Nas suas perspetivas para o 2.º semestre, Francisco Falcão, diretor geral da HawkClaw Capital Advisors, menciona que em termos acionistas as tendências seculares deverão prevalecer como base da carteira sendo sempre interessante transacionar algumas oportunidades mais cíclicas.
O primeiro trimestre de 2020 foi marcado pelo surto de COVID-19, que emergiu na região do Sudeste Asiático (China) tendo posteriormente alastrado a praticamente todos os pontos no globo. Esta emergência sanitária levou à implementação de medidas de confinamento e distanciamento social que provocaram uma disrupção de magnitude apocalíptica em termos económicos, um pouco por todo o mundo. Aos problemas relacionados com as cadeias de abastecimento juntaram-se a paralisação de várias indústrias e serviços, assim como o encerramento do comércio e as restrições à circulação.
O segundo e o terceiro trimestres deverão registar o principal impacto negativo. A queda do PIB ao nível global em 2020 será inevitável, com uma contração económica que deverá rondar os -4.0%. Os EUA deverão registar uma queda do produto de cerca de -4.8%, Europa -7.2%, Japão -5.2% e China -3.0%. O desemprego deverá manter-se em alta, a inflação controlada em baixa e a atividade industrial muito enfraquecida, sendo de esperar que se registe uma recuperação significativa em meados do segundo semestre. Este cenário de recuperação considera os efeitos positivos das medidas de alívio fiscal por parte dos Governos e de políticas monetárias de suporte por parte dos Bancos Centrais, assim como uma evolução favorável da pandemia no decorrer do processo de desconfinamento. A recuperação económica deverá ser em “U”, segundo as nossas considerações. Em termos geográficos, continuamos a privilegiar os EUA pela tipologia, magnitude e eficácia de implementação das medidas apresentadas, e ainda alguns países Asiáticos pela sua abordagem na gestão da crise pandémica.
Na Europa, o risco de implementação dos programas de apoio e a fragmentação ideológica desincentivam o nosso positivismo. Em termos setoriais, consideramos que a divergência deverá ser evidente durante a segunda metade de 2020, com technology, healthcare, consumer staples e utilities a apresentarem um outperformance face a materials, energy e alguns subsetores de consumer discretionary. No entanto, o mercado financeiro é um mecanismo de desconto de expetativas futuras, com a potencial manutenção da divergência entre wall street e main street. A volatilidade deverá continuar a sua tendência de normalização. O suporte dos bancos centrais através de inúmeros programas de apoio deverá manter os spreads de crédito e as yields governamentais em baixa, continuando a beneficiar os investidores da classe obrigacionista.
Em termos de dívida corporativa, consideramos que o valor reside na faixa de qualidade de crédito intermédia (BBB+/BBB-) com duration entre 5 a 7 anos para emissões em hard currency. A seletividade dos emitentes será essencial neste período dado que antevemos um aumento da taxa de incumprimento. O impacto da pandemia motivou que enfoque da análise de curto prazo se centrasse no acesso a liquidez e capital e na capacidade de refinanciamento por parte das empresas. Será agora também essencial entender a dinâmica da performance do negócio nos próximos 12 a 18 meses por forma a avaliar a evolução da qualidade de crédito.
Em termos acionistas, as tendências seculares deverão prevalecer como base da carteira sendo sempre interessante transacionar algumas oportunidades mais cíclicas que resultam de situações de momento económico (recuperação pós-COVID) ou temas geopolíticos (acordos de comércio, OPEC, eleições).
Na componente imobiliária, antevemos que a área de commercial real estate & offices seja negativamente afetada, havendo o risco de uma mudança de paradigma. Quanto a matérias-primas, continuamos a advogar a manutenção de uma componente de ouro nas carteiras, mas consideramos que o petróleo também se deverá manter em alta devido à reabertura das economias e manutenção do acordo OPEC+ (este play via equity). Alguns acontecimentos poderão, no entanto, alterar a nossa visão de mercado, nomeadamente, o ressurgimento da pandemia COVID-19 com implicações de novo confinamento geral, o desfecho das eleições Americanas e a agudização das tensões comerciais e políticas entre EUA e China.
Em termos de fundos de investimento, consideramos interessantes como temáticos o First Trust Nasdaq Cybersecurity ETF e o Pictet Water Fund, e ainda o Nuveen ESG Large-Cap Value ETF no contexto de sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança corporativa.
Por fim, gostaria de mencionar que o atual momento de mercado exige prudência, rigor e disciplina por parte dos investidores, sendo de extrema relevância a gestão de risco, com instrumentos e estratégias adequadas.