Insights da Amundi para 2024: da geopolítica às convicções de investimento

Marta Marín. Amundi
Marta Marín. Créditos: cedida (Amundi)

A gestora Amundi celebrou, no passado dia 25 de janeiro, uma nova edição da Noite Amundi, o seu fórum anual de investimentos, um encontro com clientes para partilhar visões e abordar os objetivos e as oportunidades para 2024. No seu discurso de boas-vindas, Marta Marín, CEO da Amundi Iberia, destacou três prioridades estratégicas da empresa, respondendo aos principais desafios da indústria.

Em primeiro lugar, a proximidade com o cliente no desenvolvimento de soluções rentáveis e de serviços adaptados, colocando à sua disposição todos os recursos da empresa e destacando o conhecimento e a análise económica do Amundi Investment Institute. Em segundo lugar, o compromisso com o investimento responsável no interesse dos clientes e da sociedade, financiando a transição energética e apoiando os objetivos net zero com o desenvolvimento, entre outros, da gama Net Zero Ambition nas principais classes de ativos. Por último, o posicionamento como agente tecnológico com a Amundi Technology, a linha de negócio que oferece soluções a investidores institucionais (ALTO PMS e ALTO Sustainability) e a bancas privadas e distribuidores (ALTO Wealth).

Visão geopolítica

Na primeira mesa, Anna Rosenberg, diretora de Geopolítica do Amundi Investment Institute, abordou o reposicionamento geopolítico a que estamos a assistir; de um mundo bipolar em torno dos EUA e da China para uma realidade mais complexa, em que vários países se abstêm de tomar partido, utilizando a sua posição para negociar melhores condições com ambos. Isto leva-nos para um cenário global com maiores tensões, maior protecionismo e guerras económicas, enquanto a influência dos EUA e da Europa diminui.

Rosenberg também analisou a importância das eleições em 2024, em que mais de 4.000 milhões de pessoas estão convocadas para as urnas nos EUA, em Taiwan, no Reino Unido, na Indonésia, no México e na Índia, entre outros. Sobre as eleições nos EUA, Rosenberg declarou que serão as mais importantes do ano, embora as suas implicações não se venham a fazer sentir, provavelmente, até 2025. Enquanto uma vitória de Biden implicará continuidade, uma vitória de Trump trará consigo mudanças relevantes a nível comercial, especialmente com a China, e a nível de defesa.

Conflitos internacionais: possíveis cenários

Por último, a especialista analisou os possíveis cenários dos principais conflitos internacionais. Relativamente a Israel e ao Hamas, prevê que se mantenha uma crise limitada em Gaza e na Cisjordânia, sendo o maior risco de escalada uma possível intervenção do Irão e dos EUA. Sobre a Ucrânia, a incerteza centra-se nos possíveis efeitos de uma vitória de Trump nos EUA a nível de defesa e sobre o financiamento da Ucrânia.

Neste cenário, considera que há três tipos de países que poderão ver-se favorecidos pelo reposicionamento político. Por um lado, países que poderão ganhar influência política, como a Índia, Turquia ou o Brasil. Por outro, países que vão beneficiar das tendências de diversificação (relativamente ao gás russo, como os EUA, o Qatar ou a Angola; das terras raras - matérias-primas -, como a América Latina; e da diversificação das cadeias de abastecimento, afastando-se da China e de Taiwan, como o Vietname, a Malásia, Indonésia, Marrocos ou o México). O terceiro grupo serão os países que estão a negociar novos acordos de defesa e investimento com os EUA, como as Filipinas.

Convicções de investimento para 2024

De seguida, Víctor de la Morena, CAIA, diretor de Investimentos da Amundi Iberia, partilhou as convicções de investimento da Amundi para 2024. A nível de crescimento, a gestora prevê uma desaceleração do crescimento global para taxas à volta dos 2,4% face aos 3,1% de 2024, mais notável em países desenvolvidos do que emergentes, com o notável abrandamento da China, que não consegue recuperar as taxas pré-COVID, fundamentalmente pela falta de dinamismo da sua procura interna e pela crise do mercado imobiliário.

Neste contexto, espera-se que, nos próximos anos, o crescimento chinês se situe em níveis de 3%-4%, deixando protagonismo para países como o México, Brasil, a Índia ou Indonésia. No mundo desenvolvido, a Amundi prevê um crescimento anémico abaixo de 1%, tanto na Europa como nos EUA. Este último demonstrou, no final do ano, uma força inesperada, que levou a uma grande revisão das estimativas, mantendo, no entanto, as expetativas de uma leve recessão no primeiro semestre do ano para retomar o crescimento no segundo semestre. 

Perspetivas sobre a inflação

Quanto à inflação, prevê-se que, tanto nos EUA como na Europa, seja alcançado o objetivo de 2% no final do ano, embora possa haver aumentos pontuais. Esta progressiva desaceleração dos preços vai permitir aos bancos centrais alterar as suas políticas de taxas a favor do crescimento e começar um ciclo de descidas por volta de maio-junho; ainda assim, as taxas poderão manter-se altas durante mais tempo se as economias continuarem a mostrar força, especialmente a americana. Nas carteiras, este contexto vai exigir um posicionamento muito ágil e dinâmico em 2024.

Assim, no começo do ano, a Amundi mostra cautela nos ativos de risco, subponderando as ações e o crédito de baixa qualidade, e mostra-se mais positiva em dívida pública, tanto em crédito como ações de qualidade não cíclicas e value. “À medida que, ao longo do ano, a inflação vá confirmando a sua desaceleração e os bancos centrais comecem a baixar as taxas de juro, poder-se-á acrescentar risco às carteiras de ações e reduzir a duração. Em ações, vai ser o momento de passar de empresas defensivas para empresas cíclicas, de grandes empresas para empresas de menor tamanho, dos EUA para a Europa e emergentes, e considerar o estilo growth e a high yield de forma seletiva”, resumem.

Mesa de obrigações

De seguida, Cristina Carvalho, diretora de Negócio Institucional da Amundi Iberia, moderou a mesa de Obrigações, na qual participaram Jonathan M. Duensing, diretor de Obrigações Americanas da Amundi US, e Ray Jian, diretor de Obrigações Emergentes, que analisaram o protagonismo das obrigações nas carteiras em 2024, sendo seletivos, dinâmicos e dando foco à qualidade.

Sobre as previsões da Fed num contexto de menor inflação, Duensing destacou que, historicamente, a Fed não manteve a taxa dos fundos federais em níveis máximos durante muito tempo, podendo começar a baixá-las no segundo trimestre do ano. Na procura de oportunidades, destaca a importância de serem seletivos e dar foco à qualidade e às valorizações, procurando oportunidades com retornos atrativos ajustados ao risco, como empresas financeiras em crédito investment grade e crédito titularizado.

Por sua vez, Jian indicou que se prevê que o spread de crescimento de emergentes face aos desenvolvimentos se situe, em 2024, em níveis máximos a cinco anos. Relembrou que a dívida dos mercados emergentes costuma apresentar oportunidades atrativas no final dos ciclos de ajuste da Fed, e destacou a América Latina, onde as taxas de juro reais alcançaram máximos de uma década sem a disposição dos seus bancos centrais para baixar taxas antes da Fed, favorecendo o carry e a duração. Os principais riscos a estar atento são maioritariamente geopolíticos, particularmente a crise do Médio Oriente.

Visão das ações

Na mesa de Ações participaram Fabio Di Giasante, diretor de Ações Europeias, e Julien Albertini, gestor do First Eagle Amundi International Fund, moderados por Blanca Comín, diretora de Wealth e Banca Privada da Amundi Iberia.

Fabio Di Giasante assinalou a importância de serem ativos e seletivos, dando foco à análise fundamental, às valorizações e ao timing, passados os anos do Quantitative Easing. Acrescentou que o mercado reage cada vez mais rapidamente, o que torna necessário ser-se dinâmico e ágil no momento de construir carteiras equilibradas, focando-se não só nas oportunidades, mas também na cobertura de riscos. Destacou o atrativo da Europa do ponto de vista da valorização em comparação com os EUA, especialmente as empresas europeias em que mais de 50% das receitas são globais. A nível setorial, destacou a transição energética, a Inteligência Artificial, as infraestruturas e os setores defensivos, como o farmacêutico e a medtech, ou determinados bancos globais a nível mais tático.

Julien Albertini relembrou que o futuro é incerto e, assim, dão foco à margem de segurança - a diferença entre o preço e o valor - em vez de fazerem previsões macroeconómicas. Atualmente, veem pouca margem de segurança nos EUA, e, dado o risco geopolítico, os investidores poderão experienciar algumas deceções. A equipa do First Eagle procura construir carteiras resilientes com negócios de qualidade, difíceis de replicar, com vantagens competitivas e a preços razoáveis. Neste sentido, destacou o atual potencial do setor imobiliário, especialmente o imobiliário comercial com o ativo certo, na localização certa e ao preço adequado.

Ideias de investimento

O evento continuou com a apresentação de algumas ideias de investimento apresentadas por Julia Salazar, sales manager especialista em ESG na Amundi Iberia, como o Amundi Funds Pioneer Strategic Income, uma estratégia de obrigações multisetor ativa e diversificada, gerida por uma equipa experiente liderada por Jonathan Duensing, e o First Eagle Amundi Sustainable Value Fund, que replica a estratégia do conhecido First Eagle Amundi International Fund com uma abordagem ESG.

Juan San Pío, diretor comercial da Amundi ETF, Indexing & Smart Beta para a Península Ibérica e América Latina, analisou a posição da Amundi ETF como fornecedora na Europa, com mais de 300 ETF e 200.000 milhões de euros sob gestão no final de 2023.

Para concluir, Thierry Ancona, diretor da Divisão de Distribuição, membro do Comité Executivo da Amundi e presidente do Conselho de Administração da Amundi Iberia, destacou a proximidade da empresa com os clientes da Península Ibérica como aliados de crescimento e desenvolvimento conjunto. Também destacou a resiliência da Amundi, graças a um modelo de negócio diversificado, e a sua capacidade para satisfazer as necessidades dos clientes. A gestora gere dois biliões de euros em 35 países com mais de 1.000 clientes institucionais, 600 distribuidores e 100 milhões de clientes particulares, a quem oferece soluções de investimento e serviços cada vez mais personalizados.