através do investimento em títulos de dívida corporativa europeia. “A nossa abordagem é bottom-up, focamo-nos em realizar uma análise muito aprofundada de cada empresa em que investimos. Escolhemos as que conseguem gerar receitas recorrentemente, e que se perspetiva que assim se mantenham. Desta forma, naturalmente, o fundo tem sobreexposição a alguns setores mais defensivos como infraestruturas, alimentação e telecomunicações. São estes setores que resistem a testes de stress”, revela o gestor.

Adicionalmente, Alessandro confidenciou as três principais caraterísticas que procura numa empresa. “Em primeiro, procuramos negócios com fluxos de caixa contínuos, que consigamos avaliar. Em segundo, procuramos resiliência das margens do negócio, quer seja resistência à inflação ou à subida do preço das matérias-primas. Por fim, procuramos empresas que não utilizem a alavancagem para apenas crescer rapidamente, optamos por negócios mais estáveis”, explica. Além disso, a equipa de gestão também aplica um filtro ESG, mas com uma particularidade. Para além da tradicional exclusão de certos setores, os analistas procuram obter informação adicional sobre o seu universo investível através da comunicação direta com os diretores. Após este processo, é atribuída uma nota a cada empresa que serve para as organizar por quatro grupos. O último grupo é excluído e é dada maior preponderância às posições em carteira com melhor classificação. O objetivo é ter 80% do portefólio investido na primeira metade desta lista. “Começamos a sentir a necessidade de partilhar a informação que recebemos com os investidores, demos passos nesse sentido e orgulhámo-nos de o fazer de uma forma tão regular e eficiente”, acrescenta ainda o gestor sobre a informação ESG que consegue reunir.

Perspetivas para o mercado

Consciente do que representa o fim de festa para as obrigações, o gestor está ciente que o agora é consequência dos exageros do passado. “Acredito que, mais do que não estarmos a ser remunerados pela duração, este ano estamos a pagar pelos  erros dos últimos 14 anos”, admite Alessandro. “Vimos as yields do tesouro alemão a descer continuamente, os investidores só tinham que estar no mercado para ganhar dinheiro. Agora o cenário mudou”, explica ainda.

O profissional acredita ser agora o momento para uma gestão ativa e cuidadosa que foca as suas atenções nas empresas em que investe. “Quando temos a yield do principal ativo sem risco a diminuir, só temos que seguir o vento. Quando o vento sopra contra, é quando é preciso saber onde investir”.

Por fim, o gestor acaba com uma nota otimista: “No longo prazo, o mercado de crédito apresentará cupões bons. O mercado europeu está repleto de boas empresas. Atualmente, já somos bem pagos pelo risco de crédito que incorremos. A este nível de preços podemos começar a sentir-nos confiantes no futuro”. Adicionalmente, Alessandro Pellegrino revelou que recentemente começou a reduzir as reservas de liquidez e, consequentemente, a obter mais exposição ao mercado.