Luís Nascimento (BBVA): “Os mercados de private equity e real estate aportam valor na gestão de alguns veículos de longo prazo”

Luis Nascimento BBVA
Luís Nascimento. Créditos: Vítor Duarte

O diretor de Banca de Retalho da BBVA em Portugal, Luís Nascimento, em entrevista à FundsPeople, aborda como têm vindo a diversificar os portefólios tradicionais de modo a gerar alfa, que classes preferem como alternativa de diversificação e a ainda a questão do ESG.

Como vê o atual contexto de taxas de juro e de mercado impactar o potencial de diversificação dos portefólios tradicionais?

Desde os finais dos anos 90 que a construção da nossa carteira estratégica de asset allocation já inclui os investimentos alternativos. Sempre os vimos como fonte geradora de alfa e de descorrelação com os ativos tradicionais de taxas de juro e do mercado acionista. No entanto, nos últimos anos com o esmagamento dos retornos nos ativos de taxa de juro, temos procurado alternativas de investimento que nos permitam gerar retornos acima dos mercados de crédito, mas com níveis similares de volatilidade. O desafio que temos atualmente reside em procurar alternativas de investimento credíveis de baixa volatilidade, porque na componente de maior volatilidade as opções são múltiplas e a sua adoção conjunta permite-nos reduzir os riscos agregados dos portefólios.

Sentem a necessidade ou o apelo dos clientes ao investimento em classes de ativos menos líquidas em busca de retorno?

Há que ter algum cuidado em não abdicar da liquidez a qualquer preço, porque a menor liquidez não é necessariamente sinal de maiores retornos e muitas vezes é apenas uma ilusão de menor volatilidade. O facto de não existir mark to market das posições em altivos ilíquidos, não significa que estamos a incorrer em menores riscos. Nem todos os portefólios são elegíveis para se investir em ativos ilíquidos, mas sobretudo nos fundos de pensões gostamos de analisar em detalhe operações de private equity, private debt e de real estate.

Que classes surgem como alternativas de diversificação? Que valor aportam essas classes?

Os mercados de private equity e real estate aportam valor na gestão de alguns veículos mais focados para a gestão de longo prazo, como é o caso dos fundos de pensões. No entanto, há que referir que tanto nas estratégias simples de fundos long/short equity como o investimento em fundos de gestão ativa, mas com exposição longa aos mercados acionistas, para além de se aportar bastante valor a um portefólio multiativo, detêm, frequentemente, liquidez diária e grande transparência. No caso dos fundos long/short em equities, dadas as grandes dispersões de retornos setoriais nos índices, conseguem-se obter retornos atrativos com liquidez e com níveis muitos baixos de volatilidade. Complementarmente, nos fundos longos de ações, atualmente fazem-se investimentos em empresas cotadas, que detêm liquidez, transparência e valorizações mais atrativas, do que muitos fundos de private equities oferecem.

Como vê evoluir o tema da sustentabilidade e investimento com critérios ESG no vosso trabalho?

A sustentabilidade vai provocar uma disrupção na economia nos próximos anos, com alterações profundas nos modelos económicos e no tecido empresarial, criando grandes oportunidades na captura de valor.

A crescente consciencialização coletiva dos problemas ambientais e sociais como a desigualdade social e as alterações climáticas, marcarão os grandes desafios futuros que teremos de enfrentar enquanto sociedade, empresas e governos.  

Estas alterações vão fomentar a inovação e o desenvolvimento tecnológico, o aparecimento de novos negócios e empresas, a reconfiguração e o desaparecimento de outros. Será necessário mobilizar recursos financeiros muito ambiciosos nos próximos anos para financiar todos estes projetos sendo o sector financeiro e os mercados financeiros agentes essenciais para apoiarem a concretização desta mudança.

A evolução da regulação em matéria de sustentabilidade, riscos e métricas, assim como da taxonomia dos produtos financeiros vai criar maior transparência e confiança nestes investimentos e aumentar os ritmos de crescimento que temos vindo a verificar nos últimos anos.

O grupo BBVA foi pioneiro a integrar as matérias de sustentabilidade na sua estratégia de negócio e no seu portefólio de produtos, encontrando-se numa posição preferencial para apoiar os seus clientes na transição e captura das grandes oportunidades que vão surgir com estas transformações. De referir que ainda muito recentemente foi considerado o banco mais sustentável do mundo pelo índice Dow Jones de Sustentabilidade.

Desde Portugal trabalhamos com muita proximidade com a nossa área de investimentos, o que nos permite estar sempre muito atualizados sobre as dinâmicas dos mercados, as novas tendências e a relevância da sustentabilidade nos investimentos. Não é por acaso, que a nossa oferta de fundos de pensões é pioneira no investimento socialmente responsável em Portugal. Nesse sentido, vemos a questão da sustentabilidade como uma enorme oportunidade de mitigar os riscos de investimento e de gerar retorno adicional, permitindo-nos oferecer cada vez melhores soluções de investimento aos nossos clientes.

Contribuir para a construção de um mundo mais sustentável e menos desigual, associado à obtenção de retornos diferenciais para os nossos clientes, é uma missão que assumimos com grande entusiasmo e compromisso.