Comissões de gestão: oito coisas a acontecer na indústria global de fundos de investimento

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Créditos: Kai Mason (Unsplash)

O que se passa na indústria global de fundos de investimento? A Morningstar publicou um extenso estudo mundial sobre comissões e encargos no setor dos fundos. O trabalho realizado pela empresa de análise, refletido no seu relatório bienal Global Investor Experience e que este ano celebra a sua sétima edição, avalia as experiências dos investidores em fundos de investimento em 26 mercados da América do Norte, Europa, Ásia e África. No capítulo das comissões e encargos, analisam as despesas correntes que um investidor suporta por deter fundos de investimento, em comparação com outros investidores em todo o mundo.

Conclusão #1: as comissões continuam a cair

A primeira conclusão a que chegam é que “as comissões continuam a cair, embora haja margem para melhorias na estrutura do setor”. Como indicado, a média ponderada por ativos dos rácios de custo dos fundos locais e disponível para venda caiu na maioria dos 26 mercados analisados em comparação com o estudo de 2019. No caso dos fundos domiciliados em território nacional, esta tendência destaca-se sobretudo nos fundos de alocação e de ações, nos quais 17 mercados apresentaram comissões mais baixas em cada categoria.

Conclusão #2: mais fluxos para fundos com comissões mais baixas e redução de custos nos fundos existentes

A diminuição da média ponderada por ativos das comissões deve-se à soma de duas circunstâncias: fluxos para fundos mais baratos e variação dos preços dos existentes. Nos mercados onde os investidores de retalho têm acesso a diversos canais de venda, os investidores estão cada vez mais conscientes da importância de minimizar os custos do investimento, o que os levou a dar preferência a classes de fundos com custos mais baixos.

Conclusão #3: os investidores não costumam pagar de forma direta por aconselhamento

Fora do Reino Unido, EUA, Austrália e Holanda, não é comum os investidores pagarem diretamente por consultoria financeira. A ausência de um regulamento que limite as comissões de venda e de intermediação pode significar que muitos investidores tenham inevitavelmente de pagar por consultoria que não querem ou não recebem. Mesmo nos mercados em que as classes que são oferecidas são as sem comissão de intermediação, como Itália, estas não são facilmente acessíveis ao investidor de retalho médio, uma vez que a distribuição de fundos é dominada por intermediários, especialmente bancos.

Conclusão #4: Entidades e assessores estão a afastar-se cada vez mais das classes mais caras

A evolução para um sistema de consultoria financeira baseado em comissões nos Estados Unidos e na Austrália tem estimulado a procura de fundos com custos mais baixos, como os passivos. Tanto as entidades como os assessores afastaram-se progressivamente das classes mais caras, que incluem comissões de consultoria e distribuição. Esta tendência espalhou-se por outros mercados, como a Índia e o Canadá. 

Conclusão #5: ETF empurram comissões para baixo em todo o mundo

As guerras de preços no universo dos fundos cotados têm feito descer as comissões de fundos em todo o mundo. Nos Estados Unidos, a concorrência arrastou as comissões para zero em alguns fundos indexados e fundos cotados, e estas forças competitivas estão a espalhar-se para outros cantos do mercado de fundos. 

Conclusão #6: Austrália, Holanda e Estados Unidos, onde se paga menos

A Austrália, os Países Baixos e os Estados Unidos obtiveram as melhores pontuações graças ao facto de as comissões dos seus fundos apresentarem normalmente os seus custos separados. É o quarto estudo consecutivo em que estes três países obtiveram a pontuação mais elevada nesta categoria. 

Conclusão #7: Itália, Taiwan, Hong Kong e Singapura pioram

Nos mercados onde os bancos dominam a distribuição de fundos, não há indicação de que só as forças do mercado sejam suficientes para reduzir a média ponderada por ativos dos rácios de custo para os investidores de retalho. Este facto é especialmente evidente em mercados como Itália, Taiwan, Hong Kong e Singapura, onde são impostas vendas de fundos internacionais mais dispendiosos do que fundos mais baratos domiciliados localmente.

Conclusão #8: Reino Unido obriga gestoras de ativos a justificar o valor que cada fundo forneceu aos investidores em função das taxas que cobrava

O Reino Unido introduziu cálculos anuais de valor acrescentado, uma das mais significativas evoluções regulatórias desde o estudo de 2019 que obriga as gestoras de ativos a justificar o valor que cada fundo forneceu aos investidores no contexto das taxas cobradas.

Metodologia

O estudo da GIE reflete a opinião da Morningstar sobre o que significa uma boa experiência para os investidores de fundos. Este estudo analisa principalmente os fundos abertos distribuídos publicamente e os fundos cotados, que são as formas mais típicas de investidores não profissionais investirem em veículos de investimento coletivo. A empresa de análise examinou os mercados a partir da média ponderada por ativos dos rácios de custos e encargos em cada mercado, para além da estrutura e divulgação das comissões de resultados e da capacidade dos investidores de evitar comissões de venda ou correntes.

Os cálculos dos rácios de despesas são feitos a partir de dois pontos de vista: fundos disponíveis para venda no mercado e fundos domiciliados localmente. O estudo ajustou os ativos utilizados nas ponderações para fundos disponíveis para venda em cada mercado para melhor refletir a tendência dos investidores nacionais ao investirem em classes não domiciliadas localmente. 

A equipa de análise de gestoras da Morningstar atribui uma pontuação a cada mercado com base na seguinte escala: superior (Top), acima da média (Above Average), na média (Average), abaixo da média (Below Average) e inferior (Bottom). A empresa deu as melhores pontuações à Austrália, à Holanda e aos Estados Unidos, o que indica que são os mercados mais favoráveis para os investidores em termos de comissões e despesas. Pelo contrário, reatribuiu as piores pontuações a Itália e Taiwan, mercados de fundos em que são aplicadas as comissões mais elevadas.