No Chart of the Week desta semana, João Franco, Executive Director da Haitong Asset Management, fala-nos sobre o comportamento recente da Euribor e o eventual impacto na procura pelo crédito à habitação.
(O Chart of the Week desta semana é da autoria de João Franco, Executive Director da Haitong Asset Management)
“Euribor 12m desde Jan 2015”
Fonte: Bloomberg
A Euribor é uma taxa que se calcula com a média dos juros cobrados pelos bancos na Zona Euro. As maturidades mais usadas são os 3, 6 e 12 meses. É também conhecida por ser uma taxa de indexante ao Crédito à Habitação em Portugal. Como tal, a sua variação, deverá responder ao tradicional binómio procura/oferta em que esta sobe, se os bancos necessitarem de mais liquidez, ou desce, no caso oposto.
Podemos dividir o comportamento da Euribor em três fases distintas: 1) antes da crise financeira (< 2008), 2) pós crise (2008-2015) e 3) o período que se seguiu ao anúncio do QE (Quantitative Easing) por parte do BCE.
Na primeira fase esta taxa variava em função da essência da sua criação. Subia quando os bancos necessitavam de mais capital e descia quando estes necessitavam de menos. No fundo, evoluía em função das expectativas da refi rate (taxa de referência do BCE).
Após a crise financeira se instalar e, principalmente, após a queda da Lehman Brothers, entramos na segunda fase. Os bancos começaram a desconfiar uns dos outros e o mercado começou a ficar disruptivo. A necessidade de capital era grande mas nenhum banco queria emprestar. Estavam com medo que o mesmo que ocorreu ao banco americano pudesse ocorrer à sua contraparte. Nesta altura, os fixings da Euribor encontravam-se bastante acima da refi rate. Um dos remédios que o BCE encontrou para tentar solucionar esta crise financeira e de desconfiança foi o anúncio do programa QE, que consistiu na compra de ativos financeiros, aumentando a liquidez em circulação e subindo o preço dos mesmos. Vimos, por exemplo, quase todas as obrigações soberanas europeias a baterem máximos consecutivos e o preço dos ativos imobiliários disparar em quase toda a Europa. Desde essa altura, o excesso de liquidez é tão grande, que a Euribor passou a transacionar abaixo da refi rate e mais perto da taxa de depósito do BCE (atualmente em -0,4%).
Nos últimos meses, após a expectativa do BCE anunciar novos estímulos para ajudar à subida da inflação, aliado também aos esperados cortes na taxa de juro por parte do FED, houve novamente um movimento muito forte de queda nas Euribor. Por exemplo, o prazo de 12 meses atingiu o valor de -0,301% ao fecho de 30/07.
Devido ao Crédito à Habitação ter uma taxa indexada pela Euribor (e com esta em níveis mínimos) será que a procura de casas irá continuar, fazendo com que os preços das mesmas subam ainda mais? Acredito que sim, mas só o tempo o dirá…