Mariano Arenillas de Chaves é o novo responsável da Deutsche AM para a Península Ibérica, desde há cerca de cinco meses. É um profissional da casa, uma vez que desenvolveu a sua carreira profissional na sede espanhola desde 2006. “Passei de olhar para apenas uma componente muito específica, como as vendas, para olhar para um panorama mais amplo da empresa. Não é uma mudança disruptiva, é um passo natural”, afirma. Esta é, na verdade, a sua primeira entrevista desde que assumiu este cargo.
A promoção de Arenillas surgiu num momento delicado para o grupo Deutsche Bank, devido às dúvidas existentes relativamente à sua solvência e pela multa imposta pelos Estados Unidos. “A atividade da gestora em Ibéria tem sido bastante robusta e resistente porque se percebe que os ativos que gere estão fora do balanço do grupo”, recorda Arenillas. Admite que, embora se tenha sentido uma certa preocupação por parte do cliente de retalho, “os problemas foram resolvidos graças às mensagens que o grupo transmitiu de liquidez e capacidade de gerar negócio de forma sustentável”. “Recuperámos a velocidade cruzeiro que hoje temos, e que é a continuação do ano de 2015”, afirmou.
O ano passado terminou com resgates para a entidade. “Em 2016 tivemos saídas de dinheiro, mas não ficámos muito surpreendidos. Tivemos um 2015 francamente fabuloso, no qual incorporámos 4.000 milhões de gestão de ativos em Espanha”, aponta Arenillas. O catalisador dos resgates foi a forte correção no início de 2016, durante o qual venderam “aqueles clientes que não estavam corretamente posicionados nos nossos fundos, porque tinham um perfil de risco inferior”.
Este ano tem sido mais benéfico, com entradas de dinheiro bastante importantes. Os multiativos flexíveis e fundos de ações europeus e alemães despertaram o interesse dos investidores. “Ainda assim, observamos que as obrigações continuam a atrair o interesse dos investidores, especialmente aquelas com a duration mais curta”, declarou.
Arenillas herdou do seu antecessor no cargo, Luis Ojeda, uma entidade que segundo dados da Invesco se encontra no terceiro lugar por volume de ativos em Espanha, com 8 377 milhões de euros. Este valor refere-se exclusivamente aos fundos e ETF da gestora internacional; excluindo a gestora local, as sicavs e os mandatos, que juntos perfazem outros 14 100 milhões de euros, aproximadamente.
O objetivo do escritório ibérico da Deutsche AM é aumentar a sua quota de mercado e manter-se no top 5 das gestoras internacionais. “Pode parecer um pouco ambicioso, mas queremos inserir-nos cada vez mais nas redes dos nossos distribuidores, para que nos deixem de ver simplesmente como fornecedores e nos incorporem nos seus modelos como um input adicional na hora de procurar soluções em Portugal e Espanha”, explica. Arenillas acrescenta que, perante a tendência de crescimento via aquisições de outros concorrentes, a aposta da Deutsch AM está centrada no “crescimento orgânico e ordenado, com uma evolução bastante clara”.
A partir do escritório ibérico, destaca a estabilidade da equipa atual: “trabalhamos há muitos anos juntos. O cliente entende isso como algo de positivo, porque é bastante valorizado o facto de ver sempre o mesmo interlocutor, com o qual tem confiança e que conhece as suas necessidades”.
O especialista assinala os elementos diferenciadores relativamente à concorrência: a implementação regulatória e o ADN europeu. “De facto, alguns temas introduzidos pela nova regulação já estavam a ser aplicados pela gestora há uns anos para cá”, comenta relativamente ao primeiro elemento. Quanto ao segundo, afirma: “esse perfil europeu que temos em comparação com outras instituições faz de nós um interlocutor mais válido para o investidor ibérico. Desde os nossos gestores, que pensam em euros, passando por nós, que pensamos na regulação comum, dá-nos vantagem na Alemanha para que possamos ter soluções que operem em toda a zona euro, o que é muito positivo.
Objeções à regulamentação
O grande desafio da indústria, na perspetiva do especialista, é precisamente essa adaptação regulatória. Arenillas considera positivo que “existam novas regulamentações que protejam o investidor final”, mas com uma objeção: “precisamos de um maior e mais concreto período de adaptação do que aquele que hoje temos”.
O especialista aproveita para criticar a ênfase dada aos custos, colocadas pela nova regulamentação: “a abordagem relacionada exclusivamente com o preço que se dá atualmente nos investimentos, não é o adequado. A abordagem adequada advém da rentabilidade obtida pelo investidor final e pela gestão do risco. Neste momento, apenas o preço está a ser tido em conta, quando, na minha perspetiva, o mais importante será olhar para o comportamento integral desse produto, não apenas por si próprio, mas também incluído na minha carteira”. “Posso concordar que existam certos produtos que se considerem de gestão ativa cujo tracking error é bastante baixo, o que faz com que não exista uma gestão ativa real. Mas daí a demonizar que a gestão ativa não funciona, é demasiado simplista”, afirma.
“Nos campos onde a gestão ativa é capaz de fornecer algum valor que não tenha que ser, exclusivamente, rentabilidade, o investidor deverá estar predisposto a pagar. Nos ativos nos quais aquilo que o investidor quer é a réplica pura, o ETF é uma solução perfeita”, diz o especialista relativamente a esta polémica. Recorda, ainda, que nem todos os investidores têm as mesmas necessidades: “private equity, gestão imobiliária, gestão de infraestruturas… estes são ativos mais caros, e, portanto, não têm qualquer lugar no mercado. Há que dar, a cada cliente, o produto certo”.
Exigências e propostas
A entidade observou que a maior preocupação atual do cliente é o perfil de rentabilidade/risco dos produtos em que investe. O responsável acredita que a gestora tem vantagem graças a uma gama que se adapta ao ambiente de taxas baixas e de falta de rentabilidade das obrigações. A origem alemã desempenha um papel importante: “a situação de baixas taxas que começámos a perceber que existia na periferia em 2014/2015, já se vivia na Alemanha desde 2012, onde o bund estava mais baixo por ser um ativo de refúgio. Desta feita, a procura por um produto com algo mais do que rentabilidade do que o ativo livre de risco já se encontrava em produção na Alemanha”. A instituição efetuou uma série de lançamentos dirigidos ao cliente alemão. “Esta gama de produto foi aquela que nos permitiu a entrada de investidores em Espanha, e são produtos que já têm um importante track record”, resumiu.
Nesta perspetiva, foi detetada uma maior procura por dívida híbrida, high yield europeia e obrigações flutuantes. Para Arenillas, esta tendência de procurar pelos compartimentos menos convencionais de obrigações irá continuar. “Não é só porque o ativo livre de risco já não ofereça rentabilidade, mas sim porque, dentro de um perfil de risco conservador, a única maneira de obter rentabilidades positivas é combinando diferentes ativos e permitindo ao gestor ter algum grau de flexibilidade. Trata-se de pesquisar por carteiras mais diversificadas – que combinem ações, obrigações e divisas – e que possam obter retornos positivos em diferentes momentos do mercado, com uma volatilidade muito contida”.
Quanto ao futuro, o especialista explica que a estratégia a cinco anos continuará a centrar-se no desenvolvimento de produtos de gestão ativa, gestão passiva e gestão alternativa. Em gestão ativa, apostarão em “produtos com clara separação do benchmark e uma clara contribuição de valor”. Por sua vez, em gestão passiva, passará por um aumento da gama de ETF, que atualmente é superior a 300 produtos. Para Arenillas, a gestão alternativa desempenha, atualmente, um papel importantíssimo devido ao ambiente de baixas taxas; refere-se ao mercado imobiliário, de infraestruturas e de private equity. “A preponderância desta classe de ativos é mais alta em carteiras institucionais, mas o componente de gestão alternativa está, também, cada vez mais presente em carteiras mais pequenas ou menos sofisticadas”, destacou.
A última tendência tem sido a identificação de uma maior procura de informação por parte dos investidores. A resposta da Deutsche AM foi a Visão do CIO. Arenillas qualifica a elaboração e consequente difusão do documento em diferentes suportes digitais, que agrupa a visão macro e das classes de ativos de Stefan Kreuzkamp, diretor de investimentos, como uma grande “inovação, ao mesmo tempo que decorre uma evolução da empresa”.
A Visão do CIO é trimestral e é complementada com revisões mensais e quinzenais. A gestora está a desenvolver soluções automatizadas que se baseiam neste conhecimento que é gerado, mediante a elaboração de carteiras que são atualizadas automaticamente quando o CIO introduz alterações à sua visão. “Para nós é muito relevante, porque estamos convencidos que o millennial de hoje será o investidor de amanhã. Quanto mais cedo nos adaptarmos às necessidades dos millennials, mais próximos estaremos do sucesso no futuro. Isto é a sustentabilidade da empresa”, conclui.