Cinco coisas com impacto no mundo dos investimentos que tem mesmo de saber para os próximos cinco anos

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Luca Paolini. Créditos: Cedida (Pictet AM)

Daqui a cinco anos estaremos próximos de 2030. Ainda falta uma eternidade, dirão alguns, ou que o tempo passa a correr, dirão outros. A verdade é que no mundo da gestão de ativos, pensar nos próximos cinco anos significa antecipar tendências e movimentos de mercado que podem definir o sucesso ou fracasso das carteiras de investimento. 

Como tal, a Pictet AM lança periodicamente o Secular Outlook com o objetivo de traçar um mapa estratégico que oriente os investidores no meio de muitas complexidades e incertezas, perante o cenário económico e geopolítico global. Luca Paolini, estratega-chefe da entidade, de visita a Lisboa, sentou-se com a FundsPeople e explicou-nos em linhas gerais e com base no documento, aquilo que é a sua visão para os próximos anos. Em seguida, explicamos os cinco temas essenciais enunciados pelo profissional: crescimento económico, setores, regiões, transição energética e estratégias.

1. Crescimento económico: estável e moderado

“A coisa mais importante ao analisar a situação para daqui a cinco anos é tentar perceber quais são as tendências seculares e onde estamos no ciclo económico”, começa por dizer Luca Paolini. O profissional da Pictet AM realça que o crescimento económico global está hoje próximo do potencial esperado, ainda que com variações regionais significativas entre a Europa, EUA e China. Aliado a isso, observa que a política monetária está “adequadamente ajustada, mas com algum aperto necessário para evitar recessões”. Como tal, prevê uma estabilidade relativa, “com um crescimento económico moderado de cerca de 2,6% anualmente, em termos reais”, após grandes perturbações como a pandemia e os conflitos geopolíticos, que acredita não escalarem mais do que o até então. 

Prevê, ainda, que a inflação se manterá um pouco acima dos níveis históricos, mas não excessivamente alta. O possível aumento da produtividade através da Inteligência Artificial e a capacidade dos bancos centrais em manter as expetativas de inflação bem ancoradas, são duas das razões que acredita que ajudarão a manter as pressões inflacionárias relativamente baixas.

2. Setores: tecnologia, indústria e saúde

As questões demográficas parecem estar na base daquilo que são as previsões da Pictet AM relativamente aos setores mais promissores nos próximos cinco anos. “A população em idade ativa está a diminuir. Apenas a Índia contraria essa tendência, atualmente. Portanto, a automatização é necessária e precisamos da tecnologia para o crescimento da produtividade”, explica o profissional. Aliado à diminuição da população ativa está, naturalmente, a questão do envelhecimento, e aí evidencia-se o setor da saúde, com a necessidade de novos e melhores medicamentos e tratamentos. Aqui, o estratega-chefe acredita que o setor da biotecnologia será promissor por derivar da “interseção entre a inovação tecnológica e os cuidados de saúde”. Luca Paolini refere ainda a necessidade de enfrentar as mudanças climáticas com a combinação de tecnologia e soluções industriais. Mais reticente está relativamente aos semicondutores, devido ao que consideram ser “expetativas excessivamente otimistas”. 

3. Regiões: menos EUA, mais Europa e Japão

Relativamente aos Estados Unidos, Luca Paolini realça o aumento dos níveis de dívida atuais, comparando-os desfavoravelmente com a Europa. O estratega-chefe argumenta ainda que o dólar, atualmente forte, tende a enfraquecer devido à diminuição das tensões geopolíticas e à redução dos spreads e do crescimento económico. Espera-se um “declínio de cerca de 2% por ano até 2029”. Não deixa de ser um lugar para estar como investidor, por ser líder em inovação e tecnologia, com margens impressionantes por parte de algumas empresas, “mas não se pode apostar tudo no mesmo”, refere. Em relação à Europa, aponta a falta de liderança política clara e um potencial de crescimento limitado, mas ressalta que tem “empresas fortes em setores como o farmacêutico e de bens de luxo”. Também o Japão deve continuar a merecer atenção, devido às suas “políticas amigas dos investidores” e um “grande nível de poupança com potencial de ser redirecionado para os mercados financeiros”. Em termos de regiões promissoras nos mercados emergentes, o profissional destaca a Índia, “que está hoje onde a China estava há 20 anos, em termos de crescimento”, evidenciando as boas relações que mantém com a Rússia e os EUA como uma vantagem geopolítica. 

4. Transição energética: inevitável… mas cara

“Estamos no caminho certo, mas ainda não será o suficiente daqui a cinco anos”, frisa Luca Paolini. “A cooperação internacional, especialmente entre a China e os Estados Unidos, é essencial para o sucesso dessa transição”, acrescenta. De acordo com o documento da Pictet AM, há três riscos associados à transição energética que os investidores terão de ter em conta nos próximos cinco a sete anos. O primeiro, é o aumento da dívida pública devido ao financiamento necessário por parte dos governos para a transição. O segundo, é uma possível disrupção económica pela criação de leis e impostos que visam penalizar os emissores de carbono, impactando negativamente o consumo e o crescimento económico. Por último, a instabilidade nos mercados financeiros devido à (possível) má gestão de projetos de capital, e que com isso os investidores possam ser empurrados a apoiar tecnologias emergentes ou empresas com fraco histórico na redução de carbono, na expetativa de que a situação melhore. 

5. Estratégias: mercado monetário, crédito e alternativos

Face àquilo que a Pictet AM acredita que será o cenário macroeconómico e político daqui a cinco anos, há algumas estratégias, concretamente no que diz respeito à alocação de ativos, que creem ser mais promissoras do que outras. A mensagem principal passa pela diversificação dos investimentos para mitigar riscos, direcionados principalmente para setores - tecnologia, indústria e saúde, como já mencionado - e menos em regiões. Focar mais em moeda, em crédito - “porque o bear market está a chegar ao fim” - e em instrumentos alternativos, “como private equity e private debt, que ainda oferecem retornos superiores”, mas, adverte, “sendo prudente na seleção dos gestores”. Nas ações, Luca Paolini recomenda reduzir substancialmente a exposição ao mercado americano e “considerar investir no Japão e em mercados emergentes da Europa”. Também a dívida de mercados emergentes como o Brasil, México e Colômbia poderá ser uma boa aposta.