Carlos Pinto, gestor sénior de Investimentos da Optimize IP, resume o ano de 2024 e apresenta o que espera de 2025 para as diferentes classes de ativos e quais serão as suas preferencias.
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COLABORAÇÃO de Carlos Pinto, gestor sénior de Investimentos da Optimize Investment Partners.
Numa altura em que a inflação nos EUA e Zona Euro já se encontra controlada e que a economia começa a contrair, 2024 foi o mote para o início do ciclo de cortes das taxas de juro por parte dos bancos centrais, prometendo ter continuidade ao longo do próximo ano. Ainda neste ano, mais de 50% da população mundial foi a votos, com natural destaque para as eleições americanas que culminaram com a vitória de D. Trump em toda a linha. Para além da eleição presidencial, o seu partido conquistou a maioria parlamentar nas duas câmaras. Não menos relevante, foram o desenrolar dos conflitos no Médio Oriente e na Ucrânia que prometem ter desenvolvimentos ao longo do próximo ano.
As generalidades dos ativos financeiros apresentaram performances positivas. No caso das ações, os desempenhos estão ainda muito concentrados nas mega caps. Nas obrigações, o carry foi o protagonista nos EUA, e a Europa partilhou o destaque com o corte das taxas, a refletir o início do ciclo de descidas das taxas de juro do BCE mais cedo que a Fed.
EUA
A nova administração americana vai iniciar o seu mandato reforçado para implementar grande parte das medidas do seu programa eleitoral, nomeadamente cortes de impostos e menor regulação sobre as empresas domésticas, deportações de migrantes ilegais e aumento de tarifas sobre os bens importados. Num primeiro impacto, estas medidas tendem a estimular a economia interna, mas ao mesmo tempo todas são inflacionistas o que deverá implicar um menor número de descidas das taxas de juro, permanecendo em patamares mais elevados por mais tempo. Donald Trump promete novas tarifas num claro sinal de querer rever os vários acordos comerciais, tendo como princípio basilar a defesa dos interesses americanos.
Neste ponto, antecipamos que o movimento dos últimos anos, de aproximar as cadeias de abastecimento para regiões próximas dos EUA, o nearshoring, poderá perder força, dando lugar ao reforço para o mercado interno, onshoring e também por novos acordos bilaterais/seletivos para países que possam proporcionar melhores contrapartidas em várias esferas, o denominado friendshoring. Ainda a ameaça de deportações em massa de migrantes ainda não legalizados tem como objetivo reduzir a mão de obra informal e devolver vários postos de trabalho à economia formal. Em relação à diminuição da carga regulatória sobre as empresas, pretende devolver os estímulos ao consumo e investimento interno.
Quanto ao elefante na sala, o aumento do défice dos atuais 36 biliões para os estimados 57 biliões de dólares para os próximos 10 anos, se adicionarmos o plano da candidatura republicana em agravar com mais 7.5 Biliões de dólares, praticamente que duplica o valor da dívida atual que já representa 123% do PIB. A emissão de moeda e dívida em massa, prometem ser uma preocupação crescente, se os estímulos criados não forem suficientes para estimular o crescimento do PIB.
Europa
A Europa está claramente a marcar passo, a crescer abaixo de 1%, sendo que o próximo ano promete ser ainda mais desafiante perante o expectável aumento de tarifas aduaneiras por parte dos EUA. Adicionalmente, as dois principais economias da zona euro enfrentam os seus ventos contrários. Em especial, o setor automóvel que está a sofrer de uma concorrência feroz dos fabricantes chineses, sobretudo os elétricos com preços mais acessíveis cujos concorrentes europeus não conseguem acompanhar, refletido pela quebra de vendas que está a levar ao fecho de muitas fábricas na Europa.
Em França, temos o risco da dívida a aumentar, estando já ao mesmo nível do risco da dívida grega devido à crise política, agravada após a destituição do primeiro-ministro M. Barnier por uma moção de censura parlamentar ter ditado a sua destituição, na tentativa de forçar a aprovação do orçamento para 2025, contra a vontade da maioria do parlamento. Na última reunião do ano, o BCE acabou por rever o crescimento do PIB deste ano novamente em baixa para 0.7% e para 2025 as estimativas também foram revistas na mesma direção para 1.1%.
Japão
O Japão está a assistir a uma recuperação na inflação e ao crescimento dos salários, não observável nas últimas três décadas, o que permitiu ao Banco do Japão reverter a política de taxas de juro negativas em março e tendo voltado a aumentá-las em julho, sendo aguardado que continuem a subir ao longo do próximo ano. Desta feita, aguardamos que a dinâmica de crescimento salarial, continue estimando-se aumentos médios entre 3% e 3.5% em 2025. Esta combinação de crescimento salarial e da inflação está a melhorar a confiança ao consumo interno e fortalecimento da atividade industrial traduzindo-se numa evolução favorável do PIB.
Espera-se que o CPI (Consumer Price Index), excluindo alimentos frescos e energia, aumente em média 2.1% em 2025 e 2.0% em 2026, números que estão alinhados com o objetivo do Banco do Japão. Estas previsões suportam as estimativas para aumentos da taxa de juro diretora em 0.5% ao longo do próximo ano, atingindo 0.75% no final de 2025 e uma taxa final de equilíbrio de 1.5% em 2027.
Mercados Emergentes
Na China, os dados económicos continuam a deteriorar-se, sobretudo a confiança ao consumo, resultando na quebra do investimento e no enfraquecimento dos dados do emprego, com especial incidência sobre a escalada do desemprego jovem. Para contrariar este congelamento económico, as autoridades chinesas implementaram uma bazuca de estímulos incidindo em várias esferas, nomeadamente na política monetária e fiscal, nos mercados de capitais e nos setores bancário e imobiliário.
Contudo, consideramos não serem ainda suficientes e deverão precisar de mais tempo para estimularem a procura interna, leia-se, não deverá ser visível antes de 2026. Para agravar ainda mais, a guerra comercial com os EUA deverá escalar, com a nova administração americana a colocar em cima da mesa tarifas de 60% sobre os bens chineses. Tudo somado, é estimado que o crescimento do PIB fique aquém dos 5% pretendidos pelas autoridades governativas, pelo que estimamos mesmo que termine os próximos anos abaixo deste patamar.
Por fim, é uma economia que já não cresce ao ritmo das últimas décadas. Trata-se de uma sociedade mais envelhecida, cuja população ativa tem diminuído, pelo que tem como desafio reequilibrar o seu modelo de crescimento mais virado para a economia interna.
Em sentido oposto, continuamos a reiterar a nossa preferência pela economia indiana, uma vez que se trata de uma economia menos protecionista, com uma procura doméstica em franco crescimento e uma população jovem. Se por um lado, pode ser afetada pelo aumento de tarifas americanas, por outro, até pode beneficiar da estratégia “China +1”. Estima-se que cresça 6.5%, muito alicerçada no forte investimento público a acompanhar a crescente urbanização, investimento estrangeiro e mão de obra rejuvenescida e instruída. A inflação deverá abrandar para os 4.5% nos próximos 2 anos, que sustenta as estimativas para o início de corte das taxas de juro de 0.75% durante o próximo ano para os 5.75%.
A Índia deve tornar-se a terceira maior economia global a partir de 2027, com o PIB nominal a crescer dos atuais 3.6 biliões de dólares para mais de 6 biliões dólares até 2030 impulsionada pela manufatura, comércio externo e digitalização.
Ações
Em termos genéricos a nossa preferência vai naturalmente para as empresas líderes, tanto globais como nos seus nichos, com balanços robustos e elevadas barreiras à entrada. Em termos geográficos, preferimos empresas com maior exposição a regiões de maior crescimento económico.
Nos EUA, damos preferência a empresas com elevada exposição ao mercado doméstico, indo desde as large caps às small caps principalmente às que mais beneficiem do movimento onshoring, e desregulação, remeto naturalmente para os setores industriais e financeiro. Um especial destaque para as small cap, que deverão sair beneficiadas de uma economia mais virada para o canal doméstico e que transacionam com valorizações mais atrativas.
Setorialmente, temos identificadas várias oportunidades no segmento tecnológico, nomeadamente nas que melhor capacitadas se encontram para investir e desenvolver modelos de inteligência artificial generativa. Neste segmento, temos preferência nas várias categorias da cadeia de valor dos semiconductores, tanto nas Fabless, Foundries, ou até mesmo nas integradas (IDMs), ainda nas empresas de cloud computing, e no e-commerce. Como consequência de uma economia mais digital, a procura por soluções de cibesegurança está a crescer expressivamente, sendo outro segmento que estamos sobreponderados.
No mercado emergente, reforçámos a nossa ponderação em ações indianas, uma economia em forte crescimento muito suportada pela sua inovação tecnológica, população jovem, investimento em infraestruturas e energia renovável.
Obrigações
Nas obrigações temos preferência pelo Investment Grade europeu e americano com uma duração média de 5 anos. Na Europa é expectável uma descida mais célere das taxas de juro em resposta ao abrandamento da economia na região, o que deverá proporcionar retornos positivos não só pelo efeito carry, como pelo efeito preço. Nos EUA, não esperamos que as taxas de juro abrandem ao mesmo ritmo da Europa, portanto vemos um potencial que deverá perdurar por mais anos suportado sobretudo pelo efeito carry. Portanto, entendemos que o downside pelo efeito risco de taxa de juro está muito limitado, assumindo que o risco de crédito vai passar a ser o mais relevante, daí aumentarmos a exposição das nossas carteiras a obrigações de maior duração e de maior qualidade de crédito, que por si só já vai permitir rentabilidades muito acima da inflação esperada.
Seletivamente, mantemos a nossa preferência dos últimos anos pela dívida de bancos e seguradoras cujos emitentes sejam qualificados como Investment Grade, sobretudo na componente subordinada, assim como em dívida de regiões de países emergentes que possam sair beneficiados de novos acordos comerciais bilaterais com os EUA, ou seja, beneficiando do movimento friendshoring.
Fundos destacados
Na componente de Obrigações menciono o fundo Optimize PPR Moderado. Com uma exposição muito limitada às ações (max:15%), está investido sobretudo em obrigações com abordagem global e um track record superior a 14 anos. É um fundo muito diversificado, que está maioritariamente investido em obrigações de empresas de Investment Grade. Transaciona aproximadamente com uma yield implícita de 5% e uma duração de 5 anos. Consideramos tratar-se de uma solução interessante para a componente conservadora das carteiras, tendo em conta a inflação esperada e as alternativas proporcionadas por produtos de poupança tradicionais.
Na componente de ações, destaco o Optimize PPR Agressivo, um fundo maioritariamente exposto às ações, que investe de forma global e que reflete o nosso posicionamento estratégico, aproximadamente 60% de exposição a ações americanas, 30% Europa e 10% emergentes. Consideramos uma solução pertinente para alocar a componente mais agressiva das carteiras, associada a uma maior volatilidade, proporciona uma rentabilidade esperada mais elevada.