Uma vez mais, a FundsPeople procede à análise, sob diversas perspetivas, dos fundos com gestão nacional de uma determinada categoria. Após se ter explorado a gestão dos fundos nacionais de ações europeias de grande capitalização, de ações americanas ou ações portuguesas, entramos agora no campo dos fundos multiativos.
Num ambiente marcado por guerras comerciais, crescentes tensões geopolíticas e taxas de juro ainda elevadas, a gestão dos fundos multiativos com perfil mais agressivo exige uma leitura ágil dos ciclos económicos e uma alocação dinâmica entre classes de ativos, regiões e temáticas de investimento. Estes fundos, desenhados para investidores com maior tolerância ao risco dentro do universo de multiativos, procuram capitalizar oportunidades em ações, obrigações e até investimentos alternativos.
Neste contexto, e segundo os dados mais recentes disponíveis, esta análise comparativa cobre a alocação setorial e geográfica, o estilo de investimento predominante e os principais nomes que compõem as carteiras. Inclui ainda algumas considerações sobre o perfil de sustentabilidade de cada fundo, com base em métricas da Sustainalytics disponibilizadas pela Morningstar.
Os onze em campo
São onze os fundos nacionais, categorizados como sendo de alocação agressiva na Morningstar. Todos com domicílio em Portugal, à exceção do White Fleet III - Haitong Aggressive Fund, da Haitong Global AM, cujo domicílio é o Luxemburgo. O fundo mais antigo foi lançado em 2000 e é gerido pela Montepio GA, o Montepio Multi Gestão Dinâmica. Por sua vez, o mais recente completa durante este mês de maio de 2025, três anos, o BPI Impacto Clima - Agressivo, da BPI GA.
Em termos de ativos sob gestão, o Santander Select Dinâmico, da Santander AM destaca-se largamente com 156 milhões de euros de património. Seguem-se as estratégias da IMGA, com o IMGA Alocação Dinâmica e da BPI GA, com o BPI Agressivo, com 75 e 20 milhões de euros, respetivamente.

No que concerne ao risco medido pela volatilidade, a três anos, a média ronda os 10,75%, com o fundo da Haitong Global AM a apresentar o valor mais elevado. Em sentido oposto, o valor mais baixo é alcançado pelo Santander Select Dinâmico.
De notar, que a Santander AM e a BPI GA são as únicas entidades com mais do que um fundo representado nesta análise. O Santander Select Dinâmico e o Santander Private Dinâmico, da primeira e o BPI Impacto Clima - Agressivo e BPI Agressivo, da segunda.
Diversidade estratégica

No que diz respeito à forma de exposição aos mercados, seis fundos optam preferencialmente pelo investimento direto na seleção de ativos, seja em ações ou obrigações. É o caso dos fundos geridos pela BPI GA, GNB GA, Bankinter GA, Invest GA e Haitong Global AM. Os restantes seguem uma estratégia baseada no investimento em fundos tradicionais e ETF. No geral, a alocação entre ações e obrigações revela uma diversidade significativa nas estratégias de gestão. A flutuação da alocação ao longo dos últimos três anos em ambas as categorias, revela também um ajuste contínuo às condições de mercado, de forma a otimizar a performance num contexto de alta volatilidade e incerteza económica.
No segmento acionista, observa-se uma amplitude considerável: o White Fleet III – Haitong Aggressive Fund mantém uma exposição quase total a ações, com o valor mínimo nos últimos três anos a situar-se em torno dos 80%. Por outro lado, os dois fundos da Santander AM apresentam uma alocação atual mais equilibrada, na casa dos 50%.
Quanto às obrigações, a maioria dos fundos mantém uma exposição reduzida ou moderada, em linha com o perfil dinâmico ou agressivo que os caracteriza. Ainda assim, destacam-se o Santander Private Dinâmico e o Optimize Selecção Agressiva, com alocações atuais de 37% e 33%, respetivamente. O valor máximo observado neste segmento, nos últimos três anos, pertence ao Santander Select Dinâmico, que chegou a atingir uma exposição de 60% a obrigações.
Tecnologia e indústria

A análise à alocação setorial revela uma clara preferência pelos setores de tecnologia e indústria, que surgem como os mais representados neste conjunto. Este posicionamento vê-se refletido, por exemplo, nas fortes apostas dos fundos BPI Impacto Clima - Agressivo e do Bankinter Mega TT PPR no setor tecnológico, com 30,65% e 25,17%, respetivamente.
Os serviços financeiros, saúde e os materiais básicos mantêm também um peso consideravel. Por outro lado, setores como o de consumo defensivo e os serviços de comunicação apresentam uma representação mais modesta.
Mercados desenvolvidos

A alocação geográfica, por sua vez, revela um claro predomínio das economias desenvolvidas, com forte concentração na América do Norte e na Europa desenvolvida. Este posicionamento reflete assim a preferência por mercados mais líquidos, maduros e com maior peso nos índices globais. Fundos como o Bankinter Mega TT, BPI Impacto Clima - Agressivo e GNB Dinâmico alocam, segundo os dados mais recentes disponíveis, mais de 60% em ações norte-americanas, evidenciando a atratividade do mercado dos EUA, em particular no que diz respeito a grandes tecnológicas. Outros, como o IMGA Alocação Dinâmica, o Smart Invest e o Montepio Multi Gestão, adotam uma abordagem mais equilibrada entre Europa e América do Norte.
No caso da exposição aos mercados emergentes, esta é bastante heterogénea, oscilando entre fundos com alocação residual, como o GNB Dinâmico, e outros com uma aposta mais expressiva, como o Optimize Selecção Agressiva, que destina mais de metade da carteira a estas regiões, numa estratégia altamente diferenciadora, enquanto o White Fleet III – Haitong Aggressive Fund aposta quase exclusivamente na Europa. A presença na Ásia Desenvolvida é, no geral, marginal.
Top 10 Posições: ETF lideram
A análise ao Top 10 de cada carteira permite identificar com maior detalhe as preferências temáticas e regionais dos fundos, bem como o respetivo posicionamento estratégico. O Bankinter Mega TT PPR/OICVM destaca-se por uma forte aposta em vários temas, com ETF ligados à defesa, espaço, inteligência artificial e robótica a liderarem a carteira, refletindo um claro viés para megatendências, como mencionado anteriormente. Em contraste, o BPI Agressivo apresenta uma alocação mais diversificada, combinando ETF globais com exposição significativa aos EUA e até a ouro físico, evidenciando uma estratégia mais equilibrada.
Com um perfil marcadamente distinto, o BPI Impacto Clima – Agressivo aloca uma parte substancial do seu Top 10 a obrigações verdes e outros instrumentos sustentáveis no seu Top 10, sobretudo através de dois fundos da casa, da gama Impacto Clima, reforçando a sua vocação temática e orientação para o impacto ambiental. Fundos como o GNB Dinâmico, mantêm carteiras mais fracionadas e defensivas, com destaque para ações de grandes empresas como Apple, Visa ou Eli Lilly, bem como exposição a fundos europeus mais tradicionais.
Já o IMGA Alocação Dinâmica revela uma preferência clara por ETF no seu top 10, com foco geográfico predominante na Europa e nos EUA. Por sua vez, o Montepio Multi Gestão Dinâmico apresenta uma alocação diversificada, mas com um foco significativo em ações europeias.
A preferência por instrumentos passivos também se verifica no Top 10 do Optimize Selecção Agressiva, ainda que com uma inclinação para mercados emergentes específicos, como Polónia, México e Índia. Já nos fundos do grupo Santander, tanto o Private Dinâmico como o Select Dinâmico apresentam um top 10 de posições fortemente concentrado em ETF do S&P 500 e da Europa, refletindo uma exposição tradicional e direcional a mercados desenvolvidos.

O Smart Invest Dinâmico conjuga, nas suas 10 principais posições, exposição a índices europeus e norte-americanos com obrigações globais, incluindo dívida de mercados emergentes, evidenciando um perfil mais diversificado em termos de classes de ativos.
Por fim, o White Fleet III – Haitong Aggressive Fund apresenta um Top 10 com elevada concentração em ações europeias, sobretudo via ETF setoriais de imobiliário, tecnologia e consumo, mantendo ainda uma exposição relevante à China, em linha com a origem da entidade gestora.
Mapa de Estilo
De acordo com os dados mais recentes disponíveis para cada fundo, observa-se uma tendência consensual entre estes produtos quanto à alocação em empresas de dimensão grande e muito grande, com preferência pelo estilo de investimento core. Neste contexto, destaca-se o Bankinter Mega TT PPR, que, embora inserido no mesmo universo, é o que mais se aproxima de uma exposição a empresas de média capitalização e a um estilo core-growth. Por outro lado, o GNB Dinâmico e o Santander Private Dinâmico são os que mais privilegiam o investimento em empresas gigantes.
Sustentabilidade

Seis dos onze fundos estão enquadrados no Artigo 8º do SFDR, sinalizando integração de critérios ESG, sobretudo via exclusões, integração de riscos ou mínimos sustentáveis. Apenas o BPI Impacto Clima - Agressivo assume um enquadramento de Artigo 9º, focado em vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como o 13, 12 e 7.
O Morningstar ESG Risk Rating, baseado no risco corporativo e soberano, posiciona a maioria dos fundos entre risco médio e alto. Destacam-se positivamente o BPI Impacto Clima - Agressivo, GNB Dinâmico e Haitong Aggressive Fund, menos expostos a ativos com elevado risco ESG, segundo a Sustainalytics.
Por fim, e de uma outra perspetiva, apenas três fundos - Bankinter Mega TT PPR, BPI Impacto Clima - Agressivo e GNB Dinâmico - têm a designação de baixo carbono. Esta classificação é atribuída a carteiras com baixo risco de carbono e baixos níveis de exposição a combustíveis fósseis. Isso mostra que a redução direta do risco climático ainda não é uma prioridade transversal, o que pode ser crítico para investidores focados em transição energética e descarbonização.