Javier Villegas (Franklin Templeton): “A integração da Legg Mason situou-nos numa posição privilegiada”

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Créditos: Cedida (Franklin Templeton)

Passaram seis meses desde que se formalizou a compra da Legg Mason pela Franklin Templeton. Pela sua envergadura, estamos a falar da operação corporativa mais importante realizada na indústria da gestão de ativos em 2020. O seu resultado foi o surgimento da sexta maior gestora do mundo por ativos, com um património de aproximadamente 1,5 biliões de dólares. Segundo Javier Villegas, para realizar com sucesso uma operação deste tipo, existem três palavras-chave: pragmatismo, pessoas e cultura.

“Todos os processos de integração são complicados, mas se avaliarmos como se levou a cabo, podemos observar claramente o quão positivo foi. Partimos de duas entidades com culturas semelhantes e a tomada de decisões foi muito pragmática. Baseou-se em colocar o cliente no centro de tudo. Isto é, priorizar o que será melhor para o cliente do ponto de vista de proximidade e serviço”, explica o diretor-geral da Franklin Templeton para a Península Ibérica na primeira entrevista que concede após a integração de ambas as empresas.

Villegas destaca a capacidade de adaptação da equipa e a sua boa predisposição à mudança. Este foi o ponto-chave para manter o serviço já que, atualmente, metade das captações registadas pela Franklin Templeton desde a integração provêm de fundos procedentes da Legg Mason.

Oferecer o melhor dos dois mundos

“Para que exista uma boa compenetração é importante que a cultura e os valores sejam muito parecidos. As duas empresas tomam decisões a longo prazo com o objetivo de melhorar a vida dos clientes. E os resultados já são palpáveis. Agora, pode oferecer aos seus clientes uma gama muito mais rica e variada através de um modelo multiboutique. Para isso é muito importante que as equipas de investimento se mantenham independentes. Dar autonomia e liberdade às equipas para trabalhar é fundamental para obter bons resultados. Tratamos de oferecer o melhor dos dois mundos: a força que proporciona o facto de ser uma grande casa e a especialização que fornecem as equipas de gestão”, sublinha.

A nível de recursos de gestão, o único que integraram são as equipas de soluções à medida. Isto permite-lhes aproveitar sinergias. “A escala e a infraestrutura é importante num contexto no qual há escassez de recursos. Contamos com 1.200 gestores e analistas divididos por todo o mundo. Isto num momento em que não se pode viajar e em conjunto com a nossa experiência de mais de 70 anos a gerir ativos, é fundamental. Um claro exemplo disso é a China. O facto de contar no terreno com uma equipa de gestão especializada permite que sejamos capazes de gerar rentabilidades superiores às dos índices de referência”, indica.

Perante o cliente, a empresa americana apostou em manter a sua estrutura global. “Somos a gestora com mais escritórios de representação a nível local. Prestamos serviço a 160 países, que representam 85% do PIB global, o que nos permite estar muito próximos dos nossos clientes”. No plano corporativo, a Franklin Templeton é uma gestora que atualmente, conta um balanço saudável. “A gestora dispõe de 5.500 milhões de dólares, que pode utilizar para realizar investimentos nas áreas onde vejamos oportunidades de crescimento. Tudo isso somado, situa-nos numa posição privilegiada”, afirma.

Complementaridade, conceito-chave

Nos primeiros seis meses após a integração com a Legg Mason, a Franklin Templeton dobrou as suas vendas na Península Ibérica face ao ano passado. Segundo Villegas, isto deveu-se à complementaridade. À nova entidade, as boutiques da Legg Mason permitiram reforçar a sua expertise em áreas muito concretas.

“A Western Asset, por exemplo, é uma gestora com 500.000 milhões em ativos sob gestão só em estratégias de obrigações. Foi um dos criadores do conceito unconstrained. Além dos fundos como o Western Asset Global Macro Opportunities, dispõe de produtos defensivos que costumam ter um bom encaixe nas carteiras dos investidores ibéricos, ao estar investidos em obrigações de alta qualidade creditícia e baixa duração, como o Western Asset Short Duration Blue Chip. A Brandywine, por sua vez, é uma especialista em gerir soluções de income com produtos como o Brandywine Income Optimiser”.

Quanto à Clearbridge, foi uma das pioneiras no momento de incorporar fatores ESG para investir em ações americanas. “Há mais de 30 anos que faz isto. Tudo isto é um complemento a todas as capacidades que a Franklin já tinha”.

Vantagens competitivas face aos concorrentes

Todas as capacidades a que se refere Villegas não abrangem apenas as já conhecidas estratégias de ações, obrigações e até mesmo de gestão alternativa que Franklin tem à sua disposição. Vão muito mais longe. E abordam diretamente tópicos que despertaram grande interesse, como tecnologia.

“Estar no coração de Silicon Valley é uma clara vantagem competitiva sobre os nossos concorrentes. Na Franklin contamos com uma incubadora e aceleradora de start-ups tecnológicas, o que nos permite estar imersos nessa mudança. Através dos nossos recursos, os nossos clientes podem ter uma pequena parte investida nesse tipo de empresas não cotadas com futuro promissor”, enfatiza.

Visão da indústria

A indústria de fundos de investimento é uma das líderes no mundo financeiro, devido ao crescimento que teve nos últimos anos. “O investidor procura alternativas a manter o seu dinheiro parado no banco e encontrou no fundo um veículo que lhe dá segurança jurídica, liquidez e acesso a todos os mercados”, destaca.

Mas também pela inovação. “As entidades têm sido obrigadas a inovar para oferecer melhores resultados a clientes cada vez mais exigentes. No nosso caso, há o investimento em inteligência artificial, que permite que equipas de gestão tenham informações em tempo real sobre o que está a acontecer no mundo e aproveitem as oportunidades”.

Procura do cliente ibérico

Uma das grandes exigências dos clientes ibéricos do lado da ESG. “2021 é o ano do investimento socialmente responsável na Península Ibérica. Não é apenas impulsionado pela regulamentação, mas também pela procura do cliente. Neste sentido, nomeámos recentemente Terrence Murphy como responsável global de todos os nossos fundos de ações. A sua missão será garantir que todas as estratégias tenham processos ESG totalmente integrados e garantir conformidade”.

Villegas também aprecia o claro interesse dos seus clientes em produtos de gestão alternativa. “Há uma migração dos fluxos de obrigações para outras classes de ativos. As obrigações tiveram um bom desempenho, mas agora oferecem retornos muito baixos. E tudo indica que isto vai ficar assim por um tempo. Isto leva o cliente a procurar soluções alternativas de gestão, tanto líquidas quanto ilíquidas, principalmente em infraestrutura, imóveis e dívida privada. Graças à escala da Franklin Templeton, que gere 130 biliões de dólares em alternativos, podemos oferecer soluções personalizadas”.

Porém, o que é importante no ambiente atual, de acordo com o diretor-geral da Franklin Templeton para a Península Ibérica, é que o investidor tenha um portfólio bem diversificado que lhe permite reduzir riscos ao mesmo tempo que aproveita as principais tendências que se estão a verificar no mundo. “Para isso, são essenciais duas coisas: ter uma boa assessoria e pensar a longo prazo, com horizonte de investimento mínimo de cinco anos”, finaliza.