Fundos emergentes: gestoras nacionais definem alocações para atuais preços do petróleo

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anekphoto, Flickr, Creative Commons

É na ‘equação’ entre países importadores e exportadores de petróleo que se pode dizer que residem os grandes benefícios ou, pelo contrário, as desvantagens provenientes da queda dos preços do petróleo. A atual situação é resumida à Funds People pela BPI Gestão de Activos: “A revolução shale na América do Norte trouxe para o mercado uma abundância de ‘ouro negro’ que, perante uma economia global em desaceleração e um cartel aparentemente inflexível, provocou um desequilíbrio no mercado energético e a consequente queda abrupta do preço do petróleo irá, logicamente, ter repercussões distintas nas economias emergentes”.

Estando precisamente as economias emergentes no epicentro deste contexto, importa esclarecer o posicionamento que as gestoras nacionais adoptaram em relação aos fundos de mercados emergentes (ME) que têm a seu cargo.

Ganhar e perder: no prato da balança

Para Ricardo Santos, gestor responsável pelos fundos de mercados emergentes da GNB Gestão de Activos (NB Mercados Emergentes e NB Emerging Markets), a queda do preço do petróleo é um auxílio precioso junto dos ME para “reequilibrar a situação externa das economias, reformar as políticas de subsidiação dos combustíveis que penalizavam os défices públicos ou desinflacionar economias que sofriam deste problema crónico”. Entende, por isso, que a Ásia é a região que mais beneficia deste fenómeno, mas também países como a Turquia ou África do Sul, “ganham neste contexto do preço de petróleo baixo”. Já da BPI Gestão de Activos, que conta com quatro fundos que investem em mercados emergentes (BPI África, BPI Ásia, BPI Brasil e BPI Brasil Valor), salientam que os resultados negativos da queda dos preços do petróleo se fazem sentir “em economias pouco diversificadas, altamente dependentes da exportação do petróleo, e com uma elevada estrutura de custos”, como por exemplo a Venezuela, a Rússia ou a Nigéria.

Um “+” na Índia

Da gestora do Grupo Novo Banco, acreditam que tendo em conta o atual cenário “a aposta na Índia ganhou preponderância na alocação neste ambiente”, porque “tem o enquadramento político, demográfico e, agora financeiro para atrair os investidores”, diz Ricardo Santos, que entende que “a queda do preço do petróleo é só um apelativo extra para validar as perspetivas muito favoráveis da economia indiana a médio prazo”. Outra das apostas da gestora concretiza-se no México, por duas razões. Fala das reformas estruturais  da economia e da forte ligação da economia aos EUA.  

Sobreponderar economias importadoras

No caso da Millennium Gestão de Activos, casa responsável pelo fundo Millennium Mercados Emergentes, indicam que o produto “está a sobreponderar a exposição às principais economias importadoras de petróleo, nomeadamente Índia, Turquia, Filipinas e Indonésia”, porque “estes países irão beneficiar desta tendência de descida do preço do petróleo por via da melhoria do balanço das suas contas correntes e saldos orçamentais”.

No que diz respeito ao fundo BPI África, a entidade ressalva que este acabou por “beneficiar da redução significativa da exposição à Nigéria”. Explicam que a economia nigeriana está atualmente numa posição bastante vulnerável “uma vez que o petróleo representa cerca de 80% das receitas do Governo”. Ainda assim, neste cenário, para a entidade, “pode representar um bom ponto de entrada para ações de empresas de qualidade, de sectores mais defensivos”, muito embora continuem reticentes em relação ao país.  Em termos sectoriais a aposta no continente africano vai para os sectores mais defensivos, como o consumo, healthcare ou telecomunicações, já que esperam “alguma volatilidade nos preços das commodities”.

‘Cautela’ com a Petrobras

Quando o assunto é Ásia, a gestora do BPI refere que o fundo BPI Ásia Pacífico mantém uma exposição direta ao sector da energia “relativamente baixa”, sendo no entanto expectável “um impacto positivo ao nível do sector industrial”. Recordam que no continente asiático “as principais economias são importadoras de petróleo” e, por isso, “a manutenção dos preços da matéria prima a níveis mais baixos poderá vir a beneficiar destas economias no médio/longo prazo”. Já relativamente aos fundos da casa que investem no Brasil, realçam o desconhecimento sobre “qual o real impacto da mudança do patamar dos preços do petróleo, mas estima-se que, no curto prazo tanto o país, como a Petrobras, possam ser beneficiados  pelos preços mais baixos. Sublinham no entanto que “o fundo BPI Brasil mantém um underweight significativo à Petrobras e o fundo BPI Brasil Valor não tem exposição à empresa”, porque consideram “os riscos bastantes elevados devido à incerteza associada à operação de corrupção de tráfico de influências conhecida como “Lava Jato” movida pela Polícia Federal Brasileira, e que tem a empresa como principal protagonista.

Também ao nível dos sectores há outras tendências a registar. Ricardo Santos, da GNB Gestão de Activos, numa lógica de binómio sector/país, refere que em 2015 no universo emergente se deve olhar para as telecomunicações no Brasil, para o sector financeiro e de infraestruturas no México, ao passo que na China a atenção deve estar virada para o consumo discricionário ou para outros sectores que beneficiem da agenda de reformas do país. Da Millennium Gestão de Activos, por seu lado, indicam uma sobreponderação aos sectores Consumer staples e Financeiras no fundo que tem como universo de investimento os ME. Da Montepio Gestão de Activos, gestora que também disponibiliza dois fundos que investem nos países em causa – o Montepio Multi Gestão Mercados Emergentes e o Montepio Mercados Emergentes - Ana Onofre, da entidade, salienta igualmente quatro sectores a “olhar” durante este ano: o sector financeiro, o das utilities, das telecomunicações e, por fim, a energia. Para a gestora é ainda imprescindível que alocação atual dos produtos tenha em conta factores importantes como “o potencial de crescimento económico das diversas áreas geográficas e emergentes, o impacto das descidas das commodities na sua globalidade e os riscos geopolíticos”.

(Leia na 8ª revista Funds People Portugal, brevemente em distribuição, o artigo assinado pela Montepio Gestão de Activos, relativo ao tema da queda dos preços do petróleo)